Capítulo doze: what a shame she's fucked in the head

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Eu não sabia quanto tempo havia se passado. Meus olhos embriagados não suportavam a luz vinda da pequena janela do cômodo. Minha visão estava turva, e eu podia ouvir vozes, mas não conseguia distingui-las.

O chão frio e duro contra minhas costas parecia suave, trêmulo, e poderia ter sido confortável se não fosse pelo cheiro azedo e penetrante ao meu redor. Pensei que talvez tivesse vomitado sobre mim mesma, mas não podia ter certeza, e eu não me importava.

Meu pescoço doía pela posição — eu estava de frente para a parede à esquerda há horas — a parede amarelada que eu e a Lori tínhamos pintado juntas quando nos mudamos pela primeira vez, no quarto onde decidimos que queríamos ter um bebê, perto da cadeira onde contei a ela que estava grávida e próximo ao piano em que escrevi todas aquelas músicas para ela — provavelmente desmaiei assim.

Talvez eu estivesse alucinando. Eu podia ver o rosto dela. Seus olhos castanhos, que sempre pareciam que estavam me engolindo inteira e eu caía feliz. O toque áspero da mão dela no meu rosto e como ela me segurava pelo queixo e dizia que me amava — ela me amava. Mesmo que só amasse quando eu era uma tola e estúpida estudante universitária rondando o restaurante que Lori sempre frequentava entre os turnos do hospital. Esperando que ela me visse. Implorando para ser amada.

Lori me amou até eu ser demais, como sempre acontecia.

Minha mãe havia me alertado quando disse que estava saindo de casa. Eu sempre pediria por muito tempo, muito espaço, e ninguém conseguiria me tolerar. Fiquei surpresa que Lori tenha durado tantos anos. Mas ainda assim, no meio da minha tontura, da minha névoa alcoólica, eu podia senti-la como sentia meu cabelo no pescoço, podia traçar as pintinhas em seu rosto como se as tivesse desenhado eu mesma. Eu as desenhei por inúmeras noites, em nossa cama, em nossa casa.

Por que tudo que eu tocava se transformava em cinzas?

Ela se foi — eu solucei e levei a mão ao rosto, ela voltou com manchas de álcool e pedaços nojentos e mastigados de macarrão que eu havia comido no hospital mais cedo — Lori não me amava mais. Mesmo após três semanas no hospital sem sequer uma visita ou ligação sua, eu pensei que Lori estava apenas profundamente irritada. Ou apenas trabalhando demais. Ou preocupada em manter Dodie longe da minha bagunça.

Ouvi a porta se abrir e rezei silenciosamente para que não fosse a Dodie.

— Puta que pariu — eu não a vi, mas sabia que era a Sra. Endicott. Esperei até que seus caros sapatos marrons entrassem no meu campo de visão sobre o tapete, mas parecia que ela tinha três ou treze pés. — Bem, você realmente se superou desta vez, Taylor. Você está coberta de vômito e cheira como se cem pessoas tivessem vomitado aqui. Há literalmente uma mancha de vinho no piano. Parabéns.

Senti uma lágrima rolar pelo meu nariz, mas não consegui me mexer. Não estava certa se conseguia sentir todas as partes do meu corpo. Então, senti outra onda de náusea e de repente meus olhos ardiam, e a parte de trás do meu pescoço parecia ter sido atingida por mil agulhas, mas ainda assim não fiz nada para sair daquela mesma posição maldita e desconfortável, porque era o que eu merecia.

Abri a boca para falar, mas uma onda de vômito me dominou e só consegui levantar a cabeça um pouco para não sufocar. Senti o líquido quente escorrendo pelo meu pescoço e meu suéter, e meu estômago doía pela tentativa de colocar tudo para fora.

— Desculpa — engasguei, e então vomitei mais um pouco. Não a encarei. — Eu sinto muito.

A Sra. Endicott não se moveu.

— Eu te dei tantas chances, minha querida — ela disse tristemente. Sua voz tremia, como se estivesse chorando também. Arrisquei olhar para cima, só um pouco, e vi como ela estava apoiada na parede com as mãos atrás das costas numa tentativa de resistir ao impulso de me tocar. De me confortar como sempre fazia. Eu também havia falhado com ela. Ela também ia embora, eu sabia. Eu havia arruinado tudo desta vez. — Eu lutei tanto por você, Taylor, e sinto que foi minha culpa por não conseguir te salvar. Eu sabia desde o início que você era boa demais, pura demais para a Lori. Droga, você acha que não conheço a pequena sociopata que criei? Mas você... Ah, querida, eu tinha tantas esperanças para você. Você tinha tanto potencial. Eu também sinto muito. Não consigo te salvar. Acho que ninguém pode. Você está quebrada além de qualquer conserto, receio, e é uma pena, porque você teria sido brilhante, se não fosse tão fodida da cabeça.

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora