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Eu não sou prostituta, mas eu tinha 17 anos quando saí com alguém em troca de dinheiro pela primeira vez.

Calma, calma, não é isso que você tá pensando.

Pelo menos não sou uma prostituta no devido significado da palavra de acordo com o dicionário, que é "mulher que tem relações sexuais por dinheiro". Não é isso. Mas eu meio que me vendo em troca de algum dinheiro, sim. Hum... Você vai entender.

Eu era bem próxima de um cara durante o ensino médio. Ele era meio excluído, tendo em vista que focava bem nos estudos e não era muito de sair; logo, seguindo a lógica dos estudantes de ensino médio — que não é uma lógica inteligente —, é óbvio que ele sofria bullying. Isso, mais o fato do coitado ter muitas espinhas. Nós tínhamos acabado de ganhar bolsas de estudos para nossas respectivas universidades, e já que a minha era bem longe — para ser mais específica, em outro continente, já que na época eu ainda vivia nos Estados Unidos —, um dia antes do baile de formatura, ele me pediu para acompanhá-lo como seu par e fingir ser sua namorada. Bem, eu já tinha um par, mas simplesmente o dei um belo de um pé na bunda, é claro, porque esse rapaz me ofereceu cinquenta dólares. Eu nunca tinha tocado em uma nota de cinquenta dólares. Todo esse dinheiro — que era um mar para mim — só para segurar sua mão no pátio do colégio, dançar uma valsa e dá-lo um selinho em frente aos valentões. Ele se sentiu vingado, eu me senti... praticamente rica.

Bobeira. Eu sei.

De qualquer forma, o fato é que esse bobo acontecimento juvenil na minha adolescência maluca não significou nada, ao menos não para mim. Pode ter mudado a vida do cara. Não sei, nós não nos falamos mais. E eu genuinamente não achei que fosse refletir de alguma forma na minha vida adulta.

Errada. Eu estava errada pra caralho.

Quem imaginaria que hoje, com vinte e cinco anos, eu estaria trabalhando, de fato, com isso, através do FDate? Quer dizer, literalmente qualquer um que olhasse com um pouquinho mais de atenção para a Jasmine adolescente imaginaria. Eu era bem... hum, um caso à parte. Mas eu, a própria Jasmine em pessoa, não imaginei.

Conheci o FDate numa conversa de bar com antigos colegas de faculdade. Eles falaram do aplicativo zombando e abriu-se o debate de "quem toparia sair com uma garota desse app?". O debate que não se abriu foi: quem toparia ser uma dessas garotas? É. Abriu na minha cabeça, mesmo ouvindo os comentários preconceituosos dos caras da mesa. Quando cheguei em casa, devorei todo tipo de informação sobre o app através de uma alta tecnologia avançada e de ponta: o Google. Descobri que 1) muitas meninas sobreviviam com o dinheiro que recebiam dos encontros; 2) tinha regras, assim como o app Uber; 3) você mesma estabelecia o valor do seu encontro, muito embora tivesse, sim, um valor mínimo; e 4) os tipos de "pacotes" eram flexíveis e personalizáveis. Uma pequena porcentagem de cada pagamento — que só podia ser online, por segurança — era encaminhada para os donos do app, mas não era nada que incomodasse realmente.

Era e é particularmente incrível, porque embora eu trabalhasse num emprego convencional, como funcionária de uma floricultura do centro de Londres — onde me formei e fiquei —, e recebesse ajuda financeira dos meus solícitos familiares, ainda tinha uma puta dívida estudantil. Ainda tenho. Digamos que eu tenha me formado e não tenha conseguido pagar o restante do financiamento porque não consegui um emprego na área na qual me formei: física. Meus pais obviamente não sabiam disso, porque é o que dizem: o que o coração não vê, os olhos não sentem. Ou o contrário. Tanto faz. Então, sim, o FDate veio bem à calhar.

Eu não transo com os caras, ou pago boquete nem nada do tipo. Não que eles não pedissem. Um deles até pediu para pegar no meu peito, dentro do carro, enquanto me deixava na estação de metrô; mas eu gentilmente neguei, e ele gentilmente aceitou. Apesar disso, no geral, eles são tranquilos de se lidar: nunca insistem para saber onde eu moro, nunca fazem perguntas pessoais, nunca me julgam (não em voz alta). Na maior parte das vezes, tudo o que eu preciso fazer é elogiá-los em frente aos amigos, usar uma cinta modeladora por baixo de um vestido chique durante um casamento, ou amaciar seu ego ao fingir que estou chorando enquanto o cara termina comigo na frente de alguém que quer impressionar. Nunca repeti um encontro.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora