Capítulo 25

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🍀

Harry Styles



Quantas histórias nós cruzamos diariamente sem realmente conhecê-las?  Com quantas pessoas interagimos no dia-a-dia de forma tão superficial que nem ao menos podemos dizer que as conhecemos?

Nós sabemos o nome das pessoas, não quem elas são.

Reflito sobre isso terminando meu terceiro copo de cerveja esperando Niall voltar do banheiro.

As últimas semanas tem sido um caos. Dentro de mim. Por fora tudo tem seguido exatamente como tem que ser, e é isso que as pessoas vêm quando passam por mim: o advogado que segue ganhando um caso atrás do outro, com sua vida estável e uma casa bonita.
Mas a verdade sobre meus últimos dias é um tanto diferente.

Minha vida parece estar desmoronando.

Não me sinto satisfeito com meus casos na defensoria; sinto necessidade de ser desafiado, quero mais, parece tudo simples demais, fácil demais, sem graça demais. Sobra tempo demais para pensar.

Zayn está fodendo comigo e não é da forma que já foi um dia. Apesar de não termos sido casados oficialmente, o desgraçado sebe que nosso tempo morando juntos lhe respalda judicialmente para fazer suas exigências. Até Ares ele levou embora. Não sei o que mais ele quer já que ele mesmo ganha bem mais que eu.

Sem contar com as fotos que ele posta de casalzinho com sua amante. Não que eu esteja bisbilhotando as redes sociais dele e dela, nada disso, mas as fotos estão lá. E eu vejo. Fazer o que? Uma merda.

Percebi também que não conhecia verdadeiramente meu marido. Ex marido. Pois desde que coloquei um ponto final nas coisas, o Zayn extremamente amoroso, preocupado e gentil desapareceu, e agora um cara egoísta filho da puta ocupa seu lugar.

Foda-se.

Piora? Sim. Piora.

Eu não tô ligando para isso... porque eu não consigo parar de pensar em Louis Tomlinson.

É assim que piora.

Inclusive, tenho pensado e até sonhado a respeito do nosso “momento” no julgamento. De onde foi que eu tirei a ideia de transar com ele dentro da porra do fórum? Todo que sinto é a sensação do corpo de Louis contra o meu. Suas mãos apertando minha cintura com firmeza, sua boca na minha, seus olhos me queimando, sua pele. Meu corpo constantemente entra em uma espécie de memória física e eu sempre preciso me aliviar de alguma forma pensando no quão extraordinário foi ter Louis Tomlinson dentro de mim.

Louis, Louis, Louis.

Eu não o vi desde o dia em que deixei sua casa. Eu entendo verdadeiramente seu receio quanto a Isabella, quando ele diz precisar prioriza-la. Eu entendi, mas isso não significa que fiquei bem com isso.

Afinal, foi um processo. Um cansativo e longo processo. Foram anos e anos de negação,  anos e anos criando minha própria vida perfeita o suficiente para não pensar em Louis Tomlinson. E foram meses me reusando a olhar em seus olhos. Meses e meses tendo que lidar com o mal humor (sorrio mesmo sem querer com a lembrança da irritante teimosia daquele idiota). Foram semanas e mais semanas tentando entender os sentimentos que me engoliram até o último fio de cabelo, semanas fazendo o maior esforço do mundo para lidar com a frustração de perceber que esses sentimentos eram na verdade... eram... (estou exausto), eram os mesmo que existiam anos atrás. Os mesmo que queimavam cada pedaço de pele do meu corpo toda vez que ele direcionava seu par de olhos azuis para mim. Os mesmos sentimentos que me faziam flutuar e andar em ruas de arco-íris toda vez que ele me chamava de baby, os mesmos sentimento... ou o mesmo sentimento.

Amor.

É isso.

Dolorosamente tenho que admitir que é isso.

E sempre amei Louis Tomlinson. 

Eu não estive apaixonado por ele todo esse tempo. Eu nem ao menos gostei dele por todo esse tempo. Não. Longe disso. Mas o amor estava lá. Sufocado, escondido, camuflado. Beeemmm inacessível. 

A forma como Louis sempre enxergou minha alma com apenas um piscar em minha direção, garantiu que o amor sempre estivesse em um canto meu (ou em todas as partes) mesmo quando não havia paixão.

Louis me enxerga. E sempre foi essa a razão pela qual sempre amei seus olhos. Não porque eles são lindas esferas azuis que brilham refletindo um céu. Não porque já refletiram o céu limpo do meio dia de uma primavera e hoje refletem o céu cinzento e nublado do outono de Londres. Não. Não porque são lindas esferas azuis que facilmente refletem um tom verde dos meus olhos como se ele pudesse me tomar todo para ele. Não. Eu sempre amei os olhos dele porque, ELE. ME. ENXERGA.

Louis me enxerga. Ele adentra minha alma e vasculha cada canto da minha existência, e ele faz isso através das íris dos meus olhos, como se fossem a porta de entrada da minha vitalidade. É quase insuportável e dolorido olhar em seus olhos porque ele me . Eu fico nu diante de seus olhos, ainda que eu esteja coberto por camadas e camadas de tecido. Eu odeio isso.

Eu amo isso.

Eu amo Louis Tomlinson.

Louis Tomlinson. Em breve será apenas isso.

- Achei que tivesse se perdido no caminho de volta.

- Banheiro lotado. – Niall sacode os ombros enquanto acena para o garçom pedindo mais uma cerveja.

Foi um dia de merda no serviço.  Mais um. E eu só conseguia pensar que precisava da calmaria escandalosa que é Niall.

- Então... – Horan se ajeita relaxadamente na cadeira e dá o último gole na cerveja que já deve estar quente pela sua demora ao banheiro. – Você estava dizendo que Louis te mandou uma mensagem pedindo para você, resolver sei lá o que do nome dele.

- Anular o uso do sobrenome Davies. – Explico mal humorado.

- Certo. E você.... – Niall deixa no ar fazendo um gesto na mão para que eu fale a respeito.

- Não é minha área. E eu não pego casos particulares. – Dou de ombros, por que de fato, não há nada que eu possa fazer.

Nesta manhã eu estava torrando o que devem ser meus últimos neurônios enquanto Laura me passava mais um caso exaustivamente fácil e sem graça, quando meu celular apitou.

Louis.

Nós não nos falamos desde aquele dia. Eu quis mandar mensagens, quis ligar, implorar, suplicar. Eu quis correr até lá, bater em sua porta, olhar para ele. Eu quis que ele olhasse para mim. Mas eu não fiz. Eu não fiz porque eu não posso ser egoísta. Eu não posso pedir que ele me ame de volta depois de eu ter ido embora há tantos anos. Eu não posso pedir que ele me coloque em sua vida quando ele realmente precisa apenas cuidar de Bella. Eu não posso porque não é isso que ele precisa.

Mas então, lá estava seu nome na tela do meu celular.

“Quero retirar o nome de Adam do meu! Você pode me ajudar com isso?”

Simples assim.

Sem saudações,  sem nenhuma emoção.  Nada. Direto ao ponto. Semanas sem nenhuma interação e sua única mensagem é simples assim.

- Então você não vai ajudar? O que ele disse sobre isso? – Niall parece quase surpreso ao me perguntar.

- O que? Quem disse que eu não vou? – A minha surpresa é  maior. De onde esse loiro maluco tirou isso?

- Você disse. Não é sua área e blá-blá-blá.  – Niall quase salta da cadeira.

- Não. Não é.

- Então...

- Eu já dei entrada com processo. – digo simples. Porque é simples. E Niall explode em uma gargalhada ao mesmo tempo que o garçom coloca outra cerveja na mesa.

Ele toma um gole da bebida balançando a cabeça. Eu encaro confuso. Não tem nada engraçado que justifique esse idiota rindo igual uma hiena na minha frente.

- Cara. Você é maluco. – Ele coloca a cerveja na mesa e apoia uma mão sobre meu braço por cima da mesa. Encaro seu toque. – Você perde muito tempo na vida Harold.

- O que você quer dizer?

- Vá atrás do homem que você quer. Seja honesto com ele e com você. Daqui alguns anos nenhum de nós vai estar mas aqui nesse mundo. Ninguém vai se importar com a nossa história. Faça o que você tem que fazer.

- Eu já falei com ele Niall.

- Harry, deixa de ser imbecil. – Niall diz como se estivesse me elogiando. Meu olhos possivelmente se arregalam com sua audácia. Nenhuma surpresa em Niall me ofendendo amigavelmente. – Você falou com ele no dia que o cara foi inocentado. Harry, você consegue imaginar a confusão que estava a cabeça dele? Você consegue imaginar tudo que ele deve ter passado por todos esses anos em um relacionamento abusivo?  Como deve ter sido ser preso? Consegue imaginar as coisas que devem ter feito com ele na prisão? – Estremeço, resgatando a memória do guarda se referindo ao Louis como uma “delicinha”. – Harry,  você consegue imaginar a culpa que ele deve sentir por tudo que Isabella passou?

Isabella.

Eu ainda não consigo assimilar que uma garotinha tão doce e forte, tão meiga e determinada, possa ter sofrido tanto da maneira mais injusta possível.

- Como ela está Niall?

- Melhorando. – Mantenho meu olhar fixo em Niall esperando por mais. Ele parece entender o que quero. – Você sabe que eu não posso dizer mais. Mas Isabella é uma menina incrível. Eu acredito na força dela.

Assinto em silêncio.

Niall muda o assunto convenientemente. A noite se prolonga pela madrugada. Mais cervejas, mais risadas, mais pensamentos bagunçados.

Em algum momento me lembro que eu ao menos respondi a mensagem de Louis. Eu tinha todos seus documentos devido ao processo, e eu saltei da minha cadeira em direção ao fórum. Eu procurei por Frédéric, eu gritei com Frédéric que precisava daquilo o mais rápido possível. Eu voltei e mandei mensagem para Niall marcando uma bebida. Eu almocei com um colega de direito civil, questionando indignado o porque levaria um mês inteiro para só retirar uma porra de nome dos documentos de Louis. Eu voltei ao fórum, gritei de novo com Frédéric (graças aos céus que ele é meu amigo). Eu bebi e me lamentei com Niall. Mas eu não responde a mensagem de Louis.

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