CAPÍTULO 30| FOGUEIRA

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A madrugada avança na Reserva como uma fera silenciosa, envolta em uma escuridão profunda que apenas as estrelas ousam perfurar. O ar é fresco, carregando o aroma terroso das folhas úmidas e da madeira que queima com uma constância tranquilizadora. No centro da clareira, uma fogueira se ergue, suas chamas estalando vivas enquanto lançam fagulhas que sobem ao céu, desaparecendo entre as constelações. A luz laranja e pulsante projeta sombras dançantes nos rostos dos lupinos reunidos ao redor, criando uma tapeçaria de expressões relaxadas, sorrisos preguiçosos e olhares vagos. Quase todas as noites, os membros da Alcateia encontram seu refúgio nesse local. É aqui, nesse círculo de fogo, que a tensão acumulada durante o dia se dissolve. 

As risadas ecoam entre as árvores, as conversas fluem com a facilidade de quem conhece a alma de seus companheiros, e, para alguns, o prazer fugaz de substâncias é o que torna esses momentos ainda mais vívidos. Entre as escolhas mais notórias dos lupinos está o pó esverdeado, conhecido como  Pó do Lobo. Essa substância, de origem misteriosa e envolta em lendas antigas, é mais do que apenas um estimulante—é uma porta de entrada para um estado de hiperconsciência. Quando inalado, o pó transforma o mundo ao redor em um mosaico de sensações amplificadas, onde cada som se torna uma melodia vibrante e cada movimento, uma dança hipnótica. Para alguns, o do Lobo oferece uma euforia selvagem, uma explosão de vitalidade que os conecta profundamente com seus instintos mais primitivos. Para outros, porém, ela oferece uma paz temporária, uma trégua silenciosa após um dia de trabalho árduo.

Likan, é um dos que já estão sob o efeito da droga. 

Ele ri mais alto, seus gestos são mais amplos, e sua fala, sempre formal pelo trabalho que exerce como mão direita do Alfa nos negócios, carrega agora um tom ainda mais solto, como se as palavras escapassem sem filtro.  Em uma das mãos, ele segura um pequeno frasco com o pó esverdeado enquanto na outra mantem uma caneca de Folhada, uma bebida forte feita de ervas fermentadas. O contraste entre as duas substâncias reflete perfeitamente a dualidade da alma de Likan: um pé na euforia selvagem, o outro na tentativa de encontrar alguma forma de paz. Com os olhos cinzentos brilhando de forma selvagem sob o efeito do pó de lobo, ele balança a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse ouvindo uma música que só ele podia escutar, enquanto segura o saquinho com pó de lobo em uma mão e a caneca comFolhada na outra. Ambos parecem  troféus de alguém que acabou vencendo uma batalha contra a sobriedade e está determinado a aproveitar ao máximo sua vitória.

—Monique — começou ele, as palavras saindo lentas e arrastadas, quase tropeçando uma nas outras — Aposto que você... nunca... NUNCA... tocou num macho na vida! Ou melhor, se tocou, foi só pra ver se ainda tava vivo, porque, sério, Monique, quem sobreviveria a isso?— Ele ri,  apontando para o abdômen trincado de Monique, com uma risada alta e descontrolada, como se acabasse de contar a piada mais engraçada do mundo.  A Folhada passava de mão em mão ao redor da fogueira, seus vapores quentes espalhando um calor reconfortante pelo corpo, quase como um abraço que derretia as preocupações.  Os outros lupinos ao redor da fogueira pararam de conversar, suas atenções se voltando para a interação entre Likan e Monique.  A Beta ergue uma sobrancelha, claramente não impressionada, mas também não totalmente surpresa. Ela conhece Likan o suficiente para saber que, quando ele está, no mínimo, extremamente chapado de pó de lobo,já  sua boca corria tão solta quanto seus pensamentos. A clareira fica em um silêncio expectante por um momento, enquanto todos esperavam a resposta de Monique.

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