Capítulo 25

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Era simples, eu lembrava a mim mesma. Entrar, pegar a caixa, não mexer em nada que não deva ser mexido e dar o fora.

Era simples.

Era muito simples!

— Grrr — grunhi, colocando a mão direita espalmada no rosto, frustrada.

Não era proposital. Às vezes, eu só queria tomar uma ação sem desencadear uma sequência de eventos catastróficos e danosos. Ou sem gerar consequências para mim e para pessoas importantes da minha vida, em geral, para qualquer um que se aproximasse de mim.

Eu só rezava para que Elow permanecesse bem e segura. Ele não envolveria uma civil nisso. Ou envolveria?

Você pode ficar aqui comigo, Seraffine.

Eu não podia, não.

Enfiei a cabeça entre as pernas e abracei os joelhos com força. Já haviam se passado quase dois dias, e eu estava aqui, trancada dentro de uma caixa, comendo queijo, pão e água, enquanto minha mente remoía em loop todos os erros que cometi naquele dia dentro da forja.

Várias vezes forcei a tampa da caixa e nada aconteceu. As palmas das minhas mãos continuavam formigando, e o leve brilho verde ainda entrava no ambiente.

Tudo parou. O som de um enorme portão sendo aberto ecoou. Coloquei-me de pé para ouvir.

— Levem tudo para o galpão.

Minutos depois, outro som de portão se abrindo preencheu o ar; e logo em seguida, sons de caixas e mais caixas sendo depositadas em algum lugar com um baque surdo, pessoas falando e se movendo. Longos minutos se passaram, talvez horas, até tudo se acalmar e ficar completamente em silêncio.

Tudo ficou completamente escuro. O brilho verde não entrava mais na caixa. Subi em cima das caixas menores e cautelosamente empurrei a tampa com cuidado, apenas uma fresta para espiar. Ela se moveu e abriu.

Oh, deusa!

A alegria pulsou dentro de mim.

Levantei-me minimamente e olhei para fora. Alguém pegava caixas pequenas da mão de uma pessoa na porta e terminava de empilhar, enquanto a outra escrevia em uma prancheta.

Por que esse caixote não é inspecionado?

O que são essas bestas de coloração escura?

Seja o que fosse, o fato de ela ter viajado envolta de magia dizia muita coisa, e eu não ia levantar suspeitas levando uma. Tirei-a das costas e devolvi a caixa com pressa. Como eu queria uma, tirei também a aljava de flecha. Quando fui colocá-la no lugar, percebi que a que eu havia pegado não tinha a ponta de ferro, mas uma ponta acinzentada.

Passei a mão pela ponta da flecha, e uma sensação gelada atingiu meu corpo, fazendo eu me sentir fraca na mesma hora.

Recuei.

Era crocidolita. Senti repulsa ao tocar na pedra, limpei as mãos correndo, era o minério causador da doença. Devolvi rapidamente ao seu devido lugar. As últimas pessoas presentes no espaço se preparavam para sair, então tudo se silenciou. Não perdi tempo. Pulei para fora da caixa, pendurando-me na borda e saltando no chão com um som abafado. Fui até o portão e realmente estava trancado. Andei até a porta lateral, mas também estava fechada. Olhei de um lado para o outro e não consegui ver nenhuma saída. Levantei a cabeça e olhei para o teto.

Madeira e telhas.

Então seria por ali.

Empilhei algumas caixas até conseguir chegar na altura do telhado. Coloquei minhas mãos no teto e movi as telhas, impulsionando-me para cima. Fiquei parada durante cinco minutos, sentada no telhado e observando tudo. O lugar era gigantesco e tinha formato retangular. Na minha frente, do lado direito, havia um prédio enorme de quatro andares, com muitas janelas.

O Festim dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora