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Minha Mãe 1, como gosto carinhosamente de chamá-la, na verdade se chama Emily. Ela tem cinquenta e dois anos, cabelos cacheados e pesados que vão até a lombar (a cabelo dela é motivo de inveja em todas as pessoas de todos os gêneros ao redor do mundo, incluindo eu mesma, sua filha), é negra, tem pouquíssimas rugas e um sorriso lindo, cheio de dentes. Sua personalidade é do tipo Copo-Meio-Cheio, ela sempre usa roupas super coloridas, e é formada em Inglês pela Universidade de Yale. Ela ama Charlotte Brontë.

Minha Mãe 2, como gosto carinhosamente de chamá-la, na verdade se chama Charlotte. Ela tem cinquenta e cinco anos, cabelos pretos e lisos até o meio das costas, é amarela, tem mais rugas do que a Mãe 1 e um sorriso tímido, visto que sorri pouco. Sua personalidade é do tipo Copo-Na-Metade, ela tem uma paixão maluca por roupas azuis (se não há nada visivelmente azul em seu corpo, então são as roupas íntimas), e ela também é formada em Inglês pela Universidade de Yale. Ela ama Emily Brontë.

Pois, é. Um casal com o nome das irmãs Brontë. Você não pode acreditar na decepção dessas mulheres quando eu escolhi ser física.

Drogas? Relativo.
Gravidez na adolescência? Aceitável.
Roubo? Discutível.
Exatas? Inaceitável!

A Mãe 2 é filha de um casal que ainda mora, como sempre morou, na Coréia popular; mas que eu pessoalmente nunca cheguei a conhecer, pois eles cortaram todo tipo de contato quando ela se casou com a Mãe 1, pouco tempo após se mudar aos Estados Unidos para estudar. A Mãe 1 era filha da única avó que conheci, mas que faleceu quando eu tinha doze anos. Essas duas se conheceram na Universidade de Yale, se odiaram à primeira vista — mas o ódio aparentemente se dissipou, já que dez anos depois elas estavam conseguindo a adoção de uma menininha branca — elas fazem piada com isso até hoje, o fato de serem duas minorias ambulantes e só terem conseguido adotar uma americana branca feito leite. Hoje eu tenho vinte e cinco anos de vida, vinte e dois desde que elas salvaram essa mesma vida, e elas têm trinta e dois anos de relacionamento. Elas me ensinaram tudo o que sei sobre amor.

E também sobre dor, especialmente agora, quando a Mãe 2 está me dando um peteleco na testa.

— Você ficou maluca?!

Essa é a tradução em palavras do peteleco.

O que aconteceu? Bem, eu contei a elas do meu encontro/leilão beneficente/dia de rica que eu tive há, tipo, um mês atrás. Se tivesse acontecido há dez anos, eu ainda sentiria a força do peteleco da Mãe 2.

— Ah, raio de sol, eu particularmente não acho nada demais. — A Mãe 1 vem em minha defesa. Ela é do tipo apelidos carinhosos. A Mãe 2 não é, mas ela ignora isso por consideração e amor.

— Nada demais?! — Agora a Mãe 2 se exaspera contra ela, gesticulando com as mãos abertas, piscando rapidamente e depois tendo que levantar os óculos até o início do nariz. — Ela deu o endereço e número dela pra um cara do aplicativo. Quer que eu fale mais devagar? Você esqueceu que ela nos prometeu que nunca faria isso?

Abaixo a cabeça, claramente me fazendo de sonsa.

— Mas ele não é famoso e coisa assim? — A Mãe 1 cruza os braços atrás da cabeça, levantando os pés para apoiá-los na mesa de centro e relaxando no meu sofazinho.

Bufando, batendo os pés no chão e sendo observada por nós duas, a Mãe 2 pega o pote com tinta de cabelo roxa misturada e vem até as minhas costas.

— Ah, e gente famosa não mata ninguém? — argumenta. — O que me diz do Skylar Deleon, aquele ator de Power Rangers? Hum? E o Lane Garrison, de Prison Break?

— Ah, mas o Lane Garrison foi um acidente de trânsito.

— E a vítima sobreviveu?

Pigarreio, interrompendo. — Olha, Mãe 2, desculpa falar, mas isso é meio Copo-Vazio da sua parte.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora