Capítulo 17

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Corte de Fogo e Cinzas

Kay

A

porta da abafada carruagem de ferro se abriu. Uma carruagem sem sequer espaço para o ar entrar, com o metal todo misturado de crocidolita. Era uma caixa de ferro negro, feita exatamente para me conter.

Segurei nos corrimões de crocidolita e botei um pé para fora. Quando minha bota tocou o chão congelado da Corte de Gelos e Sons, o lugar da minha pegada formou uma poça de água.

Encarei os icebergs de gelo do meu lado esquerdo.

Mogno deu um tapa, firme, nas minhas costas. Ele era meu guarda-costas quando Conan, que era a número um do comando da minha segurança, e Adam não estavam lá.

Eles estavam a caminho do mundo mortal nesse exato momento.

Caminhei pelo gelo.

Preparado para o dia de hoje, garoto? Mogno me perguntou com sua voz grossa, girando o canudo em seu coquetel de frutas no copo de vidro. Seus olhos tão azuis, como se tivessem duplicado as águas do mundo, esquadrinharam-me.

Mogno era um macho muito mais alto do que eu. Quase o dobro da minha largura, e tinha mil e seiscentos anos. Ele não era exatamente velho, mas como ele era feérico inferior, era considerado um macho maduro. Ele era Shu, o povo da água, de olhos levemente puxados. E havia se refugiado do outro lado da Barreira Separatista. Como os muitos que não suportavam a tirania da Corte da Água, ele era um dos poucos que havia conseguido fugir.

Possuía grossos cabelos lisos e pretos na altura dos ombros. Uma única mecha branca nos cabelos, que revelava que ele estava quase na meia idade. Roupas azuis e pretas, uma barba bem cheia, e um sorriso convencido. Mais assassino e perigoso do que eu, Adam e Conan juntos. O soldado mais bem pago da Corte de Fogo.

Era o capitão do quarteto da guarda de elite do meu avô. Ele sorriu para aliviar minha tensão ao me ver apático, encarando o coquetel.

Esse é de abacaxi e morango. Estou testando novos sabores disse animado, degustando a bebida.

Ele é viciado nisso.

Balancei a cabeça e soltei um riso fraco e forçado.

Hum... Foi tudo o que eu disse.

Enquanto isso, os outros três soldados da guarda pessoal colocavam uma nova coleira, cheia de espinhos venenosos, em meu pescoço e tiravam meu traje. Eu continha as partículas de sóis que queriam estalar no ambiente e matá-los. Mexi o pescoço com agonia quando eles me furaram e senti o gelo tentar combater meu calor.

Entrei na gaiola de crocidolita, e eles me afundaram no oceano de gelo. Não estava preparado para o momento em que eles tirariam a energia da criação à força de mim.

Eu era um reservatório ambulante.

O gelo corria violentamente pelas minhas veias. Junto ao poder latente que eu possuía também vinha o fardo de ser o rato de laboratório da Corte a qual pertencia. A Corte a qual a minha alma estava amarrada.

Meus bons deuses, como isso doía!


O Festim dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora