Capítulo vinte e um: could've followed my fears all the way down

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Sentei-me no chão e todo o quarto girou.

— Mamãe? — chamou Dodie, e tentei com dificuldade me focar no som de sua voz. Uma outra vozinha no fundo da minha mente implorava para que eu buscasse a garrafa de bebida mais próxima. Ou a lâmina no meu estojo de maquiagem. — Mamãe? Você teve um sonho ruim?

Minha mente estava em um turbilhão. Eu assenti várias vezes, zonza, e mordi meu lábio. Precisava fazer algo antes que cedesse aos meus desejos. Olhei ao redor do quarto, procurando meu estojo, tentando lembrar onde o deixei da última vez que o usei. Provavelmente foi quando estava brincando na cama com a Maude.

— Mamãe? — chamou Dodie novamente. Forcei um sorriso. — Mamãe, você parece que está com dor.

— Estou com muito sono, filha — menti — Vou ao banheiro, por que você não vai ficar lá embaixo com a Maude? Ela está dormindo no sofá.

— A Maude acordou agora a pouco — disse Dodie com um sorriso — Ela está cozinhando uma comida com um cheiro muito gostoso!

— Tudo bem, pode ir ajudá-la então? E, pegue aquele estojo ali no canto da cama para a mamãe, por favor.

Dodie olhou o estojo e mordeu o lábio. Eu estava ansiosa para que ela saísse do quarto logo porque precisava ficar sozinha e resolver essa minha bagunça antes que eu fizesse algo estúpido e que traria consequências piores do que alguns dias de dor e novas cicatrizes. Passei a palma da mão suada na testa e empurrei toda a minha franja para longe do meu rosto.

Encarei Dodie com um tremor crescente em minhas mãos. O suor ao redor do meu pescoço aumentou também e por isso respirei de alívio quando Dodie foi buscar o estojo de maquiagem, segurando-o em suas mãos e encarando-o com um olhar que não consegui decifrar. Então, Dodie parou diante de mim, e abriu o estojo.

Meu coração quase pulou para fora.

— Você quer um batom ou o... — ela perguntou, e passou os dedos nos cílios para imitar o movimento do rímel. Por um momento, eu quis gritar, mas não o fiz porque isso não tinha nada a ver com ela. Eu só precisava que ela me desse o estojo e descesse as escadas. Debaixo dos meus dedos, segurei o tapete com força. — Ou o espelho, mamãe? Posso pegar para você.

— Apenas o estojo.

Dodie piscou algumas vezes e me entregou.

— Vai demorar muito, mamãe?

— Não — forcei outro sorriso — Me espere na cozinha, já vou descer.

— Tudo bem — concordou Dodie.

Ela abriu a porta do quarto, fechou-a e desceu as escadas. Quando tinha certeza que Dodie estava no térreo com Maude, me ergui com certa dificuldade, entrei no banheiro e tranquei a porta. Torci para que Maude não viesse me procurar por enquanto, queria que ficasse ocupada com Dodie por tempo o suficiente para que eu pudesse resolver essa questão. O problema era em que lugar do meu corpo eu faria isso. Da última vez, não me cortei, mas consegui algumas manchas grandes e doloridas no meu queixo e costas — Maude provavelmente se recordaria. Ela também havia reparado nas cicatrizes das minhas coxas, e a verdade era que não teria como fazer isso sem que Maude descobrisse cedo ou tarde. Maude não era Lori. Ela faria perguntas, ela veria, ela saberia.

Abri o estojo e procurei a lâmina. Uma dor de cabeça pungente começava a se espalhar da minha têmpora esquerda para toda a minha cabeça, um sinal de uma enxaqueca. Tudo isso por causa de um patético sonho que abriu dezenas de gavetas com memórias que eu não queria lembrar. Era sempre assim: algo pequeno desencadeava uma avalanche de lembranças, pensamentos e dores, então eu estava de volta ao alucinante desejo de me embebedar até que tudo fosse embora. Era tão bom perder a consciência aos poucos, sentir a tontura trazer uma certa leveza, um alívio — um silenciamento do mundo.

WOODVALE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora