Capítulo 11

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Amélia


Quando acordei, eu estava realmente caindo e tive a certeza de que não havia me amarrado ao galho. Primeiro, senti meu corpo cair para o lado e descer três galhos abaixo no qual estava sentada.

Por quanto tempo eu dormi? Ainda era noite?

Abri os olhos em queda livre. O dia era uma sombra distante que chegava aos poucos. Ainda era madrugada de Solstício de Inverno e meu corpo se encontrava letárgico pelo sono. Meus olhos se arregalaram quando viram em qual árvore eu havia subido. Enquanto caía, vi ela se transformar em uma árvore de tronco negro, com folhas brancas.

Não, você não. De novo não!

Prometi que iria esquecer você.

Se revelando com essa cor e essa forma, sabia bem que árvore era essa, e de onde eu a conhecia. Era mesmo uma árvore sagrada. Eu apenas queria distância dela.

O baque surdo da lateral do meu corpo atingindo a madeira negra veio logo depois. A dor explodiu dentro mim. Um galho mais fino se partiu sob meu peso, e farpas entraram na minha perna direita, ferindo a carne. Uma sensação gelada se espalhou pelo meu corpo, e engoli um grito.

Tudo aconteceu rápido.

O chão parecia estar quilômetros abaixo, enquanto eu despencava com tudo, sem conseguir agarrar nada, os galhos desviavam das minhas mãos, se movendo.

Eu odeio essa árvore.

Quando alcancei a terra, nem a neve impediu a sensação de me chocar contra o chão duro. Arquejei. A dor reverberou pelos meus ossos. Meus olhos queimaram como fogo, mas não deixei as lágrimas caírem. Encolhi-me no chão, lutando para abrir os olhos e acalmando minha cabeça, pois o mundo parecia girar e se converter em círculos.

Engoli o xingamento.

Sangue escorria pela minha perna atravessada por um pedaço de galho. Fui me arrastando pela neve até a mochila. Encostei-me a um tronco, abri o rasgo da calça. Era feio, a lasca de madeira estava enterrada profundamente dentro da carne. Ofeguei, reunindo coragem para puxar. Coloquei o cabo da faca entre os dentes. Gritar não era aconselhável. Não eram somente os ominuns que vagavam por aí.

Fora da Primas One.

Eles eram o agouro da terra. E se os ominuns eram os piores, as criaturas que vagavam pela floresta não eram muito menos perigosas do que eles. Porque em Illumyia tudo era perigoso.

Eu não havia fugido por dias para ser encontrada de novo.

Sangue escorria pelo chão formando uma pequena poça. Respirei fundo reunindo coragem.

Um, dois, três...

Puxei o pedaço de madeira. Grunhi com o cabo da faca cravado entre os dentes enquanto tirava as farpas pequenas. Pressionei a ferida para estancar o sangramento, peguei um frasco, destampei e derramei um líquido transparente e antisséptico sobre a ferida.

Queimava de forma insuportável. Ofeguei de dor, segurando as raízes no chão, procurando um apoio, um lugar físico para me ancorar, enquanto o líquido borbulhava sob minha pele negra e o fedor de azedo subia até o nariz.

Era isso ou infeccionar.

Eu respirava, e parecia que o ar nunca chegava aos meus pulmões, nunca se convertia em oxigênio. Meus olhos ardiam como duas brasas. Peguei um pequeno estojo metálico. Minhas mãos tremiam sem parar, tentava sem sucesso me afastar do choque da queda, acalmar-me e reunir coragem suficiente para enfiar a linha no pequenino buraco da agulha para me costurar.

Com uma mão, juntei os dois lados da ferida; com a outra, segurei a agulha.

Encarei a ferida aberta.

Agarrei-me à coragem que eu não possuía e enfiei a agulha na carne. Meus dentes rangeram contra o cabo da faca mais uma vez. Soltei grunhidos de dor. Enquanto eu puxava a agulha, sentia a aspereza da linha atravessando o buraco da pele e os lados se unindo aos poucos.

Só mais uma volta, repetia para mim mesma, e enfiava a agulha novamente.

Minhas mãos tremiam mais cada vez que a agulha se aproximava da pele. Só mais uma volta, eu repetia como uma oração. Suando e tremendo, consegui costurar aquela ferida. E, mais uma vez, apaguei.


O Festim dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora