Capítulo 13

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Argos

T

irei a espada de dentro do lobo e me agachei no chão gelado. O vermelho de seu sangue fazia um lindo contraste com a neve branca.

— Vossa Obscuridade saúda você, Coam.

O lobo branco se transformou em um garoto jovem de olhos azuis, não parecia ter mais de cento e dezenove anos e a beleza desnecessária me impulsionou a enfiar a espada em seu estômago mais uma vez. Ele cuspiu sangue e gritou de dor, mas ninguém iria ouvi-lo nessa selva gelada da Primas One.

— Então — tirei o cabelo da frente do seu rosto.

— Não toque em mim, seu monstro! — rebateu engasgando com o próprio sangue.

Coam mexeu a mão como se fosse pegar algo no pescoço, de dentro da roupa para me golpear, mas tudo que fez foi mover a mão direita sem uma direção especifica em um golpe falho.

— Você se transforma em um animal e eu que sou o monstro? Assim eu me sinto ofendido — resmunguei com um bico.

— Todos vocês do Território Celenial são monstros! — Coam tentou me ofender com a pouca força que possuía, mas estava tão tremulo na neve fria que a morte chegaria a qualquer segundo.

Segurei o garoto lobo com a mão direita pelos cabelos tão forte que sabia que estava arrancando alguns fios.

— Então — puxei seu rosto para me olhar. — Quem da rebelião mandou um novato como você proteger a garota?

O lobinho continuou calado.

— Você já está morrendo, desembucha...

— Eu prefiro a morte a trair a rebelião! — ele cuspiu no meu rosto, raiva corroeu minhas feições e enfiei a espada em seus estômago mais algumas vezes.

Ele gritava e gritava na neve fria.

— Isso é por atrapalhar os planos de Vossa Escuridão. — Apertei seus cabelos com mais força e trouxe seu rosto para perto do meu. — Mas não se preocupe — soltei o cabo da espada, levei dois dedos a boca e assobiei. Não demorou para o cachorro chegar até mim e os olhos de Coam cresceram assustados quando a grande fêmea sentou nas ancas perto de mim à esquerda.

— Ah sim. Você se sacrificou atoa. Eu vou encontrá-la. A garota. Vossa Obscuridade quer muito ela. Será um brinquedinho e tanto.

Me levantei do chão e tirei a espada do seu estomago.

— Vossa Escuridão também quer saber onde está o garoto. Abrahan. Eu poderia salvar você da morte se disser onde os pais dele estão. Onde o escondem. Vossa Supremacia matará aqueles dois traidores malditos, mas você, lobinho. Se você conta onde a rebelião esconde aqueles três — tirei um bolo de chumaço preto do bolso e os olhos dele se abriram surpresos. — Vossa Obscuridade deixará você viver. Eu vou deixar você viver. Você será grande quando os Celenials reconquistar a gloria perdida.

Alisei o cabelo na frente do seu rosto cuidadosamente, levei o chumaço preto bem perto dos seus lábios e balancei a coisa preta que se agarrava aos meus dedos como pequenas raízes negras. Pelo olhar dele eu sabia que meus olhos castanhos eram quase pretos, sabia que Vossa Obscuridade assistia por mim.

— Morte ou vida, Coam. Destruição ou servidão eterna. É só escolher.

Coam assistiu a fêmea se levantar e se preparar para partir, esperando apenas uma única ordem minha e o medo começou a corroer suas feições lupinas.

Ele engoliu em seco.

Parecia que estava prestes a ceder, então disse:

— Eu prefiro morrer a trair meus companheiros. Continue sendo um capacho, Argos. Continue servindo ao seu Deus destruído.

Mate ele.

Vossa Escuridão sussurrou em meu ouvido.

Deixe-o morrer aí, com dor e desespero. Chame os ominuns, dilacere-o, quero vê-lo morrer lentamente.

— Escolha errada, lupino. — Usei um pouco de magia para modificar meu rosto. — Me diga, Coam, você que sempre anda com os vermes humanos. Fiquei um pouco mais parecido com um deles?

A fêmea se levantou e alisei sua cabeça.

— Vá atrás da garota, querida.

Coam assistiu a fêmea se afastar, medo vazando de seu corpo em sofrimento e assistiu mais ominuns aproximando-se dele.

— Sua pequena rebelião vai fracassar — informei. — Vamos encontrar tanto ela quanto ele. E eu — coloquei as duas mãos na cintura, me inclinei para baixo e cuspi em seu corpo. — Eu farei você se encontrar com seus colegas de rebelião, sabe... todos os outros que assim como você tentaram protegê-la e eu matei. — Fui incapaz de não rir. — Olha, se estão mandando as crianças lutar vocês devem estar desesperados.

— Te vejo no inferno, Argos. — O lobinho despejou.

— Te vejo no céu — zombei.

O lupino apenas riu.

— Quais são suas últimas palavras? — Eu o olhava de cima, observando seu corpo quase morto antes de me afastar.

Coam olhou no fundo dos meus olhos e não foi para mim que as palavras foram ditas.

— Você continuará sendo um Deus caído.

Ele sorriu e a pequena multidão de ominuns atacou.


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