Capítulo 32

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MEGAN LABONAIR

Sentada sobre o telhado do covil, observei o céu estrelado sobre minha cabeça, em silêncio, vagando em pensamentos. Rodei o pingente de cabeça de lobo em minhas mãos, torcendo o cordão entre os dedos, refletindo nos últimos últimos meses que vi no covil da matilha de Jason na cidade dos rebeldes.

Fechei os olhos, o vento fresco da noite sacudindo meus cabelos soltos. Encostei meus joelhos contra meu peito, vestindo somente uma camisola de seda. O silêncio ensurdecedor do meu quarto me incomodou ao ponto de me fazer subir para o telhado do covil naquela noite, quase meia-noite de uma segunda-feira. 

Faziam exatamente três dias desde que Jason e sua matilha haviam jurado lealdade a mim, a filha do Lycan, o maior inimigo. E mesmo sabendo o que os rebeldes haviam feito com minha família, não pude evitar de sentir um frio na barriga quando os lobos se ajoelharam em reconhecimento a minha autoridade e poder, não ao meu sobrenome ou a minha linguagem, mas jurando uma lealdade que eu havia conquistado ao lutar para proteger a cidade e as crianças do rebelde. Por algum motivo que eu desconhecia, aquilo me trouxe um pouco de conforto, como se talvez, por alguma possibilidade da vida ou do destino, eu não estive predestinada a uma vida solitária e miserável.

Mas pela Lua! Eles eram inimigos da minha família e consequentemente meus inimigos também, eu havia herdade aquele fardo, o pecado dos meus antepassados. E infelizmente sofria as consequências diariamente. Mas de alguma forma, isso não me pareceu certo. Por que afinal eu tinha que herdar as consequências de algo que não fui responsável? De uma rixa antiga que começou muito anos antes do meu nascimento, algo que sequer meus próprios pais tinham culpa. E as escolhas dos nossos antepassados refletiam em nossas vidas até hoje, como um ciclo maldito de vingança e raiva.

Esfreguei o rosto, visivelmente estressada pelos conflitos internos que lutava há alguns dias. Quando pensava na minha família, me sentia uma traidora estando vivendo entre os rebeldes há meses, lutando com eles para defender uma maldita cidade que havia gerado tantos problemas para meu pai. 

Contudo, quando eu estava entre a matilha, eu me sentia parte de algo que faltava quando estava entre família, como se aqueles malditos lobos, bruxos e coyotes carregassem aquelas mesmas cicatrizes de um passado doloroso e mandaram as regras para o inferno, vivendo na adrenalina, na aventura e no caos, lutando por uma vida digna, um futuro melhor e aquilo me pareceu uma luta justa. Eles nunca tiveram medo de mim, ou me olharam torto pelo meu poder, não fugiram da escuridão enraizada dentro de mim, justamente o contrário, compartilhavam daquela queda pelas trevas.

Eu vagava em pensamentos, perdida no turbilhão de sentimentos confusos dentro de mim, que dei um sobressalto no telhado quando Jason surgiu ao meu lado, ocupando o lugar vazio a minha esquerda. O macho não disse uma só palavra, somente esticou as pernas sobre as telhas, apoiando os braços atrás do corpo e inclinando sua cabeça para trás, os olhos fechados, respirando a brisa fresca da noite. Somente a presença de Jason provocou uma estranha sensação de calmaria, acalmando o mar agitado em meu interior, transformando-se em uma lagoa calma.

O vento bagunçou os cabelos indomáveis dele, alguns fios grudando em seu rosto. Por reflexo, ousei tirar um fio da sua bochecha, atraindo sua atenção. Jason abriu os olhos lentamente, cravando-os em mim. Um arrepio subiu pela minha coluna. Minha boca secou diante do olhar intenso do híbrido.

-Por que você não me deixa em paz?-perguntei em voz baixa, fraca.

Jason lambeu os lábios.

-Porque estou viciado em você, Megan, não posso ficar longe.

-Isso é uma merda, sabia? Você é um fodido insano.

Jason não ousou tirar os olhos ardentes de mim.

Sangue Puro:Coração Selvagem (Livro 5)Onde histórias criam vida. Descubra agora