Capítulo vinte: If I can't relate to you anymore, then who am I related to?

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Sentei-me no chão do quarto da Maude com as costas apoiadas na beira da cama. Em minha mente, estava prestes a vivenciar um solene momento, merecedor de castiçais vitorianos, uma floresta mágica e, quem sabe, até mesmo uma cabana antiga.

Os três diários de Lorna Wood estavam espalhados na minha frente, e encantei-me com o cuidado dispensado a cada um, com as palavras de Lorna suficientemente claras para que eu pudesse passar o resto da tarde e início da noite desbravando sua vida e segredos. Fazia muito tempo desde que me sentia tão animada para ler uma história.

À medida que tocava aquelas páginas amareladas de pergaminho, com movimentos lentos e cuidadosos para não arruinar a seriedade de tudo, fui transportada de volta às memórias da minha avó, Dorothea. Ela me segurava nos braços e sussurrava promessas de uma terra distante e mágica, onde não existiam pais alcoólatras nem mães insuportáveis.

Ela descrevia Woodvale como esse pequeno lugar bucólico e escondido em algum lugar longe de Nova Iorque, um local misterioso de onde ela vinha. Mesmo na minha infância, não conseguia acreditar nessas palavras, e era surpreendente como agora era tão fácil para Dodie acreditar em fadas, sereias e tudo o que era maravilhoso e mágico.

Era tão fácil para ela se agarrar a esse tipo de crença, sem um mundo real cruel para arruinar sua pequena e inocente bolha que eu tinha cuidadosamente cultivado.

Mas, ao começar a ler o primeiro diário, imagens da vida de Lorna se infiltraram em minha imaginação em uma trama de linhas douradas, criando belas e antigas paisagens escocesas. Eu podia visualizar seu rosto de olhos azuis e os cabelos ruivos intensos de sua amante. Conseguia sentir o cheiro da umidade da grama da terra após a primeira chuva da primavera. Podia ouvir os cascos dos cavalos batendo no chão enquanto corriam, um som oco entrelaçado com a sensação forte da brisa em seus rostos. Conseguia ver os antigos castelos se transformando em ruínas, a floresta sendo derrubada pelos colonizadores ingleses, a dança dos druidas e toda a antiga magia e glória de Woodvale.

Eu estava sozinha no quarto de Maude, e nenhum fantasma do meu passado podia me assombrar enquanto mergulhava nestas páginas. Mas, à medida que virava página após página, meus olhos ficavam mais pesados, as imagens se intensificavam e, em algum momento, não conseguia mais distinguir se era tão boa em imaginar cheiros de madeira e chuva ou se de alguma forma tinha acabado em uma floresta de abetos, pinheiros e carvalhos.

Olhei ao meu redor, confusa. Parecia que estava amanhecendo. Neve macia permeava o caminho de abetos com suas folhas verdes e carvalhos desnudos. Senti um fraco aroma de biscoitos de Natal. O céu, embora quase todo escondido por causa da copa das árvores largas e extensas, tinha feixes de um sol fraco se infiltrando e criando pequenos círculos de luz.

Logo percebi que não estava usando o pijama que havia colocado, mas sim um vestido longo e esvoaçante branco-gelo adornado por pedras da lua, com mangas bufantes, e meu cabelo estava solto e cacheado, muito mais comprido do que realmente era. Estaria eu sonhando? Devo ter adormecido... Mas este lugar parecia tão... familiar.

Decidi atravessar um bosque próximo, e foi quando uma peculiar iluminação que não vinha do sol surgiu. Uma trilha de pinheiros se abriu com uma única linha serpentina dourada pairando na neve branca e ouvi um fraco miado que parecia vir de um gatinho filhote. O procurei pelo som fino e agudo e o encontrei escondido debaixo do tronco de uma árvore, um gato peludo com um chapéu branco de sino que eu reconhecia em qualquer lugar.

— Píppi? — sussurrei, desacreditada. Me agachei perto dele, com medo de acordar desse estranho e familiar sonho. O gato olhou para cima, e me perguntei se ele poderia me reconhecer. Píppi. — Faz quase 27 anos desde a última vez que nos vimos, não é? Consegue se lembrar de mim?

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora