Capítulo 32

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Kay

A coleira de ferro que circulava o meu pescoço era composta por espinhos pontiagudos na parte de dentro. Esses espinhos contém um veneno letal extraído do Étoperis da terra. Uma mutação da vespa-centopeia, das terras de gelo.
Perfeita para combater o calor.
Perfeita para me combater.
Viajamos de carruagem até a costa do mar de gelo próximo as terras mortais. Conan voltou a partir desse ponto. Seu rosto como sempre insensível, por fora, não revelava nada. Mas por dentro, antes de partir. Ela roçou a minha mente com seus dedos finos e delicados. Batendo uma única vez no escudo de magma, que habitava a minha mente...
Uma porta apareceu para ela. Mas eu não sabia se queria deixa-la entrar. Não queria que ninguém além de mim, visse o único fio tênue, que me impedia de sucumbir.
Eu estava cansado...

Estava cansado a bastante tempo já. Atrás daquela porta, havia uma bagunça. Uma bagunça psicológica, que eu não desejava a ninguém ver. Ela também não segurou na maçaneta da fechadura, apenas encostou atesta na porta, e sussurrou:
- Que a Mãe, acolha você.
Ela era severa, mas dedicada à sua maneira. Sem mais palavras ela partiu.
O fosso três, ficava na outra ponta do mapa, próximo as terras mortas. O fosso dois ficava no subsolo do castelo, e o fosso um, o preferido do meu avô, ficava no Oceano glacial. Território neutro, entre as duas Cortes e os mortais.
Subimos no barco navegando em direção ao fosso, localizado escondido no meio das geleiras. Saio do navio, ajeitando a coleira que pinica o meu pescoço, mesmo com os espinhos retraídos. Eu caminho devagar, sem as algemas nos pés, e descalço no gelo, poças de água se formavam onde meus pés tocam. Fervendo tudo que me toca a todo momento.

Os quatro soldados do meu avô me escoltam até o meio da instalação a céu aberto. Onde ele ansioso, já se adiantou.
- Cada vez que venho aqui, esse lugar parece mais gelado.
Comentou Mogno estremecendo dentro do casaco de neve. O que não faz sentido, já que o seu poder é gelo.
- Uma vez peguei uma gatinha numa aldeia de um dos vilarejos mais afastados ao Sul da Corte de Gelo. - Ele começa a explicar, para mim e para os outros soldados muito empolgado.
Mogno tem uma certa aversão ao meu estilo de vida involuntário que ele chama de uma semi-castidade.
- Você precisava ver Kay Won como a bundinha pequena dela ficava vermelha cada vez que eu.

Ele completa a frase executando os movimentos, e eu tento não ferver as geleiras. Mas as fervo. Gradativamente o piso de gelo em baixo e atrás dos meus pés racham e desaparecem com a minha inquietação.
Ele ficaria orgulhoso se soubesse que até anteontem, eu estava tentando mudar esse estilo de vida. E lembrar disso dói. Há alguns anos eu venho observando o laço solitário dentro de mim, sem vê-lo nunca ter uma outra ponta. Uma vez perto de alguém, ele se agitou, e a esperança cresceu brutal dentro de mim, mas a ponta nunca crescia, e havia ficado em silêncio por anos.
As vezes quando eu vinha para o mar de gelo, perto das terras mortais o meu laço começava a cantar uma canção. Alguns dizia que é a canção do amor, outros dizem, que quando o laço canta para ninguém, era um preludio de morte.

Toda maldita a vez que vim para o lado de cá, ficava me perguntando se finalmente, havia chegado a minha vez. Mas agora eu sabia porque ele cantava toda vez eu vinha para cá.
Era ela, era por estar na direção dela.
Com lindos olhos com de areia, a outra ponta do meu laço apareceu, e eu fiquei perdido, desnorteado. Aquele lindo fio dourado, que eu me agarrava com tanta esperança, parecia que ia se estrebuchar dentro do meu peito.
Respiro profundamente me movendo para uma camada mais grossa de gelo.
Eu cheguei tão perto de falar o que sentia. A lembrança dos meus dedos em sua cintura ainda é fresca. Mas não podia deixar Adam na mão, não quando ele nunca me deixou na mão. Não quando ele sempre viu o monstro dentro de mim, e o acalmou.
Todos nós temos nossos demônios interiores.
Agora eu sinto que não haveria outra chance.

Mais uma parte do gelo se quebra em baixo de mim. Mogno faz isso intencionalmente para me fazer liberar calor mais rápido. Para doer menos.
Nunca dói menos.
- Dos vilarejos ao Sul? - Dojeon o segundo soldado pergunta arqueando as sobrancelhas grossas e castanho escuro.
- Sim.
- Mas eles não são bárbaros?
- São.
- Ah, então você lutou com os irmãos e os pretendentes pela mão dela?
- Ela ficou apaixonada por mim.

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