Capítulo 6

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  — O que vamos jantar? — Han passou pelo corredor onde Vee arrumava as prateleiras da loja e se sentou ao lado dela.

A garota evitou o olhar, passar a noite com ele, a manhã e agora a tarde era tempo até demais. Mas Han não parecia se importar, afinal, o garoto ficou tanto tempo sozinho que ter Vee para conversar era como um presente.

— Não sei, não consegui fazer comida ontem a noite... — ela respondeu sincera.

— Posso cozinhar hoje.

Vee o olhou e tombou a cabeça para o lado.

— Você sabe cozinhar?

— Sei.

— Okay, por essa eu não esperava — Vee riu e Han se aproximou começando a ajudá-la a arrumar tudo.

— Posso te perguntar uma coisa? Quero que seja sincera comigo.

— Hm — eles se olharam minimamente e voltaram ao trabalho — Ok, mas também vou querer te perguntar algo.

— Certo.

— Certo.

— O que você acha de mim, Vee?

— Como assim?

— O que pensa sobre mim? Pelo visto acha que nunca pisei em uma cozinha, quero saber o que pensa sobre mim.

— Bom... — ela não parou de arrumar as coisas na prateleira e Han já estava sentado tão perto que podia sentir sua perna encostar na dele — Você sempre foi rico, passou um bom tempo esbanjando coisas boas na escola, andava sempre com as melhores marcas, saía com as pessoas mais chatas, pessoas que me faziam muito mal...

— Eu nunca te tratei como eles te tratavam — Han interrompeu.

— Mas nunca os impediu que me tratassem de tal maneira — Vee respondeu e eles se entre olharam, dessa vez pararam de arrumar as coisas e focaram na conversa — não te acho uma pessoa ruim, Han. Nós temos realidades diferentes e talvez isso tenha afetado nosso convívio em todos esses anos. Pra você as pessoas com quem andava eram seus amigos, pra mim eram o motivo de eu não querer ir pra escola. Entende?

— Eu odiava eles — Um silêncio pairou sob o local por alguns minutos até Han voltar a falar, Vee o olhava com cuidado agora — Meu pai me obrigava a andar com eles por que eram filhos de pessoas importantes que ele queria fechar negócio. Você era a única pessoa que eu queria conversar mas eu não sabia como, então passar anos implicando com você foi o caminho que encontrei.

O olhar de Vee agora era diferente, no fim, Han era apenas mais uma vítima de pais narcisistas e ela sabia como era isso, mais do que ninguém. Eles estavam perto um do outro e Han pode perceber o olhar piedoso dela.

— Sua vez, pode me perguntar o que quiser.

— Ah... — ela esfregou os olhos tentando sair de seu próprio transe — Por que você foi expulso de casa, Han...?

O garoto abaixou o rosto e apertou os olhos, Vee pensou se a pergunta tinha sido evasiva demais mas antes que pudesse falar novamente ele já estava respondendo.

— Meu pai me expulsou a dois anos, minha mãe me deixou ficar em uma casa da família em Namsam até ele descobrir — tudo parecia muito confuso mas Vee achou melhor não perguntar mais nada — Parece que o dono da maior empresa de administração de Seoul não queria ter um filho músico, muito menos bastardo.

Os olhos de Vee se abriram um pouco mais, era algo realmente muito grande por trás de tudo.

— Enfim, eu resolvi que queria mudar de vida, ser eu mesmo e não viver na sombra do meu pai. Quando sai da casa de Namsam consegui um emprego, aluguei um apartamento pequeno e fiz a prova pra faculdade, comecei a estudar música e tudo parecia bem até meu pai descobrir do meu AP e comprar ele por 10x mais do que eu pagava de aluguel. Fiquei um tempo dormindo na casa de amigos, na rua e em casas de banho até que você me encontrou, justamente você, a pessoa que me desafiava a ser quem sou hoje.

Silent Cry | skz [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora