Capítulo 29

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MEGAN LABONAIR

Quando voltei ao covil, coberta de cinzas e cheiro de fumaça, a primeira coisa que fiz foi tomar um banho demorado com meu sabonete favorito de lavanda até finalmente conseguir me sentir limpa de novo, fisicamente, porque dentro de mim, eu sabia que jamais me sentiria limpa novamente, pura, intocável, toda bondade que um dia existiu em mim foi corrompida com os anos e eu aprenderia a lidar com aquela realidade, por mais dolorida que fosse.

Eu cantarolava um rock depois de sair do banho exalando lavanda quando uma caixa misteriosa sobre a cama chamou minha atenção, franzi o cenho, sentindo o cheiro familiar de ferrugem. A porta e as janelas do quarto estavam fechadas, como eu havia feito antes de entrar no banheiro. Me aproximei da cama calmamente, e quando minhas mãos tocaram a caixa, um arrepio quebrou-se em minha coluna ao sentir a familiaridade da morte que inundou o ambiente.

A respiração travou na garganta quando abri a tampa da caixa, ignorando o bilhete que caiu no chão. O conteúdo da caixa revirou meu estômago. Em minha frente, dentro de uma pequena caixa de madeira velha, foi colocado um coração humano coberto de sangue. E eu poderia ter levado aquele presente inusitado como a ameaça de um inimigo, mas quando meus dedos trêmulos pegaram do chão o pedaço dobrado de papel, as palavras ali escritas fervilharam dentro de mim.

"Esse foi o último caçador da lista, mestiça. Minha promessa foi vingada. Todos aqueles que te feriram foram mortos pelas minhas mãos. Espero que não se importe com um pouco de sangue."

O bilhete não havia um remetente, e não era necessário. Eu conhecia muito bem o único lobo insano capaz daquele ato. E com a mente agitada, coloquei a primeira roupa que encontrei no meu caminho e peguei a caixa com o coração, saindo do meu quarto e rastreando Jason pelo covil até finalmente encontrá-lo em seu quarto, o antigo cômodo que dividíamos. Somente o fato de pisar naquele quarto me desconsertou, por tudo que passamos ali nas últimas semanas. Jason encarava sua cidade pelo vidro da janela e não se moveu com minha presença.

-O que você quer, Megan?

Joguei a caixa com o coração perto da porta, minha respiração permanecia descontrolada. Tudo se debatia e gritava dentro de mim em uma proporção assustadora.

-Por que fez isso?

Jason demorou alguns segundos para finalmente se virar em minha direção, os olhos tempestuosos cravados de forma afiada em meu rosto. Havia uma batalha interna dentro dele, uma mistura de emoções que me deixou completamente inquieta.

-Eles quase te mataram.

-Eu devia buscar por vingança, você não tem esse dever.

Jason arriscou um passo em minha direção, praticamente queimando com a minha presença.

-Você pode me odiar tão intensamente quanto eu a odeio, mas não pense que vou permitir que os desgraçados que tentarem tocar ou machucar você continuem vivos.

Umedeci meus lábios secos, sentindo meu rosto vermelho.

-Você me entregou a merda de um coração humano em uma caixa de presente, Jason, isso é doentio.

Jason sorriu de forma sombria, quase perversa e eu estremeci com aquela visão perturbadora.

-Nós somos fodidos malucos e insanos, amor, não tente negar isso.

Bufei uma respiração quente, chamas ardentes fervendo dentro de mim, em meu sangue, como um chamado selvagem que retumbava no meu coração desenfreado.

-Você é um fodido sem sanidade.

Jason exibiu os caninos alongados em seu sorriso malicioso.

-Vou estraçalhar aqueles que tocarem em você. Você me pertence, Megan.

Sangue Puro:Coração Selvagem (Livro 5)Onde histórias criam vida. Descubra agora