Capítulo 23

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Não consegui dormir direito a noite toda, tirava pequenos cochilos de hora em hora.

Preocupada.

A preocupação era uma sensação constante. Eu ficava mais tensa aqui do que sozinha no céu aberto da floresta do lado de fora. Eu odiava o fato de estar dentro da barreira e com poucas armas.

A segunda badalada do sino do templo principal acabara de soar. Já eram duas horas da manhã. Isso era uma das poucas coisas que eu gostava em Efávim: eles marcavam as horas com badalos de sino. Era muito mais fácil assim do que adivinhar pela posição do sol.

Os mais ricos tinham relógios de bolso.

Levantei-me e desci para pedir o café. Depois, fui ao banheiro para me lavar. Tudo bem pagar a mais por um pouco de água quente para aliviar os nervos. Demorei no banho.

Voltei para o quarto para tomar café. Alguma coisa me incomodava. Olhei ao redor, e havia uma pequena fresta na janela que permitia uma leve corrente de ar. Eu havia me certificado de que a janela estava bem fechada e travada na noite anterior. Então fui até a janela e olhei para baixo.

Não havia nada.

Parei para escutar os sons da estalagem. Tudo o que ouvi foram roncos dos hóspedes e um pequeno movimento no térreo. Talvez fosse apenas minha imaginação. Quando me dirigi até a mesa e olhei para a bandeja de café, senti apreensão, minhas mãos tremeram.

Um pequeno rolo de pergaminho com um selo vermelho, que rezara aos deuses para nunca mais ver, estava junto ao copo. Minhas mãos começaram a suar em gotículas minúsculas de suor, que também desciam pela curva da minha espinha. Com calma, peguei aquele embrulho e tirei o selo. Minha garganta secou.

Em meio a todas as suas infinitas características ruins, achei que a que menos se destacaria seria o abandono completo da família.

A propósito, ao contrário de você, sua mãe sente sua falta. Venha se juntar a ela... dentro de uma jaula.

Lá fora você pode até ser inalcançável. Mas aqui dentro... Achou que ficaria na barreira por tanto tempo e não seria achada por mim?

Estou sempre de olho em você.

Volte para Casa, Seraffine.

— Assinado, Papai. d.b.a

Senti uma pontada no peito, o ar fugiu dos meus pulmões como um ladrão.

Eu preciso sair daqui.

Agora!

Coloquei as mãos na cabeça, o suor escorria pelo meu rosto. Minha respiração saía em palpitações ofegantes e beirava o desespero. Amassei o papel na mão. Acalme-se, disse a mim mesma.

Às vezes, não importava o que eu fizesse, ou o quanto me esforçasse, para tentar segurar as rédeas da vida firmemente com as duas mãos, ela continuaria indo, indo e indo ladeira abaixo, rolando aos tropeços, e não haveria nada que eu pudesse fazer para impedir.

Meus olhos ardiam. Em minha mente, eu via a imagem de Elow e Thomas felizes se estilhaçando em mínimos pedacinhos, como um copo de vidro. O que eu esperava estando quatro dias na cidade? Já podia sentir a terra sobre os meus pés e minha pele formigava. Coloquei a bolsa ao lado do corpo, peguei o punhal, bebi rápido o líquido quente e enfiei o pão, o queijo e o biscoito dentro da sacola, eu não tinha tempo para comer.

Com cautela, abri a porta do quarto, mas não havia nada no corredor. Eu sabia, era uma caçada, e eu era o rato.

Desci as escadas, dois degraus de cada vez, apertei o passo e coloquei uma moeda de ouro junto à chave do quarto no balcão, que não havia ninguém. O térreo estava estranhamente vazio. Vesti o capuz, pulei pela janela lateral e saí na madrugada.

Era um jogo, era sempre um jogo.

Ele gostava de saber que sempre estava um passo à minha frente. Quando estava muito abaixo na rua, virei-me para olhar e vi três homens encapuzados entrando pela porta da estalagem.

O último não entrou, ele se virou para mim, sorriu e começou a descer a ladeira correndo em minha direção.

Quebrei desesperadamente o primeiro beco que vi.

O Festim dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora