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Um mês. Hoje faz um mês do assassinato de Adam e as caisas ainda estão enroladas. Eu nunca me acostumo com como a justiça é lenta.
Todos os processos, cada etapa. Eu sei que o judiciário está sobrecarregado, mas ainda assim daria para ser mais rápido. Pelo menos é o que eu acho, e principalmente em um caso onde ninguém está atrás de desvendar um mistério. O assassino já está atrás das grades e tem toda a intenção de se declarar culpado. Até de mais.
Louis não se abstém de nenhuma parcela de culpa, ele não apresenta motivação para o crime, não fala de nada com ninguém. É um caso fácil mas que me deixa possesso por tão pouca informação. Eu não terei nada a fazer perante o juiz, apenas sentar ao lado do meu cliente e esperar pela sentença.
Os investigadores não conseguiram nenhuma testemunha em potencial. Aparentemente a família de Louis sumiu do mapa, já foram a Doncaster atrás de alguém e nada. No trabalho, Louis era adorado pelos outros funcionários e pelo chefe. Todos os descreveram como um cara gentil e respeitoso.
Não condiz com um assassino. Eu sei.
Acredito que logo vão desistir de tentar achar alguém para testemunhar contra meu cliente. Nem sei porque estão se dando o trabalho, Louis já confessou e fará novamente em frente o Juiz. Caso encerrado, é só bater o martelo e deixar que ele crie fungos em uma cela nojenta.
É domingo e eu estou aproveitando minha folga. Não da forma que a maioria das pessoas costumam aproveitar mas do jeito que EU amo aproveitar: jogado no sofá, comendo bobeira e assistindo séries de investigação na TV. Zayn está no norte do país e só volta no final da próxima semana.
Estou no último episódio da temporada, animado com o desenrolar da história quando ouço a campainha tocar. Olho o relógio do celular ao meu lado, que marca quase seis horas da tarde e estranho. Não costumo receber visitas, ainda mais sem avisar. E ainda mais, esse horário.
Pauso a TV e caminho até a porta um tanto entediado, até pensei em fingir que não estava em casa mas a campainha tocou mais duas vezes seguidas, o que me convenceu a atender.
O que foi um erro. Percebo assim que encaro a mulher na minha frente.
- Oi. Você é o advogado do meu filho. - Ela não pergunta, afirma.
Ela não me reconhece de imediato, percebo, no entanto eu nunca esqueceria seus olhos azuis e seus longos cabelos escuros.
Meus olhos ficam presos por um tempo no rosto da mulher, só desvio o olhar por alguns segundos para olhar a garotinha que está ao seu lado. Os mesmos olhos azuis, com cabelos um pouco mais claros.
Noto a mulher me olhando em expectativa e me lembro que ela deve estar esperando que eu ao menos abra a boca para falar algo.
- Harry Styles. - Digo, estendendo a mão para cumprimentá-la.
- Johannah Tomlinson. - Ela segura minha mão em resposta. De fato ela não se lembra de mim.
- E-eu sei que... não é o melhor momento, sr. Styles, mas eu gostaria muito de poder falar com o senhor alguns minutos sobre o caso do meu filho, Louis Tomlinson.
Ja sinto um bolo se formar em meu estomago. Eu não espera ver Johannah mais na minha vida. Para falar a verdade, eu esperava não ver nenhum Tomlinson nunca mais.
Empurro qualquer sentimento ruim para algum lugar bem escuro, onde eu não os veja e abro mais a porta, convidando-as a entrar. Johannah e a garota se sentam no sofá enquanto eu me acomodo na poltrona que fica um pouco ao lado.
- Certo. Sobre o que a senhora quer falar. - Inicio. Já que ela não o fez.Estou surpreso já que nem a polícia foi capaz de encontrar mais ninguém dessa família e agora ela simplesmente bate na minha porta.
A mulher permanece me encarando. Vejo ela abaixar a cabeça com a mão na testa e a ouço sussurar meu nome repetidas vezes.
- Tudo bem senhora Tomlinson?
- Ow, sim. Me desculpe. É que eu estou tão cansada sabe, as vezes acho que minha cabeça já não funciona tão bem quanto ates mais.
Engulo o desconforto de não saber se ela se lembra ou não que o filho dela foi meu primeiro namorado. E indico para que ela vá direto ao assunto.
- Eu te procurei porque não consigo conversar com meu filho. Eu não aguento mais isso. Preciso saber dele. Eu não posso visitá-lo, ele não aceita visitas. Harry, eu preciso saber, seja sincero, quais são as chances de Louis?
- Chances? Pergunto confuso, não sabendo exatamente o que ela quer dizer.
- Sim. Quais as chances de ele não ser condenado?
Concluo que ela não tem o visitado mesmo, por ela não estar a par da situação.
- Senhora Tomlinson, a senhora sabe que seu filho confessou um homi... - me interrompo, olho para garotinha ao lado da mulher e não sei até onde posso falar na frente dessa criança. - um crime, certo? - Johannah apenas assente, me olhando em expectativa, esperando que eu continue, e então eu concluo. - Não há nenhuma chance. - Digo firme.
Vejo o olhar da mulher a minha frente se transformar em surpresa. Ela não sabia que o filho havia matado alguém ou ela só realmente acreditava que ele poderia se livrar da cadeia?
- O que? Mas...como? Você precisa fazer alguma coisa. - Johannah se desespera e se levanta do sofá andando de um lado para o outro com as mãos do rosto. - Meu menino já sofreu demais nessa vida Harry, ele não pode ficar preso, não por causa disso!
Por causa disso? Essa mulher é louca ou o que? O filho dela é um assassino. Se ele não pode ficar preso por isso, ficaria pelo que então?
Estou pronto para responder exatamente isso a ela quando ouço pela primeira vez a voz da garota.
- Vovó, meu pai nunca mais vai voltar para casa? Eu não vou mais ver ele? - a menina fala já chorando e Johannah imediatamente volta a se sentar ao lado da garota e a envolve em seus braços. - É tudo culpa minha vovó.
"Vovó". "Meu pai".
Muita informação.
O que essa menina está dizendo? Ela é filha de Louis? Eu nunca soube sobre ele ter uma filha. Como deixei passar isso nos documentos do processo?
Ok, eu nunca mais soube de nada sobre ele mas... uma filha?
- Não diga isso meu anjo. Nada disso é culpa sua. - A mulher a conforta. - O único culpado é Adam.
Adam. O marido morto. Que na verdade foi a vítima.
Definitivamente acho que eu e Johannah não estamos falando da mesma história.
Meu rosto deve estar deformado em confusão ao que eu permaneço encarando as duas em minha frente.
- Harry - a mulher volta a me encarar, segurando o corpo choroso da menina em seus braços. - Eu li na Internet, eu não entendo nada mas eu li que legítima defesa é excludente de condenação. Eu... eu achei que... - ela bufa, soltando todo o ar que devia estar prendendo ha muitos dias. - eu achei que ele fosse sair.
Legítima defesa? O que eu não sei sobre esse caso?
Quase tudo, eu mesmo me respondo mentalmente.
- Legítima defesa? - Pergunto buscando entender. - Houve uma briga ou algo assim? Adam o ameaçou de morte?
Pergunto, mas sei que não houve briga. Foi a única coisa útil que Louis disse até agora. Ele socou o coitado do marido impiedosamente, sem dar chance alguma do outro revidar.
Sinto náuseas cada vez que penso nisso. Ele matou o próprio marido.
- Eu estou perdendo meu tempo com você. - Johannah diz e se levanta, segurando a menina consigo. - Você nem ao menos conhece o caso direito, é um absurdo que esteja defendendo meu filho. - Ela caminha até a porta. - Vou procurar outro advogado nem que eu tenha que vender tudo que tenho para pagar.
Quando ele alcança a maçaneta eu volto a mim, dou um salto do sofá para ir até ela depressa.
-Johannah. - Chamo. - Me desculpe. Olha, num caso como o do seu filho, o advogado de defesa é mais para garantir uma pena justa e não para ausentá-lo de culpa. Ele confessou. Não há nada a fazer quanto a isso. O meu trabalho é apenas fazer com que a pena aplicada leve em consideração que ele não resistiu, ele se entregou, é réu primário. - Digo rápido mas a mulher apenas balança a cabeça em negação e abre a porta. Eu me desespero e eu nem sei o porquê. - E você está certa. - digo e ela por sorte para para me ouvir. - Eu não conheço o caso. Desde que Louis se entregou ele não falou mais nada. Ele só abre a boca para dizer que não quer um advogado, mesmo ele já sabendo que não funciona assim, e para confessar o que fez e que não vai fugir das consequências.
Johanna da um passo para dentro da sala novamente, e torna a fechar a porta. Indico com a cabeça para que ela volte a se sentar e ela faz. Meus olhos variam dela para a garota que permanece com uma expressão completamente triste. Isso faz meu coração doer.
- Ele não contou a história toda? - A mulher pergunta.
- Não. A promotoria caiu matando para conseguir a motivação do crime. Mas ele não falou nada. Interrogaram algumas pessoas mas eu sei que eles não vão procurar muito. Em casos assim, onde o réu confessa, eles querem mais jogá-lo dentro de uma cela de uma vez e se pouparem de trabalho.
- Meu papai não pode ficar preso. - Me assusto com o grito da garota. - Você é um advogado bem ruim. Ele não pode ficar preso por machucar o Adam por abusar de uma criança.
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Confiar de novo
FanfictionDepois de anos, Harry reencontra sua maior decepção adolescente. Como advogado, ele terá que assumir o caso de um antigo amor. Lidar com os sentimentos que há muito jurava não existir mais e separar passado e presente pode ser mais difícil do que pa...