Capítulo quatorze: you'll always know me, dorothea

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No centro da praça principal de Woodvale havia uma estátua dos fundadores da cidade, Duncan Wood e sua esposa, a franco-escocesa Odette Vallée, que agora estava decorada com cabeças de abóboras e velas pretas. Os bancos de pedra ornamentados estavam cheios de caixas de papelão, os postes de luz de ferro forjado com arabescos foram acesos ao entardecer, quando a luz avermelhada do pôr-do-sol desapareceu no horizonte de florestas que nos rodeava.

Os arbustos de álissos deixavam um doce perfume pairando no ar. No coração da praça, eu e outros munícipes — o conhecido William que continuava sem banho, Henry da barbearia, Alexander da outra livraria da cidade, minha irmã Bailey, seu melhor amigo, Nick e minha amiga Hannah — estávamos ocupados com o labirinto de feno.

Primeiro, minha mãe Abigail fez um rascunho de como seria, e desde que chegamos aqui, fizemos algumas marcações no chão da praça. Então, Fergus, que tinha uma adorável fazenda de Highland Cows, vacas peludinhas e fofas, trouxe uma considerável quantidade de fardos de feno.

Os fardos de feno não eram pesados, mas a atividade em si de empilhá-los um em cima do outro o tempo todo era cansativa. Hannah, ao meu lado, parecia prestes a desistir.

— Sabe, Maude, se não fosse por você eu não faria isso. Eu queria ajudar com a parte do tesouro — comentou Hannah, com o cabelo loiro grudado na testa por causa do suor. — Mas como você sumiu nas últimas semanas, tive que dar um jeito de encontrá-la.

Henry, o barbeiro, achou uma boa ideia fazer um comentário.

— Maude virou guia de turismo e levou aquela escritora misteriosa para todos os cantos de Woodvale.

— Estou na livraria todos os dias, obrigada — retruquei em tom de brincadeira, embora soubesse que Hannah tinha razão. Coloquei mais um fardo de feno e assim, finalizamos uma das últimas paredes. — Mas deveríamos mesmo sair para tomar um café qualquer dia desses.

— Sim — disse Hannah — E aí você pode me contar sobre a garota.

— Eu quero saber também — adicionou Henry.

— Que garota?

Hannah me olhou como se quisesse me bater. Eu deixei um riso de lado escapar, porque o meu comentário foi mesmo bobo, mas não estava pronta para falar sobre Taylor porque não tinha ideia do que éramos ou se seríamos alguma coisa. Ela tinha uma vida para reconstruir em Londres e eu me manteria do mesmo jeito em Woodvale. Mesmo que apenas 12 horas de distância não fosse algo impossível, eu não queria criar muitas expectativas. Taylor ficaria ocupada com Dodie, então era demais assumir que ela estaria preocupada com uma situação mais séria entre nós.

— A escritora — ela optou por responder sem sarcasmo — Todo mundo quer saber o que ela tem de tão especial para te encantar assim, a ponto de você sumir. Quero dizer, como sua melhor amiga, eu sei que essa sua fachada de galã de filme esconde um coraçãozinho mole, mas nunca vi você tão ocupada com uma turista qualquer.

— Vai ver que ela não é uma turista qualquer — opinou Henry.

— Não sei do que vocês estão falando — insisti em manter minha expressão séria.

Hannah fez alguma provocação que não ouvi, porque nesse instante a caminhonete da minha mãe parou na rua ao lado da praça e Taylor saiu do carro para ajudá-la com os quadros. Nossos olhares imediatamente se encontraram, e eu sorri, mas Taylor desviou sua atenção para Hannah e estreitou os olhos, com um olhar profundo, sobrancelha franzida e boca tensa.

Eu não sabia se deveria ficar com medo ou... com outra coisa.

— Bom, ela deve saber — disse Henry com as sobrancelhas arqueadas — Hannah, já escreveu o seu testamento?

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