Capítulo treze: I haven't met the new me yet

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— Com licença? — murmurei com a voz baixa, espiando para dentro do estúdio de arte da Sra. Bell. A porta estava entreaberta e eu parei por um instante na soleira, temerosa de encontrar aquela mulher que me assustava um pouco.

Entretanto, vi apenas um belíssimo punhado de pinturas e molduras antigas em um canto, cavaletes, tintas e pincéis ao redor de um escrínio e rascunhos em folhas amareladas pendurados na parede.

— Sra. Bell?

— Pode entrar, Swift — disse, com sua voz grave e desinteressada.

Engoli em seco. Talvez isso não tenha sido uma boa ideia. Desde que cheguei aqui, fiquei com a impressão de que a Sra. Bell me achou um pouco esquisita. Ela tinha esse olhar penetrante com uma expressão fechada, de quem aguardava que o outro desse um passo em falso a qualquer momento.

Quando adentrei o estúdio e ela girou na cadeira, não me encarou de um jeito diferente do normal. Engoli em seco outra vez.

— A Maude te pediu para vir aqui, eu suponho.

— Isso — murmurei, com as mãos inquietas. — Ela disse que você precisava de ajuda.

— Sim, — a Sra. Bell se levantou e seu cabelo grosso castanho de raiz acinzentada balançou no rabo-de-cavalo firme. Seus olhos escuros eram estreitos e ela, sem cerimônia, me perscrutou de cima a baixo. — preciso separar alguns quadros, colocá-los na caminhonete e limpar algumas coisas por aqui também. Você pode começar pelos pincéis, mas não precisa me olhar com essa cara de cachorrinho abandonado. Eu não mordo. Quero dizer, mordi a orelha fora de um cara uma vez que tentou me agarrar, mas ele mereceu. Você já mordeu alguém?

A sua filha ontem, pensei em silêncio.

— Não... desse jeito — resmunguei, e dei às costas para ela o mais rápido possível. Havia uma pia no lado direito, atrás de alguns cavaletes, e levei uma pequena lata com pincéis para limpar ali. O silêncio que caiu foi perturbador, talvez apenas para mim, que estava nervosa. Emma fazia-nos sentir relaxados e seguros, mas a Sra. Bell era uma presença desconcertante. — A... minha filha, quando menor, gostava de receber mordidinhas nos pés.

Encarei-a de vesgueio. A Sra. Bell estava de cócoras diante de um quadro, concentrada.

— Ah, crianças amam isso — concordou a Sra. Bell — Quantos anos sua filha tem?

— Cinco — respondi — Ela vai fazer seis em dezembro, no dia 13, que é meu aniversário também. — adicionei, porque era uma informação que eu queria que todos soubessem — Ela está com os avós, mas eles estarão aqui para o festival e se tudo der certo, — se eles não decidiram brigar pela guarda dela de vez — nós vamos passar o nosso aniversário juntas aqui. Na verdade, o meu plano é o Natal inteiro porque é o meu feriado favorito e eu passo o ano inteiro esperando por essa época do ano e ouvi dizer que aqui vocês têm fazendas de árvores de Natal e eu sempre quis levar a Dodie para conhecer uma porque elas são simplesmente encantadoras e eu sei que ela vai gostar... Ah, mas enfim, eu estou falando demais.

A Sra. Bell riu com escárnio.

— Por favor, — ela acenou com descaso — o único motivo pelo qual não estou tagarelando sobre a minha filha é que ela é adulta há pouco mais de uma década e, você tem sorte de não saber disso ainda, mas quando eles crescem parece que todo mundo sabe sobre suas vidas... exceto a própria mãe. Então, sua menininha se chama Dodie?

— Dorothea — murmurei. Então, com um pouco mais de confiança, enquanto passei a secar os pincéis, continuei: — Dorothea Mae, mas como Dorothea também é o nome da minha falecida avó, eu acabei a apelidando de Dodie. Dodie gosta do Natal quase tanto quanto ela gosta do Halloween. Eu só não tenho certeza se ela vai gostar de Woodvale porque moramos em uma cidade grande e... onde tudo acontece o tempo todo, mas ela sempre quis conhecer o oceano e acho que isso vai convencê-la a gostar daqui.

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora