Capítulo 8

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Adam


Ainda parado na porta da entrada da varanda, vi seu pequeno nariz se contraindo e fungando uma única vez, sentindo a mudança em meu cheiro que não fiz questão de esconder. Conan parou de olhar para mim e voltou o olhar para a lua, ainda em silêncio, me ignorando como um ninguém. Mas ela me deu permissão para entrar na varanda.

Caminhei bem devagar.

Ela é só uma fêmea de um metro e meio, Adam, repeti para mim mesmo. Minhas palmas suaram. Meu coração acelerou. Minha garganta ficou seca. A áurea dela era tão opressora que senti o gosto de pesadelos em minha língua.

Parei diante de suas costas, a um passo.

Tão pequena.

— Saia... de perto de mim — ordenou, gélida.

Sua voz não possuía uma única gota de emoção, como sempre. Como se eu fosse entediante e a irritasse.

— Se quisesse que eu saísse, Conan, não teria me convidado para entrar.

Seus dedos mentais tocaram na minha mente e apertaram mais forte. Eu senti dor. Minhas presas saíram mais, sentindo a excitação do medo. E eu fiquei tão fodidamente duro.

— Não te convidei.

— Mentirosa. — Eu ergui meus dedos até a sua nuca, mas não toquei. — Convidou, sim.

Geralmente, Conan me expulsaria no instante em que eu pisasse no mesmo cômodo em que ela estava. Ela não pronunciar nada era uma permissão, ou estava considerando.

Era mais sim do que não.

Suas garras mentais afiadas se afundaram um pouco mais firme na minha consciência, unhas delicadas e pontudas e eu estremeci. Sangue quente escorreu pelo meu nariz e limpei com o dorso da mão. Conan parecia que iriam me destruir. Mas então as garras me soltaram, e explicando o motivo de me deixar chegar tão perto dela disse:

— É solstício.

Conan olhou para trás por cima do ombro novamente. Me analisando.

— É solstício — eu ecoei.

Me aproximei, quase colado a ela. Só porque hoje era o dia, ela deixava. Aproximei meus dedos e quase toquei na tatuagem vertical intrincada em suas costas, e a minha tatuagem respondeu igualmente. Seus braços se arrepiaram, sentindo o meu toque invisível. Respirei fundo, quase arrastando a ponta dos dedos por sua nuca, me segurando para não a abraçar e repeti:

— É solstício, Esmy.

O dia que formamos e descobrimos o nosso vínculo. Sua pele se arrepiou novamente, talvez ao ouvir o tom rouco da minha voz.

Ela era tão linda.

— Não vai para a comemoração? — perguntei, com cautela.

— Não.

— Você está triste?

Ela bufou irritada, como se a tristeza fosse algo inerente apenas aos fracassados, enquanto ela era a glória em pessoa. Mas, então, ela voltou a olhar para a lua, como se a lua fosse lhe dar uma resposta que não conseguia obter, mesmo podendo ver através dos pensamentos de todo mundo e mover as mentes.

Mesmo podendo curvar o mundo aos seus pés com um único pensamento.

Ela mexeu o pescoço com cansaço e eu sabia que seu poder a estava rendendo uma bela dor de cabeça. A prova disso era que as bordas de seus olhos negros ficaram dourados. Ela não confirmou nem negou a minha pergunta, mas disse sem sentimento, baixinho:

O Festim dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora