Capítulo dezesseis: time, wondrous time

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Havia uma agradável e escura luz azulada rondando a sala quando abri meus olhos. O frio atingiu meu corpo de imediato. Choveu a noite inteira, e ainda podia ouvir um agradável porém distante som de gotículas d'água contra o telhado e o seu pingar nas folhas mais altas das árvores. O orvalho do amanhecer fazia-se presente no vidro embaçado das janelas. Me ajeitei nas cobertas felpudas, com um desconforto na região do ventre, quando senti um par de olhos em mim.

A chupeta de Dodie se movia devagar para cima e baixo enquanto ela me encarava, não mais deitada no peito de Taylor, mas com a cabeça no sofá e as pernas no meu colo, que eu só havia percebido agora. Ela não parecia exatamente acordada, mais como se estivesse abrindo os olhos entre os cochilos.

— Ei, — eu disse suavemente, e escovei seus cabelos selvagens para fora do rosto. Antes que eu pudesse continuar, Dodie fechou os olhos e virou-se, levantando o braço de Taylor para encaixar em seu peito novamente, com uma mão em sua orelha e uma perna sobre sua cintura. Taylor, ainda dormindo, a acomodou ali e apoiou o queixo sobre sua cabeça. — Tudo bem.

Quando acordei de novo, meu ventre estava latejando por causa da cólica. Soltei um resmungo de dor, e puxei minhas pernas para cima. Estava claro. Apesar de nublado, não havia mais sinal algum da chuva da madrugada. Me espreguicei no sofá e olhei para o lado, para encontrar Taylor acordada com uma mão acariciando os cachinhos de Dodie, que estava encolhida debaixo das cobertas.

— Bom dia — sussurrei, e Taylor ergueu seu olhar.

— Oi, Maude — bocejou Taylor — Dormiu bem?

— Mais ou menos — murmurei — Comecei a sentir cólica pela madrugada e agora está pior.

Taylor arqueou as sobrancelhas, preocupada.

— Tem algum comprimido aqui? Eu posso pegar para você.

— Sim... Está na segunda gaveta da cozinha, aquela abaixo dos talheres.

— Certo... — Taylor levantou-se cuidadosamente do sofá sem acordar Dodie, se aproximou de mim e me deu um beijo na bochecha antes de ir para a cozinha.

Ela voltou em alguns minutos com um copo d'água e o comprimido.

— Eu trouxe uma bolsa de água quente porque também tenho cólicas fortes, posso aquecer a água para você?

Engoli o comprimido e bebi a água.

— Eu adoraria, na verdade.

— Ok.

Quando Taylor retornou, coloquei a bolsa acima da calça de moletom para não queimar minha pele e suspirei de alívio com a sensação agradável e quentinha que se instalou na região. Dodie se mexeu um pouco em seu sono, se afastando para a ponta do outro lado do sofá, então Taylor aproveitou para se deitar entre nós, com o rosto virado para mim.

Ela ergueu a cabeça e acariciou meu rosto suavemente.

— Quer algo mais? Eu posso buscar. Se quiser, posso ir à farmácia ou buscar algo na casa das suas mães? Quer se deitar na sua cama? Uma massagem, talvez? Eu também sei fazer soro caseiro ou... um chá de camomila, se quiser.

— Estou bem, linda — sussurrei — Mas obrigada.

— Você é tão bonita, — sussurrou — é como se você fosse uma representação visual do que a poesia deveria ser. Ou, como... conhece o poema "Recreação" da Audre Lorde? "... Tocando você, eu capturo a meia-noite, enquanto chamas lunares se acendem na minha garganta..."

— Não acho que seja tão poética assim.

— Ah — Taylor franziu a testa — Estamos invertendo os papéis hoje? Você é quem está sendo cuidada e se sentindo insegura, ao invés de mim?

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora