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Por que tem uma coisa tão pesada e fofinha em cima de mim?

Me sacudo preguiçosamente, no caminho acabando por esticar o meu corpo inteiro ao me espreguiçar; lutando para abrir os olhos. Ainda quando consigo, percebo que o quarto está drasticamente escuro. Ainda não amanheceu?

Movimento os braços e percebo que a coisa pesada e fofinha em cima de mim é só um edredom muito, muito bom. Hum... A sensação dos lençóis limpos, perfumados e macios em minha pele é magnífica, e por um instante esqueço que a motivação para me acordar foi a minha barriga roncando desesperadamente. O ruído do aquecedor se faz presente, envolvendo todo o quarto em uma única vibração quentinha e confortável. A única coisa familiar é o cheiro do meu shampoo que ficou no travesseiro junto com a mancha roxa das mechas do meu cabelo, e mesmo assim, é tão bom que quero ficar aqui para sempre.

Até lembrar que estou no quarto de visitas da casa de Joseph Quinn, onde ficarei por um mês inteiro, fingindo estar casada; e aí desisto da ideia de ficar aqui para sempre.

Rápido flashback brilhando no fundo da minha mente: me casei com ele. Beijei-o no altar, prometi amá-lo para todo o sempre, permiti que ele conhecesse minhas mães, aceitei ficar dias naufragando nesta farsa. Vou ter que usar seu banheiro, sua cozinha, seus quartos, sua sala de estar. Vou precisar esquecer do meu apartamento por um tempo. Fecho a mão esquerda em punho, do tamanho do meu coração, e sinto a aliança repuxando a pele do meu anelar. A aliança de Dorothea.

Dorothea, que está morrendo.

É quase como se o teto caísse sobre mim, me afundando aqui nessa cama — que, por acaso, é muito melhor que a minha. Eu nem conheço aquela senhora, exceto por uma única vez em que a vi fazer Joseph sorrir e receber um beijo na testa, mas me sinto mais deprimida por estar enganando-a do que por esse casamento ser, de fato, ilegal. Devo ter um fraco por vovozinhas desde que a minha faleceu. Tenho a sensação de que Dorothea deveria ter visto uma mulher merecedora naquele altar, alguém que amasse seu neto e sua família e quisesse prometer tudo que prometeu, assim seu último desejo realmente estaria sendo realizado; e não eu, uma simples farsante meia boca.

Eu me casei de mentirinha. Vou ter que carregar esse fardo por mais alguns dias. Que merda.

Resmungo baixinho e sinto um sabor amargo na minha língua. É o meu corpo implorando por comida. Quanto tempo faz desde a minha última refeição?

Com muita luta, me livro do edredom e calço os pés na minha sandália ainda aos pés da cama. Sinto a tontura breve da fome. Muito embora não me recorde de colocá-lo para carregar, meu celular está ligado à tomada, sobre a escrivaninha, indicando cem por cento da bateria carregada — desconecto — e também que são sete horas da manhã; o que definitivamente não parece ser, já que as cortinas fazem com que esteja escuro.

Me sinto fora da realidade do planeta Terra por um instante. O vento quente do aquecedor me alerta que fora do quarto, provavelmente, não está tão quentinho quanto aqui dentro. Minhas malas ainda estão perto da porta, onde deixei, e passo os próximos minutos bagunçando tudo ao procurar por um casaco grosso. Tudo está exatamente onde deixei, o que é interessante, já que não me lembro de ter ligado o aquecedor ou pego um edredom. Sequer sei onde os cobertores ficam — mas suponho que seja no armário. Só me lembro de capotar em um sono profundo depois que Joseph saiu do meu quarto e deixou a porta aberta.

A mesma porta que está fechada agora.

Tudo bem, sem pânico.

Se eu der uma de sonâmbula logo agora, vou ficar muito, muito puta. Não tenho crises de sonambulismo desde os quinze anos, quando era carregada de volta para a cama pela Mãe 1. Justamente agora, que estou na casa de um estranho, meu organismo resolveu voltar a ter? Pelo amor de Deus. Não mereço isso. Sou uma boa pessoa.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora