3. Enfrento a fúria da minha esposa

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Bonnie passou por mim sem dizer uma palavra. Aquilo estava me deixando louco de raiva. Eu suportaria todo seu ódio se necessário, mas não que ela me ignorasse.

Bom, se isso fosse a alguns meses atrás, o meu antigo eu estaria louco para arrancar o umbigo dessa bruxa metida. Porém, depois da Fusão com meu irmão, Luke, acabei ficando com algumas de suas características mais fortes. Principalmente, a parte da empatia. O que deixou minha vida muito mais complicada, já que é meio difícil ser sociopata e depois ficar se remoendo pelas coisas ruins que você fez. Depois daquela fusão idiota não fui mais eu mesmo. A ideia de matar alguém, antes, me deixava ligadão e excitado, agora apenas sentia nojo de mim mesmo.

Dias após aquilo, eu não conseguia parar de pensar nas pessoas cuja a vida eu havia destruído. Jo, Liv, Luke e meus outros irmãos, que haviam morrido em minhas mãos anos antes. As pessoas que eu havia matado por coisas medíocres, como um taxista e um cara que estava no Grill. E entre esses, estava Bonnie, que eu quase matei diversas vezes.

Eu simplesmente não conseguia parar de pensar nela. Na dor que causei. Chegava a ser agonizante o tamanho da culpa com a qual eu convivia agora.

Tenho que admitir que de uns tempos para cá, de maneira muito irônica, eu vinha agindo como aqueles psicopatas de filmes cafonas de terror depois que Bonnie deixou bem claro que não queria me ver nunca mais, eu comecei a segui—la por toda a cidade. Sem que ela soubesse, é claro. Inicialmente, era apenas para observá—la, pois não conseguia tirá—la da cabeça, no entanto, essas vontades de vê—la ficaram mais e mais frequentes. E, praticamente, todos os dias eu já estava na esquina da casa dela esperando—a sair como um bom perseguidor obcecado.

Não que ela fizesse coisas muito emocionantes, quase sempre ela ia ao mercado ou a biblioteca da cidade, tirando isso passava mais tempo enfiada dentro daquela casa grande. Uma pessoa bem chata na maior parte do tempo.

Entretanto, esses pequenos gestos faziam com que meu dia se tornasse um pouco mais suportável, impedindo de me afogar em minha própria culpa.

E sei lá, de uns tempos para cá, eu vinha sentindo todos esses sentimentos novos. Como por exemplo... Atração física! Coisa que eu nunca havia sentido antes, porque ser um picolé humano fazia você ter poucos interesses na vida além de ferrar um coleguinha próximo. E era realmente perturbador, pois me sentia como um daqueles maníacos sexuais, quando saio na rua. Eu simplesmente, não paro de olhar para todas as mulheres que passam na minha frente. Todas elas, agora, pareciam tão provocantes e lindas. É claro que antes, eu conseguia ver isso, só que não surtia nenhum efeito em mim.

E, talvez, por isso tenha escolhido Bonnie para ser minha esposa. A mente dela era uma das coisas que me atraíam nela antes mesmo de ter alguma emoção aqui dentro. Sua forma de pensar, seus trejeitos e o modo como ela se entregava à uma causa sem pensar duas vezes em sua própria segurança. E, agora, somada à minha nova experiência sensorial do mundo, ela parecia ser a garota mais gostosa e inteligente de todas!

Foi, mais ou menos, como ter um brainstorm¹ sexual—romântico esquisito.

Mas, recapitulando:

Bonnie passou por mim sem dizer uma palavra. E aquilo me deixou irritado, mas tentei engolir aquele sentimento.

Ela foi andando de forma bem rápida para uma pessoa do seu tamanho. Quer dizer, é que ela é pequena, tecnicamente falando, suas pernas curtas não deveriam cruzar distâncias tão grandes em tão pouco tempo. Ou em quem era muito alto e lento, embora estivesse bem claro que ela estava fugindo de mim.

Enfim, a segui tentando acompanhar seus passos ligeiros. A bruxa nem sequer olhava para trás para ver se eu ainda estava lá.

Estava muito escuro e a única luz que nos iluminava era a da lua.

Convergência Sombria | Bonkai | EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora