Capítulo dez: But you tolerate it

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N/A: se serve de consolo, eu também chorei.


O quintal estava muito longe e já havia cacos de muitas garrafas no chão, com aquele líquido pegajoso e picante espalhado por todo o corredor até dentro do meu quarto, bem perto da porta do meu guarda-roupa, onde eu estava escondida.

A luz da lua que vinha da minha janela iluminava o riacho de líquido, e eu o imaginava como um lago mágico, um rastro prateado de magia indo direto para o portal de uma terra secreta e mágica. Eu, escondida atrás da porta do guarda-roupa, estava exatamente em seu limiar.

Olhei novamente para a porta do quarto, mas os gritos e vozes raivosas desapareciam em um redemoinho de névoa dourada.

— Taylor — alguém me chamou. Havia um senso de urgência na voz da velha mulher. Ela soava antiga e sábia, no entanto. — Taylor, feche a porta, agora! Ele está vindo! Ele vai pegar você!

— Quem é você? — perguntei à voz que vinha de dentro do meu guarda-roupa. Eu não conseguia ver muito; minhas roupas e vestidos de segunda mão, o cheiro de madeira apodrecida e meu perfume de margarida. No entanto, também não conseguia ver o fundo do guarda-roupa, como se não houvesse fim.

Eu me encolhi no chão, assustada com as vozes distantes. Solitária.

— Não temos tempo, criança — disse a velha mulher de longe — Entre e feche a porta.

Ouvi passos familiares na escada, enquanto meu coração começava imediatamente a pular ansiosamente. O som pesado significava ameaça. A virada da maçaneta da minha porta significava que eu estava prestes a ser machucada novamente. Eu podia ver o rosto dele, enojado, mesmo antes de ele chegar.

Eu verifiquei a porta novamente e depois o chão. O riacho prateado mágico estava desaparecendo porque sua magia  não era páreo para o poder dele. Mas, enquanto eu estava prestes a fechar a porta, meu gato peludo Píppi pulou sobre o riacho e caiu no meu colo.

— Finalmente, Píppi — sussurrei.

E então fechei a porta enquanto um furacão prateado levava toda a magia embora. Eu podia ficar de pé dentro do guarda-roupa porque acabara de cruzar o limiar. O aroma ao meu redor também havia mudado — cheirava a madeira e a algo que me lembrava biscoitos de Natal. Meu entorno estava escuro, mas eu sentia uma certeza dentro do meu coração me dizendo exatamente para onde ir, então, com Píppi ao meu lado, mergulhei nesta floresta de escuridão e solitude.

Aos poucos, uma peculiar iluminação surgiu. Linhas douradas e cintilantes pendiam da escuridão acima de mim, feito lamparinas dançantes, e abriu-se diante de mim um longo corredor de pinheiros com neve branca debaixo dos meus pés. Olhei para baixo e vi que a blusa branca da escola, com uma desconhecida mancha vermelha desapareceu, assim como todo o uniforme — eu estava em um longo vestido cor de gelo com mangas bufantes e adornado por pedra da lua.

Píppi ganhou um chapéuzinho branco com um sino.

De súbito, me vi no topo de uma montanhosa colina que pairava sobre um bucólico vilarejo sombreado por pinheiros, abetos e iluminado por luzes em tons de vermelho, laranja e branco. Estava anoitecendo. Carruagens com belos e fortes cavalos carregavam crianças vestidas como eu; pessoas de todas as idades dançavam e cantavam ao redor de um chafariz com a estátua de um gatinho. No ar, pairava um aroma de caramelo e abóbora.

Quando alcancei a entrada do vilarejo, uma senhora corcunda cujo rosto assemelhava-se ao de minha avó Dorothea, com grandes e redondos olhos azuis e um cabelo cujo vermelho vibrante desaparecia em tons de branco e loiro queimado, estendeu o seu braço à mim.

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora