Parte 8 - Desorientado

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Phat estava em pé, inerte, sem nenhuma sinapse acontecendo dentro do seu cérebro.

Ele tinha corrido do quarto de Pran sem pegar suas roupas tamanho o choque que teve após beijá-lo. Nem tinha sido um beijo de verdade. Os lábio só se encostaram e eles se separaram. Porém não era errado falar que foi um choque, porque ambos sentiram faíscas nesse pequeno contato.

Ele tinha esquecido de sua irmã, então quando abriu a porta e as viu se beijando, ele travou. Ele se sentia como uma grande máquina que não era capaz nem de responder aos comandos básicos, estava completamente bugado, sem saber como reinicializar.

Pa correu atrás de Ink, mas ela já estava no elevador. A garota se virou para o irmão, ainda paralisado entre a porta e o corredor, e deu um soco na sua barriga. Não foi um golpe duro, no entanto foi com mais força do que ela já tinha usado em outras ocasiões.

Phat se contorceu.

"Desculpa! Eu esqueci.... eu precisava ir.... Eu... desculpa.." ele quis se justificar em vão e correu para o banheiro.

Depois de lavar o rosto e se encarar no espelho, ele decidiu que se não pensasse sobre o que aconteceu, logo não tinha acontecido nada! Seu foco deveria ser o beijo de Pa e Ink e ele precisaria conversar com a irmã.

Qual era a lógica disso? Nenhuma, mas era a única linha de pensamento que ele conseguiu formar naquele momento: esquecer e seguir em frente. Certo da sua decisão, ele abriu a porta e respirou fundo. O cheiro de Pran estava em todo seu corpo e inundou sua alma. Ele gemeu por causa dessa perturbação.

"Pa! A gente precisa conversar!"

"Também acho! Por que você não bateu antes de entrar?"

"Eu já falei, esqueci que vocês estavam aqui. O que tá acontecendo entre vocês?"

Pa abriu os braços, olhou em volta como se procurasse alguma coisa, se virou para ele novamente e respondeu:

"Nada! Era pra estar acontecendo alguma coisa, mas não ta acontecendo nada! E sabe por quê? Porque você entrou feito um maníaco aqui!"

Phat ficava fora de si com o jeito infantil de Pa. Ela sabia do que ele estava falando e simplesmente não se importava, não percebia a necessidade de conversar como uma pessoa razoável.

"Pa!! Nós dividimos esse quarto. Se você quer coisas acontecendo aqui, a gente precisa conversar direito!"

Ela sabia que ele tinha razão, só que sua raiva ainda era muito latente. Ela se sentou e cruzou os braços.

"Por que você entrou desse jeito? Você estava me sondando?"

Phat não conseguiu acompanhar o que sua irmã dizia; essa era a última coisa que ele imaginaria ser questionado.

"Não! Não, eu não tava te sondando. Eu... eu saí da .... enfim, eu esqueci que você estava aqui e precisava usar o banheiro."

"Você não deu descarga..."

"Oi!?" Phat levou a mão a cabeça com se isso fosse ajudar a encontrar sentido no que Pa falava. De todos os dias da sua vida, hoje seu cérebro tinha decidido ficar em modo suspenso. Phat, de boca aberta, a olhou completamente atordoado.

"Você entrou e foi ao banheiro, mas não deu descarga."

"Pa, não é sobre isso que quero falar!" Phat tentava trazer o assunto de volta ao ponto inicial.

"Ok, a questão é que eu gosto de Ink e você nos atrapalhou. Mas eu tô curiosa. Se você queria tanto ir ao banheiro, meu tapa não te fez fazer xixi na calça?" Ela riu e continuou "aí você entra lá, sai rápido e nem dá descarga? É curioso!." Ela o analisava "E por que você está usando as roupas do Pran?"

Era evidente o quanto Phat estava abismado com a percepção da irmã.

"Sim, eu quero falar sobre esse assunto agora" ela disse se recostando no sofá descruzando os braços, descansando-os sobre seu colo.

"Eu cheguei... ele... eu... você estava com a Ink... eu fui... ele.."

"Você e ele o que?"

"Nada!! A gente não fez nada!"

"Você quer dizer que você ficou com essa cara de besta e paralisado na porta só porque me viu beijando a Ink?"

"Paaa!! Que inferno! Eu cheguei no MEU apartamento..."

"Nosso."

"Eu cheguei do treino, vocês estavam juntas, Pran me convidou pra ir lá. Ele é cheio de frescura, eu tomei banho e vim pra cá e vocês.... vocês..."

"A gente tava muito bem, obrigada! Por que você está tão nervoso?"

"Pa!!!!!" Ele respirou fundo "Você pode namorar quem você quiser, mas só temos UM quarto. Eu preciso que você me avise quando posso vir pra cá. E esse quarto também é meu, não posso morar no corredor ou no telhado. Você pode ser racional?" Phat usou toda as suas forças para montar um pensamento linear.

Pa não estava certa sobre o comportamento do irmão, mas seu último argumento fazia sentido. Mais calma, ela ponderou e juntos os irmãos decidiram que o quarto seria uma zona neutra, porque era um espaço que eles precisariam dividir e não seria justo com nenhum deles se alguém tivesse que ficar para fora.

Com o acordo feito, Pa resolveu procurar Ink. Paciência não era sua virtude, então ela não esperaria até o dia seguinte para falar com seu amor. Sim, Pa estava apaixonada e Ink era a única pessoa que importava nesse momento.

Assim que ligou para ela, ouviu o celular tocando no sofá.
Pa pegou o livro e o telefone dela e avisou Phat que iria sair. Ela garantiu que não faria nada estúpido e, caso não encontrasse Ink, voltaria para casa antes das 22h.

Ela chamou um Grab e no meio do caminho pediu para mudar o endereço; não iria para casa dela, mas para a lanchonete.

Quando chegou, andou em volta do lugar e viu Ink em pé do lado de dentro, com o olhar perdido na paisagem externa. Ela se aproximou devagar e parou, do lado de fora, mas na sua frente.

Ink levantou as mãos e as colocou na parede de vidro e Pa fez o mesmo pelo outro lado e sorriu. Ink sorriu de volta.
Ink saiu e foi encontrar Pa e juntas caminharam até um dos bancos que ficava na margem do rio.

"Desculpa por ter saído correndo!" Ink olhava para baixo e brincava com o anel no seu dedo.

"Você está bem?" Pa perguntou e segurou sua mão "A gente está bem?"

"Eu fiquei com medo. Eu não quero que as coisas fiquem estranhas entre a gente, mas agora você sabe o que eu sinto."

Pa sorriu e acariciou os dedos de Ink.

"Bom, agora você também sabe o que eu sinto. Acho que a gente perdeu tempo demais!"

Ink estava feliz e acanhada ao mesmo tempo. Pa jogou os braços em volta do pescoço dela e se retraiu em seguida.

"Ai... minha barriga!" Ela riu se curvando pela dor e Ink tentou tocá-la com se isso fosse ajudar a diminuir seu incômodo. Pa enfiou seus braços em torno da cintura de Ink e apoiou sua cabeça no peito dela "É melhor assim!". Ink a abraçou, envolvendo seus braços sobre os ombros da garota.

No palco - Bad Buddy MultiversoOnde histórias criam vida. Descubra agora