Epílogo.

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Novembro de 3407.
Quatro anos depois da Grande Maldição.

Diana Ward escondeu seu filho atrás de uma estante quando um Celeste surgiu no meio do cômodo.

Se você nunca presenciou a aparição de um Celeste, permita-me descrever: primeiro há uma confusão nos sentidos. Uma respiração descompassada acompanhada de um formigamento nos pés. Ou batidas cardíacas confusas seguidas por tensão abrupta nos ombros. E depois de todos os seus sentidos gritarem: FOGE!, um clarão branco toma o lugar. Tão poderoso que faz você acreditar que está cego.

Então uma imagem se forma à medida que a luz se apaga, como se feita de pura magia em vez de carne e osso.

Essa imagem - você descobre, depois de encarar paralisado por um tempo que você não consegue distinguir - é o Celeste. Alta, esguia e corpulenta, a imagem do Celeste representa o Deus pelo o qual eles falavam.

Sim, os Deuses tinham a capacidade de falar por si mesmos, mas "corpos" e "Deuses", eram duas coisas que não se misturavam há muito tempo...

Os Deuses odiavam se comunicar com a humanidade. Fato. Eles eram mais velhos que ela. Mais velhos que a forma de viver dela: carne e osso. Para eles, se materializar era a coisa mais desconfortável do planeta. Resumia seus poderes de forma ridícula e patética. Porém, a humanidade evoluiu e dominou o mundo que os Deuses criaram, e por isso eles precisaram se intrometer nessa evolução.

Existe um bando de boatos de como os Deuses passavam suas mensagens pela natureza (por constelações, folhas, pétalas, galhos tortos, pedras e até acidentes naturais), mas a humanidade tinha línguas demais. Interpretações demais, diferentes uma das outras, espalhando sempre a errada. Por isso, cada Deus escolheu um humano para representá-lo e passar suas (raras) mensagens.

Assim os Celestes foram criados.

E desse modo, as pessoas que testemunhavam a quase histórica aparição de um Celeste, afirmavam que era impossível não saber qual Deus um Celeste representa ao encara-lo.

Quando Diana conseguiu finalmente olhar pro Celeste que surgiu em sua biblioteca, ela percebeu que isso era verdade.

E que, novamente, Norcos, a Deusa do tempo, tinha uma mensagem pra ela.

Ou, Diana pensou, uma ameaça.

A Celeste na sua frente, Tempus, tinha um cabelo preto pro alto, como uma grande nuvem negra ao redor da cabeça. Enfiado entre os fios crespos, estava dezenas e dezenas de... relógios. Pequenos, grandes, quadrados e redondos. Todos fazendo um tic tic tic interminável, numa jornada infinita. Os olhos eram verdes, porém diferentes dos de Diana. Enquanto Diana tinha olhos claros, o verde nos olhos de Tempus eram um musgo. Às vezes escurecia, como se mesclando com uma segunda cor presente na íris.

- Diana - disse ela, em cumprimento.

- Tempus - devolveu a rainha.

A Celeste acariciou o corset por cima do vestido branco e longo que usava.

- Diana - começou, dessa vez em outro tom - juro que tento ser respeitosa, mas pra em qual canto do mundo foi seu juízo? Norcos está furiosa com você.

Diana quase revirou os olhos. Qual era a dificuldade de dizer: "Seu juízo foi pra puta que pariu?"?

Em vez disso, ela sorriu.

- Não sei exatamente - respondeu ela, tentando usar o mesmo tom formal que nunca dominou direito. - Talvez em Astéria, quando fui mostrar meu filho pra Ellie.

Tempus franziu os grossos lábios e ignorou o sarcasmo dela.

- Você quebrou um dos princípios do tempo, Diana Ward. Amaldiçoou o próprio reino.

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