Capítulo três: take me to the lakes where all the poets went to die

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CAPÍTULO TRÊS

Eu tinha uma prateleira inteira dedicada aos Lake Poets. O título referia-se a um grupo de poetas ingleses que viviam no Lake District, na Inglaterra, na primeira metade do século XIX. Eles eram do movimento romântico. O nome veio como derrogatório a princípio e a maior parte dos romancistas posteriores tinham algum problema com os poetas do grupo, exceto com Wordsworth. Eu gostava de todos eles.

Wordsworth era um poeta da natureza, mas também da relação orgânica entre humanos e o mundo natural. Para ele, a região era um espaço para consolo, enquanto Coleridge a via com potencial para terror psicológico — ele enxergava elementos góticos nas passagens. A segunda geração era mais interessante para o público geral: Keats viveu lá antes de vir para a Escócia e encontrar a inspiração que ele procurava, sob a influência do Robert Burns.

Um dos livros de Wordsworth era um verdadeiro guia turístico para explorar a região, com menções a lugares e descrições de cenários. Eu tinha feito o percurso um pouco antes de retornar para a casa, depois que deixei Nova Iorque, e foi o melhor passeio que eu fiz em toda a minha vida. Consegui captar o que ele queria dizer com: "... Na verdade, eu não conheço nenhuma extensão de território em que, dentro de um espaço tão limitado, possa ser encontrada uma variedade igual nas influências de luz e sombra sobre os aspectos sublimes ou belos da paisagem."

Com o sino da porta, saí dos meus devaneios. Eu deveria estar limpando as prateleiras, mas estava com livros abertos e espalhados pelo chão ao meu redor. Me ergui e fui até a entrada apenas para encontrar a Srta. Swift parada no centro da minha livraria outra vez com uma bolsa de crochê em formato de gatinho que era uma gracinha.

— A velha casa dos Wood está fechada para reformas — ela anunciou assim que me viu.

— Sinto muito — respondi com sinceridade, o pano de tirar pó em minhas mãos. — Não sabia, mas faz sentido, afinal, é uma mansão muito antiga. Dizem que é uma das casas mais antigas do país, mas como Woodvale é pequena e escondida, ninguém se importa muito. Há outros pontos turísticos por aí, no entanto. Já notou o teleférico?

— Será que essa reforma vai durar muito? — ela perguntou enquanto abraçava a si mesma e perscrutava o espaço com curiosidade. — Eu ia ficar por poucos dias.

— Bom, não sei te responder isso — disse, e a observei ali, parada e abraçada a si mesma por alguns segundos. O suéter perolado de crochê, a calça verde com boca de sino e o mesmo par de botas pretas de ontem. O seu cabelo estava solto e úmido. — O que tanto procura naquela casa?

Ela mordeu o lábio inferior antes de dar passos hesitantes até o balcão, onde apoiou os cotovelos.

— Minha avó me contava estórias sobre Woodvale — ela disse, brincando com o pingente de coração do colar. — Na época eu achava que era um lugar inventado. Uma terra mágica para me entreter. Só descobri que era real depois que ela morreu, porque havia um endereço atrás de uma foto dela. Rua dos Narcisos, número 89. Eu nem sabia que ela era escocesa. — ela suspirou, abriu a bolsa e tirou o livro que lia anteriormente, colocando-o sobre o balcão. — Nem era para eu estar aqui.

— Você comentou que errou a entrada.

— Eu ia para John O' Groats, — respondeu a Srta. Swift. John O'Groats era um vilarejo em um dos pontos mais setentrionais de toda a Grã-Bretanha. Era absurdo imaginar que ela saiu de Londres para chegar lá. Eram doze horas de carro, sem contar as paradas. — mas perdi uma meia dúzia de placas e estava acabando a gasolina, então apenas... Não sei, Woodvale foi a 13° placa que vi diante de uma bifurcação... achei que fosse um sinal. Agora não tenho certeza.

Eu parei atrás do balcão e a encarei.

— Minha mãe costuma dizer que Woodvale é o destino de todas as almas perdidas. Para serem encontradas, quero dizer. Ou encontrar algo.

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora