Capítulo 13

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Passo as palmas das mãos na calça social para secar o suor e me levanto assim que meu nome é chamado na recepção.

Sinceramente eu não sei mais o que falar para minha psicóloga. Ela deve estar me achando entediante e um fresco reclamão. A verdade é que eu não consigo contar toda a história que de fato está me deixado louco e então, fico repetindo a mesa ladainha toda sessão.

“Estressado com o trabalho. Cansado. Inseguro...” Esse tipo de coisa toda semana. E seguimos assim por mais um dia, até que vem a pergunta:

- O que seu marido acha do seu trabalho Harry?

O que Zayn acha? Não entendo o propósito dessa pergunta. Eu não falo de Zayn e não estávamos falando dele agora. E por motivos óbvios: Zayn não é parte do problema. Reflito por alguns segundos sobre o que ela pode estar querendo saber com essa pergunta enquanto a encaro, buscando por indícios de como eu deveria responder.

Nada.

- Como assim o que ele acha? – Questiono, já que não fui capaz de entender o que ela quer.

- Você diz que anda muito estressado e esgotado. Gostaria de saber como ele tem lidado com isso.

- Bom, ele não tem exatamente “lidado”. Zayn viaja bastante a trabalho e isso tem até sido bom. Exeto por ontem... – pigarreio pensando se preciso mesmo falar sobre isso. Mas acredito que essa coitada precisa de um pouco de entretenimento antes que ela mesmo me dispense. – Ontem ele voltou de surpresa e eu não estava em um dia bom. – Faço uma pausa e vejo que Anna apenas me olha esperando que eu continue. A serenidade dela as vezes me causa inveja. – Acabou que eu fui um pouco grosso com ele sem querer, mas no fim das contas, tivemos um sexo extraordinário, liberei toda raiva que eu estava sentindo. – Concluo com orgulho.

- Você fez sexo para descontar sua raiva? – Ela indaga ainda com uma expressão neutra.

- Aham. – Assinto com um pequeno sorriso. Foi um bom sexo. Anna apenas anota algo em sua prancheta, eu queria poder ler suas anotações.

- Raiva do que exatamente? De Zayn?

- Não. Sim. Quer dizer... eu já estava com raiva sabe.... por causa do... serviço. Aí ver que ele voltou antes do que tinha dito e não me avisou me deixou ainda mais irritado. Mas sei que foi só porque eu já estava a ponto de explodir.

- O que te deixou assim então?

- Meu trabalho.

- Sabe Harry, eu noto que você se esquiva bastante quando tento entender mais sobre o que tanto te perturba em seu trabalho. Também se esquiva de falar sobre Zayn. Então diga Harry, sobre o que você gostaria de falar?

Anna não está errada ao dizer que me esquivo quanto ao assunto trabalho. Eu comecei a terapia por conta do caso do Louis e esse é um assunto que eu não abordo. Não faz o menor sentido e eu sei disso. Quanto a Zayn eu não falo porque nossa relação é perfeita e não tenho o que falar sobre ele.

Por sorte ela não insistiu muito e logo nosso tempo chegou ao fim, eu apenas enrolei contando sobre minha irmã que resolveu se casar e me contou há alguns dias.

Pago pela sessão na recepção e sigo para meu segundo compromisso do dia. Esse eu tenho certeza que vai acabar comigo.

Adentro a cafeteria pequena e em um bairro afastado e logo avisto a mulher sentada a mesa já me aguardando.

- Johannah! – Me aproximo cauteloso e puxo a cadeira de frente a ela para me sentar. A mulher se levanta para um abraço mas eu recuo e estendo minhas mãos. – Desculpe. Mas devemos manter o máximo de profissionalismo. Os policiais estão atrás de você para conseguir informações e é melhor que não achem que estou te induzindo a nada.

- Tudo bem Styles. – Me sento a sua frente e peço um café à garçonete que se aproxima. Johannah segue me encarando de forma curiosa e assim que a moça se afasta com meu pedido, cruza as mãos sobre a mesa e se inclina com um sorriso no rosto. – Styles.  Como eu pude me esquecer? Você foi o namoradinho do Lou no colégio.

Congelo.

Era o que me faltava. Tem como ficar pior?

Pisco centenas de vezes em direção a mulher sem ter a menor ideia do que dizer enquanto a palavra “namoradinho” ecoa em minha mente. É isso. Na época eu acreditei que Louis Tomlinson era o amor da minha vida mas para ele eu fui um “namoradinho”. Claro que foi isso que ele disse à mãe.

- Eu sabia que você não era estranho. – a mulher continua, diante a minha falta de reação. – Aí quando contei à Lottie sobre nossa conversa e citei seu nome, ela se ligou na hora.

- Olha Johannah, isso foi há muitos anos e não creio que ajude em nada no caso falarmos sobre isso. Então podemos ir direto ao que interessa? – As palavras saem um pouco mais secas do que eu gostaria. Não era minha intenção ser grosseiro com Johannah, mas esse assunto me acertou em cheio e remexeu em uma caixa de memória há muito trancada dentro de mim.

- A. Desculpa. Tudo bem vamos lá. – A mulher ficou nitidamente constrangida, o que me faz sentir uma pontinha de culpa. Mas não pretendo prolongar isso.

- Me encontrei com Louis. Ele não quer mesmo relatar a história de Bella.

- Como não? Ele não pode simplesmente aceitar ser preso.

- Ele pode. E está disposto. – Tento ser firme e imparcial em minhas palavras. – Louis acredita que se contar a verdade estará expondo Isabella.

- Como pode Harry? Como ele pode querer abandonar a filha assim? – Engulo em seco ao ver as lágrimas se juntando nos olhos de Johannah. Não consigo imaginar sua dor ao ter um filho preso e uma neta completamente traumatizada.

- Você pode tentar falar com ele. – Dou a ideia já que algo dentro de mim grita para que Louis faça a escolha certa.

- Ele não aceita visitas. Meu filho não quer me ver. – Johannah deixa as lágrimas escorrerem e esconde os rosto com as mãos assim que a garçonete chega com meu café. – Você pode fazer algo Harry?  Por favor você precisa fazer algo.

- Eu posso tentar. Mas... Johannah, você precisa estar ciente do que vai acontecer caso Louis aceite mudar seu depoimento. – Digo calmamente, recebendo a atenção da mulher. – Ele está certo ao achar que Isabella será exposta. De fato. Ela será submetida à uma avaliação psicológica, vão investigar incansavelmente a veracidade da história. Ela não precisará depor e nem poderia. Mas terá que falar sobre tudo com um profissional indicado pelo juiz.

- Eu sei Styles. Isabella também está ciente disso. Ela é uma menina muito esperta. – Johannah esboça um pequeno sorriso e eu espelho seu gesto involuntariamente me lembrando da astúcia da garotinha que muito me lembra da petulância do pai. – Bella ama mais que qualquer coisa o pai dela. Se Louis for condenado estará condenado a própria filha também à uma infelicidade eterna.

Meu peito se aperta e engulo um nó na garganta. Sou incapaz de entender o quanto tudo isso mexe comigo . Meu coração dói ao pensar em todo o sofrimento de Isabella, uma criança nunca deveria conhecer a maldade do mundo, nunca deveria ter seu sorriso tirado do rosto.

- É isso Jay. – Deixo escapar o apelido que usava com a mulher há anos atrás. – é isso que você vai dizer para ele. Eu vou te levar até a prisão e você vai dizer exatamente isso ao Louis.

Confiar de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora