Nós entramos em casa como se nada tivesse acontecido após uma falta de diálogo desconcertante no carro ao som de Paramore. Joseph não disse nada após a minha frase, apenas ligou o carro e dirigiu rápido, o que me fez pensar, talvez — só um pouquinho —, que eu devia ter ficado calada. Até entender, ainda que parcialmente.
Na garagem, somente o carro de Joe — Giulia e Michael estavam, invariavelmente, fora. Na sala, ele segurou a minha mão como se estivéssemos caminhando num parque sob a luz do fim de tarde, atravessando toda a entrada da casa devagarzinho para me acompanhar mancando.
— Você está bem? — perguntou, sendo eternamente cuidadoso comigo.
Quer dizer, fora o meu coração acelerado, as palmas das mãos suadas — e ele, com certeza, está sentindo —, a boca seca e os pensamentos confusos? Claro.
— Sim, tudo bem. — Depois da minha resposta, ele abaixou o queixo, erguendo a minha mão degrau por degrau. Sempre precisava subir as escadas olhando para o chão, mas precisei olhar para ele para checar: — E com você, está tudo bem?
— Ótimo.
Antes que ele abrisse a porta do quarto, eu estava quase desmaiando em expectativas. Não sabia o que aconteceria dali em diante, ou o que ele pretendia fazer. Joseph era tão imprevisível quanto a ciência era, contrariamente, previsível; e eu não estava acostumada ou preparada para isso. Ele poderia muito bem me deitar na cama, me enrolar e dormir, como aconteceu nos últimos dias. Dias esses que foram infernais de viver, tendo que carregar uma carga emocional pesada e a tentação de acordar todos os dias com Joseph Quinn seminu abraçado em mim, e você sabe o que acontece com os homens de manhã.
Permaneci sem entender completamente por um bom tempo, enquanto ele me colocava para dentro do quarto, deixava a luz apagada e me acompanhava, passo a passo, até o banheiro. Ele sabia que eu obviamente seria incapaz de fazer sexo no banheiro com o pé machucado, então o que ele queria?
— O que nós vamos fazer? — Eu tive a coragem (ou deveria dizer audácia?) de perguntar.
Através do espelho, ele me observava ternamente, do rosto às curvas laterais do pescoço nu, tirando um sapato e depois o outro e usando os próprios pés para isso. Eu não sabia bem o que estava acontecendo, mas sabia que, o que quer que fosse, seria com todas as luzes do banheiro acesas. Eram luzes amareladas e baixas, confortáveis aos olhos, mas que mostrariam toda e qualquer imperfeição do meu corpo. Geralmente, eu estaria tremendo de preocupação diante disso, mas acabo por me surpreender ao notar que, com Joseph, eu simplesmente não me importo; porque ele me causa o sentimento real e assustador de que eu sou, de fato, bonita — sem precisar verbalizar isso o tempo inteiro, só pela forma visceral com a qual me observa. Eu amo seus olhos em mim porque eles me fazem amar o que ele vê, afinal, sei que ele gosta do que vê.
Saindo dos próprios sapatos, Joseph encosta atrás de mim. Assisto pelo espelho. Seus olhos não estão mais lá, e sim diretamente na minha pele, fixos na parte de trás do meu ombro. Ele passa a mão pela minha orelha, prendendo meus fios atrás e abaixando a cabeça para depositar um momentâneo único beijo na área inicial do úmero. Sua boca é o ponto de partida para o calafrio que balança no meu corpo inteiro como uma única onda forte no mar. Sua respiração quente me bate como um beijo na mesma área onde seus lábios estiveram segundos atrás, mas seus olhos vão à minha nuca e vejo seus dedos puxando o tecido escuro e de cetim fino que está segurando todo o meu vestido, amarrado no pescoço. O laço se desfaz sobre as minhas costas nuas e a peça inteira cai aos meus pés de uma só vez. Nós dois vemos o meu corpo quase que inteiramente nu na imagem do espelho, exceto pela calcinha de cor azul escura.
Eu sou aquele tipo de magra que tem os ossos das costelas marcando na pele. Isso foi uma grande insegurança por toda a minha adolescência, mas hoje eu simplesmente não ligo. Minha barriga é reta, não tenho quase nenhuma cintura, e o meu ílio é bem protuberante. Minha pele é clara, e por causa do sol que eu teimo em pegar, tenho sardas em toda a região da caixa torácica e da barriga. Estou pressionando meus dedos um contra o outro, nervosa, meio que esperando uma reação ruim ou consideravelmente mediana vinda de Joe, bem atrás de mim.
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meu nome (não) é Mary || joseph quinn
FanfictionMorar sozinha em Londres não é barato. Por isso, Jasmine Dawson precisa trabalhar por um salário em uma floricultura do Centro e ganhar uma grana extra em seus horários vagos, sendo namorada de aluguel para homens desesperados no app FDate. E nem as...