CAPÍTULO 36| O CINZA DOS SEUS OLHOS

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A cabana afastada ao oeste da Reserva estava mergulhada em um silêncio opressor, quebrado apenas pelos soluços desesperados de Hazel. A pequena estrutura de madeira, escondida entre as árvores densas, parecia ainda mais isolada, como se o mundo inteiro tivesse se afastado, deixando apenas a dor e o desespero para preencher o espaço. Hazel permanece sentada em um canto da cabana, os joelhos dobrados contra o peito, os braços envolvendo as pernas enquanto as lágrimas caem sem parar. Sua mão pressiona a bochecha, onde o corte ainda ardia, como se quisesse se convencer de que tudo aquilo era real, de que o que tinha acontecido realmente...aconteceu.

 A dor era quase um alívio, uma prova concreta de que aquilo não era fruto de sua imaginação.

Mas, enquanto pressionava a ferida, sua mente a traía, levando-a de volta a um momento que ela queria desesperadamente esquecer. O rosto de Kain surgia em sua mente, lembranças de quando ele, com a mesma brutalidade, havia lançado aquela adaga contra ela, ferindo-a sem hesitação. A cicatriz mental daquele ataque ainda a assombrava, e agora, o corte em sua bochecha parecia se misturar com aquela antiga ferida, trazendo à tona um medo que ela pensava ter enterrado.

—Não...— sussurra para si mesma, tentando afastar as comparações, tentando lembrar que Lordian era diferente. —Ele é diferente...

Tudo o que havia acontecido naquela noite parecia borrado, como se a linha entre o passado e o presente estivesse se desintegrando, e Hazel lutava para não deixar que o medo do passado consumisse a realidade do que estava vivendo agora.

Alaska...— Dante se aproxima, a voz suave, mas cheia de uma preocupação sincera. Ele se ajoelha ao lado dela, tentando encontrar uma maneira de confortá-la, mas o desespero dela é tão avassalador que ele se sente impotente. Nunca havia visto alguém tão destruído, tão consumido por uma dor que parecia não ter fim. 

Mas Hazel não conseguia falar. Ela balança a cabeça, o rosto molhado de lágrimas, recusando-se a olhar para ele. A última coisa que queria era reviver o que tinha acontecido, as palavras cruéis de Lordian ainda ecoando em sua mente, cortando-a por dentro como lâminas afiadas.

—Eu... não posso...— sussurra, a voz quebrada pelo choro. —Não consigo... é como se... como se tudo estivesse errado, como se...

Dante estende a mão para tocar o ombro dela, tentando oferecer algum tipo de consolo, mas Hazel se encolhe, recuando como se o toque dele a queimasse. Ela estava perdida em um turbilhão de emoções, se sentindo rejeitada, como se a conexão que antes a sustentava agora a tivesse abandonado. Tudo o que ela tinha construído, todas as esperanças que tinha depositado naquela nova vida, pareciam ter se desintegrado diante de seus olhos. O médico, sentia o peso esmagador da situação, a angústia crescendo em seu peito enquanto observava o estado em que ela se encontrava. Ele a viu desmoronar, a dor no olhar dela era quase insuportável de testemunhar. Com um suspiro pesado, ele solta um dos braços dela por um breve momento, apenas o suficiente para alcançar o bolso de sua calça, de onde retira um lenço limpo.

 Ele precisava fazer algo, qualquer coisa, para tentar ajudar.

—Alaska, por favor...— murmura, a voz cheia de desespero e uma gentileza que ele esperava que pudesse alcançá-la de alguma forma. Com cuidado, ele começou a limpar o sangue que escorria da bochecha dela, o corte deixado pela mão de Lordian ainda fresco, a dor ainda crua. Cada movimento era suave, quase hesitante, como se temesse causar mais dor do que ela já estava sentindo. Enquanto passava o lenço delicadamente sobre a ferida, Dante sente o coração apertar ainda mais. Ele sempre soube que Hazel era especial, desde o momento em que ela foi trazida à sua clínica, ferida e assustada. Ele a viu lutar, se recuperar, e de alguma forma, criar um espaço dentro dele que ele mal conseguia entender. E agora, vê-la assim, destruída pelo Alfa que ele próprio havia confiado um dia, era uma dor que ele não sabia como processar.

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