Parte 2 - Primeiro reencontro

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Pran estava com os amigos conversando após a aula, quando reparou num rapaz alto e bonito que andava do outro lado da rua. Mesmo sua orientação sexual sendo de conhecimento dos seus amigos, ele não fazia alarde ao ver alguém por quem se interessava. Discretamente, acompanhou o caminhar lento e determinado daquela pessoa. Seu coração bateu descompassado a cada novo detalhe que observava, os braços fortes, as mãos grandes, o maxilar definido, o cabelo preso em um rabo de cavalo, até sua orelha era interessante. Ele era gostoso. E familiar.

Pran sentiu um bolo no estômago se formando ao perceber que era Phat. Todo aquele encantamento que estava surgindo se transformou em raiva e seus pensamentos ficaram confusos. Ele disse aos amigos que não se sentia bem e ia para seu dormitório.

"Não esquece que a gente tem que tocar no bar hoje a noite!" Wai gritou e ele acenou de volta afirmativamente.

Deitado na sua cama, olhando para suas luzes sorridentes penduradas na parede, ele tentava lembrar quanto tempo não o via. Ele tinha mudando tanto.

Pran sempre esteve envolvido em vários trabalhos da escola ou em programas com os amigos e os mais-que-amigos, por isso, mesmo sendo vizinhos, Pran quase não via Phat quando ele voltava para casa do colégio. Não que Pran se importasse, afinal ele é quem foi abandonado na escola... Talvez fosse melhor não pensar mais nisso.

Ele via Pa com frequência nos shows. Ele sabia que ela desafiava o pai e era uma coisinha perigosa para quem não a conhecia. Com ele, no entanto, a relação sempre foi boa, porque ambos se admiravam e se sentiam confortáveis juntos.

Nunca verbalizaram, mas era um acordo implícito de não revelar essa amizade improvável para ninguém. Eles também não falavam sobre Phat. Muitas vezes, Pa arrumava problemas e Phat era penalizado e, em várias dessas situações, Pran a consolou, mesmo sem precisar dizer o motivo, pois sabia que ela amava o irmão e não gostava de ver o que o pai fazia com ele.

Pa, comparada ao irmão, era pequena e delicada, tal qual sua mãe, mas era feroz quando provocada. Tinha grande capacidade de discutir e argumentar, quase de forma agressiva, e poderia reagir da mesma forma fisicamente, pois era ágil em seus golpes e o efeito surpresa sempre dava uma vantagem.

Ele pegou o telefone para ligar para a amiga, mas desistiu. Era ele. Ele sabia que era ele. E daí? O que poderia fazer? Eles ainda precisavam competir? Não fazia sentido, afinal ele cursava arquitetura e o outro engenharia.

Para tentar acalmar os pensamentos, ele começou a arrumar o quarto, limpar suas coisas, separou a roupa para lavar e foi tomar banho.
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Phat caminhava para encontrar seu grupo de estudos e lia o folheto das atividades dos calouros e pensava quantas delas ele ainda seria obrigado a participar, já que as aulas tinham começado há quase seis meses.

Ele chegou na biblioteca para encontrar seus colegas e Korn foi o primeiro a cumprimentá-lo. Era muito bom ter seu amigo na mesma faculdade, ele se sentia muito mais confortável com o ele por perto.

Nesse dia, se estivesse estudando sozinho, ele teria terminado muito mais cedo, mas como o grupo era grande, as distrações e brincadeiras atrasavam seus esforços. Algumas vezes ele se sentia incomodado. Hoje, no entanto, foi divertido e, no final, até aceitou ir ao bar para comemorarem.

"Quem comemora um trabalho de meio de semestre do primeiro ano? Até parece que esse é o trabalho de conclusão do curso.. ." Phat resmungou de brincadeira.

"Temos que comemorar cada pequena vitória, Khun Phat!" Chang recitou como uma oração. Todos riram e concordaram e, logo em seguida, foram chamados atenção porque ainda estavam dentro do prédio da biblioteca.

A noite prometia ser cheia de diversão, contudo se tornou um pesadelo assim que pisaram no bar. A banda de Pran estava tocando e Phat sentiu seu coração parar. Ele não o via há alguns meses e não se importava com ele. De modo algum. Ele era completamente irrelevante. Então por que aquela raiva e pressão voltaram para seu peito?

Phat tentou se distrair, mas a voz daquele cara, seu sorriso bobo e sua alegria contagiante estavam em todos os lugares. Não, ele não queria ser atingido por essa alegria. Ele tinha rancor e, por isso, bebeu.

Seus amigos incentivaram no começo, batiam palmas e gritavam a cada copo virado. Observando o estado do companheiro, Korn tentou impedi-lo de continuar e, por mais que Phat fosse pacífico, ele era grande e ameaçador quando ficava bravo.

Do outro lado do bar, começou uma discussão. A banda estava no intervalo e, pelo que foi possível entender, o vocalista conversava ao lado de uma garota e de um rapaz e, de repente, não dava para entender quem estava brigando com quem.

Mesmo bêbado, Phat reconheceu sua irmã. Ela gritava e chutava com violência e Pran, o maldito Pran tocava nela. Phat se levantou em fúria, com os punhos para cima. Ninguém ousou ficar entre ele e a confusão. Pa foi a primeira a ver o irmão e gritou para que ele parasse, mas já era tarde e seu punho acertou a bochecha de Pran. Graças a quantidade de álcool em seu organismo, seu soco, apesar de forte, não pegou em cheio.

Pran tentou se esquivar e caiu sentado; Pa puxou o irmão para fora do bar no momento em que os grupos da arquitetura e engenharia iniciaram um briga generalizada.

"Phat, seu burro, o que você fez?" Pa gritava, puxando-o para a rua.

"Aquele imbecil estava machucando você! Eu vi ele te segurando. O que eu deveria ter feito? Deixar ele te machucar???" Phat respondia falando rápido sem respirar "E porque VOCÊ está aqui!? Se o pai souber, ele ME mata." Ele concluiu, respirando pela primeira vez.

"Pran estava me segurando porque eu ia dar um soco naquele babaca que encostou em mim. Eu já tinha chutado o saco dele. Ele abaixou e a cara dele estava mais perto da minha mão..." Pa contava como se fosse nada. Ela percebeu o olhar do irmão "Desculpa. Eu queria ver o show. As meninas do colégio são loucas pelo Pran e a gente fugiu..."

"Paaa..." ele suspirou cansado e triste "faltam menos de seis meses pra você se formar no colégio, não faz esse tipo de besteira."

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Pran voltou para o seu quarto ainda sem entender o que tinha acontecido. Aquele filho da p... Ele não acreditava nisso, a única coisa que o fez rir foi pensar que ele ainda era um idiota.

Foi assustador ver a aproximação dele, com seus olhos ferozes e punhos erguidos. Pran tinha certeza de que ele iria atacar aquele babaca que se esfregou em Pa, mas de repente, era no seu rosto que mão dele veio parar.

No palco - Bad Buddy MultiversoOnde histórias criam vida. Descubra agora