Capítulo seis: Now I know I'm never gonna love again

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Na semana seguinte, Taylor passou todo o meu expediente em uma mesa nos fundos da loja com seus caderninhos cheios de anotações e uma velha máquina de escrever. Ela se recusava a escrever em um computador, e achei que isso era uma curiosidade que merecia respeito.

O som das teclas era divertido e pude brincar com alguns clientes que o fantasma de uma escritora vivia ali — isso despertou genuína atenção dos turistas que chegavam a cada dia.

Logo, não foi uma surpresa quando a prefeita Martha adentrou a minha livraria. O seu terno vermelho berrante e suas grandes jóias douradas combinavam com o cabelo castanho-claro curto e ondulado e as bochechas rechonchudas.

— Maude! — ela exclamou com sua voz naturalmente aguda. Todos os seus trejeitos eram exagerados, mas divertidos, e embora um pouco inconveniente às vezes, Martha não era uma pessoa ruim. — Estou a sua procura faz muito tempo. Temos que discutir diversos tópicos. Samhuinn será em três semanas e acho que será um desastre. O prefeito de Stonehaven propôs que nos uníssemos na manhã do dia 31 para uma "amigável" competição de abóboras esculpidas e depois que fizéssemos apresentações de danças druidas e, então, prova de pratos típicos para decidir qual cidade celebra o melhor Samhuinn, com direito a uma matéria em um dos maiores jornais de Edinburgh! Eu tive que aceitar em nome da honra dos nossos munícipes, mas isso é um completo desastre, Maude! Se perdermos, não teremos ninguém na fogueira à noite. Todos os nossos turistas irão para Stonehaven e, ah! Eu espero que você tenha uma solução para isso.

Martha me encarou com expectativa.

—... Ganharmos a competição? — mordi o lábio.

— Como, Maude? Como?

— Martha, acho que mamãe Abigail adorará ficar responsável pela organização desse... concurso que vocês criaram. Minha mãe Emma e Stephanie vão se juntar para cuidar da parte gastronômica... Ah, o Oliver Campbell pode auxiliá-las também e podemos chamar a Fiona e as crianças da escola para cuidar da dança. Na verdade, minha irmã voltará de viagem depois de amanhã e ela faz alguma eletiva de dança, tenho certeza.

— Fiona Mitchell, da loja de roupas?

— Sim, ela mesma! — respondi empolgada.

— E o labirinto?

— Que labirinto?

— Bem, — Martha deu uma meia volta na livraria. Foi quando reparei que a máquina de escrever da Taylor estava silenciosa. — o prefeito de Stonehaven estava se exibindo sobre como ele contratou um circo temático e eu deixei escapar que teríamos um gigantesco labirinto de feno na praça principal para as crianças com pistas misteriosas que as levariam por uma enorme jornada até um baú misterioso com um grande prêmio.

— Martha...

— E teremos um grande momento de contação de estórias sobre Woodvale e como estamos intrinsecamente ligados ao Samhuinn e seus valores de família, amor, magia e... Mas não temos um labirinto, um báu com um grande prêmio ou um contador de estória.

Uma lâmpada se acendeu na minha cabeça.

— Se a prefeitura pagar bem, — comecei lentamente — temos uma excelente contadora de estórias sobre Woodvale.

— Temos? — a voz curiosa de Taylor ecoou dos fundos.

— Temos? — retruquei a pergunta.

— Por um bom preço.

— Justo.

Martha pulou de susto.

— O fantasma da livraria fala!

— Pois é, — ri. Não pude imaginar que aquela pequena brincadeira tinha se espalhado tão rápido, mas a surpresa era inocência da minha parte. Estávamos em Woodvale, afinal. Todos já sabiam da suposta fantasma escritora nos fundos da minha loja. — ela fala e conta estórias por um preço... que é o dobro do mercado. Isso fica como tarefa sua. Quanto ao labirinto, podemos conversar com o William, o barbeiro Henry e até mesmo o ranzinza do Alexander. Ah, e o Nick, o melhor amigo da minha irmã.

— O dobro do mercado? — reclamou Martha.

— Ora, Stonehaven não terá uma contadora de estórias fantasma...

— Certo, certo... — ponderou Martha — Está certo, querida. Como sempre, os seus serviços à esta cidade são os melhores. Sorte a minha que você nunca quis seguir carreira política! Bom, hoje à noite farei uma reunião no meu gabinete e espero encontrar todas essas pessoas que você mencionou.

Quando Martha deixou a loja, Taylor emergiu dos fundos com os braços cruzados.

— Você fez negócios no meu nome. — ela pontuou.

— Te arrumei um excelente emprego, — corrigi com um sorriso convencido — porque o Samhuinn não é apenas o maior evento da cidade, mas de todo o norte da Escócia, Taylor. Você será filmada e, se ganharmos mesmo essa competição maluca que a Martha inventou, estará com o rosto estampado por toda Edinburgh e assim, nenhuma editora será boba o suficiente para desfazer um contrato com você e o seu livro terá um alcance financeiramente bom e esse é o objetivo, não é?

Taylor abriu um sorriso genuíno. Era raro, ela só oferecia esses que deixavam os seus olhos em uma única linha quando recebia aquela ligação misteriosa algumas vezes ao longo da semana. Embora não soubesse quem era a pessoa do outro lado da linha, eu esperava que ela soubesse quão sortuda era porque Taylor sorrindo tinha se tornado uma das minhas visões favoritas nos últimos dias.

— Obrigada, Maude.

— Você podia parar de me chamar assim.

— Maude — repetiu Taylor e colocou a língua para fora. Ela era adorável quando estava bem humorada. A pessoa do outro lado da linha deveria saber disso melhor do que eu.

— Taylor... Você acha que poderia cuidar da loja por trinta minutos? Preciso contar à algumas pessoas que elas têm cargos em uma competição que ninguém ainda sabe que existe. E, hoje à noite, você iria ao gabinete da Martha comigo? Não precisa falar nada, só... vou dizer que você é a nossa escritora e acho que isso seria importante para todos nós. Já que decidiu ficar aqui até o fim do mês, seria legal experimentar a vida real de Woodvale. Vou entender se não quiser. Mas, podemos ir e eu te protegerei como um cachorro grande e assustador.

— Você é no máximo um golden retriever, Maude.

— E você é um gatinho filhote. Isso é um sim?

— Não sou um... — Taylor refletiu por um instante —... filhote.

— Tanto faz, cara.

— Não preciso responder perguntas?

— Nenhumazinha.

— Certo, eu vou — ela girou o colar com o pingente no pescoço — É uma ótima oportunidade.

Resisti ao impulso de abraçá-la. Não sabia porquê. Na verdade, eu sabia. Eu a achei bonita desde o primeiro momento que observei os seus olhos azuis-acinzentados e então, tínhamos passado muito tempo juntas desde então, tempo o suficiente para criarmos uma pequena amizade e a minha atração por ela evoluir um pouquinho.

Mesmo que Taylor ainda mantivesse uma distância segura entre ela e todos ao seu redor, eu podia sentir que tinha atravessado um ou dois níveis e isso era incrível — mas não podia significar nada porque havia a pessoa do outro lado da linha do celular dela. Havia a sua data de partida. Por isso, me despedi brevemente e tentei acalmar o meu coração enquanto caminhava até o bistrô da Stephanie. Era apenas uma paixonite de outono, nem a primeira e muito menos a última.

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora