Capítulo 1 - Mudanças.

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"Astéria, 5 de abril de 3403.

Amada eu,

Como sabe, eu sempre escrevo pra você quando estou confusa ou coisas demais acontecem em minha vida.

Pra começar: Faz três meses que vim morar com Chase, meu namorado.

Sabe, meu pai sempre disse que, se quiséssemos casar com uma pessoa, teríamos que morar com ela por pelo menos três meses. E Chase sabe dessa história, então, quando ele pediu que eu fosse morar com ele, não é atoa que todos da minha família suspeitaram.

Hoje, no trabalho, ouvi alguém dizendo que provavelmente me casarei. E isso me causou um misto de sensações. Mamãe me disse uma vez: quando alguém me perguntar se quero casar com ela, é para eu pensar bem. "Casar significa ter aquela pessoa em todas as decisões que você for fazer, não importe qual seja. E mesmo que essa pessoa não faça essa decisão com você, talvez o que você escolher pode afetá-la. E assim vocês vivem, fazendo parte um da vida do outro durante 24 horas por dia. Todos os dias".

E se tem uma coisa que prometi pra você, amada eu, é que sempre serei sincera contigo. Mesmo que o mundo esteja caindo lá fora.

Quando acordo, Chase me deixa bilhetes em cima do criado mudo, dizendo: "Te amo". Quando chega em casa, apenas xinga o trabalho. Não pergunta se quero ajuda na cozinha, pergunta como foi meu dia, me beija na testa e vai dormir.

É assim todo dia.

Nossa relação foi se desgastando, aos poucos. Existem excessões, como a da semana passada, que fazemos sexo, mas é o máximo.

Me lembro de quando estávamos na faculdade e ele sonhava em ser algo que hoje parece um sonho distante e juvenil. Nós tínhamos planejado tudo isso, sabe? Morar juntos, casar, nos apoiar pelo o resto da vida.

Percebo agora: É muito fácil se perder numa rotina. Num jeito de viver. É muito fácil não perceber as coisas que você está perdendo se permitisse sair dessa rotina ao menos uma vez. E se eu não ganhasse bilhetes de "Te amo"? E se eu quisesse sair e passar a noite toda fora ao em vez de ir pra casa? E se não quisesse a companhia das louças, após ao jantar? Como posso conviver com uma pessoa que não muda, que não varia? Não saí de casa uma vez na semana para avaliar o céu e respirar ar puro? Como posso viver com alguém que está constantemente insatisfeito com o que tem, mas não se permite sonhar mais alto?

    Não me entenda mal. Não discutimos por coisas bobas, mas não aproveitamos as boas. Naquela casa é tanta paz que se torna solitário. Não brigamos, mas não nos aproveitamos. Parecemos dois colegas de quarto, que estão sempre ajudando um ao outro, mas nunca se tornam mais que apenas colegas.

Percebo agora, amada eu, que planejamos uma vida tão perfeita, que não temos problemas para enfrentar. Não temos objetivos para cumprir, não temos motivos para evoluir. E se me perguntassem: "Aceita isso, Ellie Marshabell?" Eu diria de imediato: "Não".

Por isso, vou embora.

    Amores são feitos para somar. E Chase não me diminui, mas também não me acrescenta. Somos um eterno sinal de igual, e por isso preciso procurar outras contas.

Com amor,
Ellie (você mesma)."

Coragem Ellie, pensou, enquanto colocava a carta em cima do criado-mudo.

    Chase chegaria primeiro e ela não estaria perto para vê-lo ler. Era bom estar longe, porque ainda não tinha certeza se isso era o certo. Terminar seu relacionamento, voltar pra casa dos seus pais... Viver de volta com sua irmã como se ainda tivesse 20 anos. Parecia uma realidade jovem e livre que ela havia deixado para trás há anos. Com essa idade, alugou um apartamento espaçoso no centro. O mesmo lugar que ela havia deixado há alguns meses para morar o (agora ex) namorado.

Destinados [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora