Capítulo 36

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Peguei o prato de guisado e comecei a caminhar, não era muita comida, mas era da comida boa que eu estava recebendo. Passei pelas mesas dos humanos, obrigando o meu rosto a permanecer erguido. A mecha branca flamulando ao vento, me tornando o mesmo que um sinalizador no meio do local. Um passo de cada vez passei pelas mesas dos soldados. Sentia cada olhar queimando minhas costas de maneira ardente, mas pacificamente me dirigi até as mesas dos oficiais.
Localizei uma mesa mais vazia e caminhei até ela.
Quando fiz menção de me sentar, a voz de Adam cortou o ar, escandalosa.

— Ei, faísca. Venha para cá!
Gritou bem alto para que todo mundo ouvisse. Podia muito bem ter me dado uma flechada no olho. As cabeças se virando em uníssono para me olhar por baixo dos olhos. Me dê logo uma machadada na cabeça Adam, acabe logo com a minha vida.
Muito ciente de cada olhar sobre mim.
Olhei para ele que apontava para o lugar vago ao seu lado, na frente de Conan. Ela estava calada e seria como sempre sentada ao lado de Kay, que olhava feio para Adam, com uma expressão contrariada, com uma expressão de raiva contida no rosto, e inquietação. Com certeza era porque Adam havia me chamado e ele não quer mais ficar perto de mim desde então.
Que seja então.

Isso Kay Won, faça eu me sentir especial, depois me jogue de lado. Parabéns. Seu merda. Não... não seja insolente Seraffine, não seja insolente.
Na mesa ao lado da deles, estava sentada a unidade de contenção.
A inquietação que me afligia logo fora substituída, por um sentimento muito mais assassino. Me lembrava com clareza e ódio que amargava minha língua, da pessoa que sussurrou ao ouvido do Rei. Peguei o prato de comida, e em passos firmes me dirige até a mesa deles.
Ao passar por Kenae, ouvi o barulho do garfo se partindo. E sorri por dentro.   Alegremente. Virei lentamente a cabeça, a olhando de esguelha de baixo para cima. Me pondo de volta a caminhar. De calças, e com minhas pernas elegantes.

Ela me odiava, e eu também, que tenha certeza agora, que o sentimento é reciproco. Ouvi um rosnado. E com ego ensaiado, sentei-me na mesa dando um largo sorriso.
Quase.
Adam com um gesto rápido, sentou no meu lugar.
— Aqui. Sente-se aqui.
Ele apontou para o lugar ao seu lado. E deu batidinhas no banco negro. O lugar é na frente de Kay. Nos dois olhamos irritados para Adam ao mesmo tempo, e ele deu de ombros sorrindo.
Canalha.
— Dia difícil? — Perguntou-me Adam.
— Sinto que todos querem me fulminar, mas aqui estou eu, firme.
— Então é apenas mais um dia normal.
Dei de ombros, e me acomodei, me esforçando ao máximo para continuar ignorando Kay, pois a parte perturbada e curiosa do meu interior já estava se revirando, e não aguenta não cutucar as coisas.

Mas eu a silêncio, porque ele também me ignora, já que não dava uma palavra sequer, e franze o nariz parecendo nem respirar. Como se o meu cheiro fosse insuportável para ele. Reprimo o impulso de me cheirar para ver se estou fedendo. Como se respirar perto de mim o machucasse, ou meu cheiro seja ruim.
Eu devo estar fedendo.
Acredito que respirar perto de alguém que lida o tempo todo com sangue podre e gente doente seja nojento mesmo, para ele que está sempre limpo e cheira, doce e tão bem. Mas eu havia gloriosamente conseguido roubar sabonetes cheirosos e a vários dias desde o ataque não cuidava de nada nem ninguém.
Eu não estava fedendo.

O que significava que definitivamente ele não suportava mais ficar perto de mim. Reprimo também a sensação de mágoa que espreme o meu peito, quando ouço mais uma fungada profunda de ar vindo dele.
Que seja então.
Encaro meu prato, a comida parecia bonita. Garfos metálicos. Era pouca comida, mas, meus deuses que evolução. Olho para o prato de Adam, um baita prato, bem cheio. Então vejo um movimento pelo canto do meu olho, e quando olho meu prato de novo ele está bem cheio.
O que?
Olho para a frente juntando as sobrancelhas, Kay esta imperturbado, mas a mesa cintila com rastro de magia pura e primal, e eu sei disso, sei que é dele, porque as histórias dizem que ela não fede a ferro. Quanto mais pura a magia, menos ela deixa um rastro nojento.

O Festim dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora