Capítulo 17

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Assim que paro em frente a casa de Johannah, o policial da viatura que nos acompanha faz, questão de parar na janela de Louis para reforçar as restrições. Basicamente, Louis não pode ir além do jardim da casa.

Quando o policial entra na viatura e sai, noto uma certa relutância de Louis, que mal respira ao meu lado. Ele encara a residência, da uma única respirada fundo e abre a porta do carro de supetão. Controlo meu impulso de descer e acompanhá-lo, acredito que este é um momento íntimo, no entanto,  Louis caminha a passos lentos em direção a porta da casa mas logo, da meia volta, e praticamente corre até meu carro parando na minha janela.

- Harry, será que você poderia... – ele se interrompe, balança a cabeça, suspira e continua: - Não. Esquece , eu vou indo.

Ele se vira quase em câmara lenta, encarando o chão, noto seus ombros tensos e sinto sua angústia em meu próprio peito.

- Louis? – O chamo e ele me olha timidamente. – Tudo bem?

Louis solta o ar dos pulmões e volta um passo até minha janela. Ele não deixa de encarar o chão enquanto morde as cutículas.

- Estou com medo. – Ele diz quase inaudível ainda roendo os cantos de um dedo.

Não entendo a razão de meu estúpido coração parecer se quebrar com sua fala. Nenhuma palavra se passa pela minha mente e tudo que faço,  é desafivelar o cinto de segurança e abrir a porta devagar, dando a ele tempo para se afastar um pouco.

Paro em sua frente e por dois segundos nos encaramos. Me odeio por não conseguir saber o que seu olhar diz, talvez seja por eu nunca conseguir manter contato por muito tempo.

Não digo em palavras, mas faço um gesto com a cabeça para andarmos. Ele segue a um passo atrás de mim e quando toco a companhia,  saio da frente da porta para que ele seja a primeira pessoa que Johannah veja.

Assim que a mulher abre a porta, secando as mãos em um pano de prato, ela se joga contra Louis em um abraço.
Minhas pernas fraquejam quando Louis praticamente desaba, aos prantos, nos braços de Jay. Ele chora e parece soltar todo o peso de seu corpo, é notável que Johannah está o sustentando em pé. 

Penso que ele finalmente deixou sair o peso de tudo que tem passado desde a noite em que foi preso. Depois de tempo o suficiente, Charlotte aparece e se junta ao abraço,  e logo os puxa para dentro. A irmã de Louis o solta apenas para esticar o braço e me puxar pela manga do terno para dentro da casa, fechando a porta atrás de mim.

Permaneço sem graça e deslocado, mas ainda assim, meu coração pesa dentro do peito com a vulnerabilidade em que Louis se encontra.  Eu nunca o havia visto assim.

E se não fosse o bastante, uma vozinha ecoa com um grito de “papai” do alto da escada e Louis se desprende de Johannah, correndo em direção a Isabella. 

É exatamente no momento em que ambos caem no chão abraçados,  Bella enroscada no colo de Louis, que sou completamente tomado pelo desespero de não conseguir conter que algumas lágrimas escapem e rolem por minha face.

Mas que merda está acontecendo comigo?

Seco disfarçadamente meu rosto a tempo de ter Charlotte me surpreendendo com um abraço.

- Obrigada por isso Harry. – Ela diz em um suspiro.

Apenas sorrio em resposta porque temo abrir a boca e falar qualquer besteira no momento.  Respiro fundo na tentativa de acalmar minha frequência cardíaca e controlar as lágrimas até que Louis se levante com Isabella no colo. A garotinha permanece pendurada em seu pescoço e me dói imaginar todo seu sofrimento longe do pai por todo esse tempo.

- Bom, eu vou indo então. – Digo por fim vendo Johannah já se encaminhar para cozinha.

- Nem pensar. -  A mulher diz se voltando para mim. - A menos que já tenha compromisso, você é nosso convidado para o jantar hoje.

-Não sei... – Fico sem graça e mexo no cabelo sem reação.  – Eu não quero atrapalhar. 

- De forma alguma. – Jay responde com sua voz doce e maternal. – Não é filho? Harry merece estar nesse jantar para comemorar que você está em casa. – Ela busca confirmação em Louis.

- Claro. – Louis me encara. – Fica? Se você não estiver ocupado é claro.

"Fica?"

Reflito por um minuto. Esse é sem dúvida um momento em família.  Louis está há meses preso e precisa curtir sua família. No entanto,  entendo que eles me deem o mérito por sua soltura e queiram compartilhar comigo esse momento.

Eu sou apenas o advogado que conseguiu algo quase impossível.  Nada além. É só isso, eles querem expressar gratidão.

- Eu fico. - confirmo.

Quê?

Johannah e Charlotte sorriem e Louis afasta delicadamente Isabella de seu pescoço.

- Eu preciso muito tomar um banho decente, pequena. Já volto para me juntar a vocês. – Ele diz colocando Bella no chão.

- Filho, me deixaram pegar alguns pertences seus lá na casa, eu arrumei o quarto de hóspedes para você e para Bella.

Louis assente e se vai pela escada.

Charlotte me chama para acompanhá-las até a cozinha e eu sigo com as três. A mesma posta já está farta de comida e elas terminam apenas de colocar algumas louças.  Jay me pede ajuda com uma salada que está preparando e eu assumo a missão de picar alguns tomates e queijos. Enquanto tempero Bella pula alegremente de um lado para o outro tentando ajudar de toda forma.

- Nós compramos a sobremesa favorita do papai. – Ela diz para mim.

- Sério? E o que é? 

- Sorvete de flocos. Mas é uma surpresa.

- Então vamos falar baixinho para ele não escutar. – Sussurro para ela, terminando de misturar a salada e ela dá uma risadinha em resposta.

Como se fosse combinado, Louis entra na cozinha nesse instante e Bella me olha com os olhos azuis arregalados.

- Será que ele ouviu? – Ela sussurra.

- Acho que não. – Sussurro em resposta.

- O que vocês estão cochichando? – Louis se aproxima colocando Isabella em seu colo novamente. A garotinha apenas diz que não é nada com um sorriso sapeca e Louis estreita os olhos para ela mas logo cede. – Essa mesa está maravilhosa.  Nunca vi tanta comida junta.

- A vovó queria fazer tudo que você gosta.

Jay retira uma carne do forno e todos nós sentamos à mesa. Johannah faz questão de que Louis seja o primeiro a se servir e ele faz, parecendo um pouco sem graça.

Estou sentado de frente para ele e não posso deixar de reparar em como um simples banho em um chuveiro decente já fez diferença em sua feição. O cabelo molhado penteado perfeitamente, a barba feita, um conjunto de moletom vermelho e o perfume, nada passa despercebido.

Louis nunca foi do tipo que passa despercebido.

Por incrível que parece, o clima durante o jantar é leve. Ninguém fala sobre o assunto "prisão", ou "julgamento". Eles são apenas uma família feliz nesse momento.

Isabella sem dúvidas é a alegria maior da casa, a responsável por fazer todos nós rirmos o tempo todo, e eu não evito pensar em como alguém teria de ser monstruoso para machucar uma garotinha como ela.

No final, Isabella faz do momento da sobremesa um grande mistério, deixando Louis notavelmente curioso e pede minha ajuda.

Quase paraliso quando ela pede para que eu cubra os olhos de Louis com minhas mãos porque, segundo ela, ele costuma espiar quando ela pede para ele fechar os olhos.

Dou a volta na mesa parando atrás de Louis e brigando com minhas mãos que parecem travadas, cubro seus olhos enquanto Bella busca o sorvete no freezer com a ajuda de Lottie.
Minhas mãos estão extremamente frias já que meu sangue parece ter parado de circular e Louis parece notar, posso ver sua nuca arrepiada com meu toque.

Deus do céu.

Isabella faz ele “adivinhar” o que é, e isso leva alguns minutos já que Louis parece errar de propósito para entreter a filha. Eu, sem tirar minhas mãos que tapam seus olhos, acabo me divertindo com Isabella indignada que ele está errando tanto.

Já estou quase confortável posicionado atrás dele, mais perto do que gostaria e com as mãos delicadamente tapando seus olhos.

Quase.

Por fim,  Louis acaba cedendo e adivinhando a sobremesa misteriosa que a filha perguntava. Pude então tirar minhas mãos de seus olhos e comemorar com as três mulheres que ele “acertou”.
Comprovei que de fato Louis gosta muito de sorvete de flocos quando ele repetiu duas vezes.

Fiz questão de ajudar Johannah a tirar a mesa quando todos terminaram, Louis e Isabella foram para sala brincar e da cozinha eu podia ouvir as risadas dos dois.

Enquanto estávamos a sós a mulher me agradeceu novamente por estar me dedicando ao caso de Louis e conversamos um pouco sobre a terapia de Isabella. Johannah não falou nada diretamente mas tive a impressão de que estão tendo dificuldades para custear as sessões semanais. Sendo assim, pensei que eu poderia falar com Niall já que, por incrível que pareça, aquele maluco é um excelente psicólogo infantil. Eu poderia pagar pelas sessões diretamente a Niall sem que Johannah soubesse e eventualmente recusasse.
O mais importante agora é Isabella ter um bom acompanhamento e Louis não ser condenado. Essas são as prioridades.

Decido que antes de oferecer essa opção à Johannah   preciso parar de ignorar meu amigo para perguntar sua disponibilidade.

- Agora eu vou indo mesmo. Está tarde. – Digo a todos quando termino de ajudar Jay na cozinha e vamos para a sala.

- Foi um prazer você ter jantado com agente Harry. – Johannah diz e Charlotte concorda.

Isabella da um sorriso tímido acompanhado de um tchauzinho e Louis que estava sentado no chão ao seu lado se coloca de pé.

- Te levo na porta. – A voz baixa de Louis não se parece em nada com a rispidez que ele me mostrava até poucos dias atrás.

Quando ele abre a porta eu dou um passo para fora mas no exato momento em que abro a boca para me despedir, Louis impulsiona o corpo, passando os braços em volta do meu pescoço e me abraça com força.

Ele apoia o queixo na curva do meu pescoço e sinto sua respiração quente em minha pele me causando uma sensação de formigamento no local e sussurra um “obrigado”.

Fui pego de surpresa e levo segundos até entender, e então passo meus braços ao redor da sua cintura retribuindo o abraço, sentindo a curva perfeita da cintura de Louis encaixar de forma ainda mais perfeita em meus braços. Seu cheiro invadindo minhas narinas...

...pode ter durado segundos, minutos ou horas. A questão é que minha percepção de tempo foi completamente desconfigurada durante o tempo em que nossos corpos ficaram colados.

Depois de sei lá quanto tempo, Louis vai me soltando devagar e escorregando suas mãos pelos meus braços até chegar nas minhas mãos. Ele olha para nossas mãos juntas e eu faço o mesmo, até que ele começa a mexer na aliança dourada que repousa em meu anelar esquerdo. Paraliso.

Apesar de não sermos oficialmente casados, Zayn fez questão que usássemos aliança há alguns anos. Eu quase não penso muito nela devido ao costume, e com certeza nunca reparei se Louis já havia a visto em meu dedo já que ela está sempre ali.

Solto delicadamente minhas mãos das dele, sem ter ideia de como reagir e apenas me despeço e me viro de costas a caminho do carro. Dirijo sentimdo o peso de uma rocha em meu peito e tudo piora quando estaciono em frente a minha casa e vejo o carro de Zayn no portão da garagem.

Repito o gesto de Louis e giro minha aliança incontáveis vezes no dedo puxando a memória do dia em que Zayn a deu para mim. É nesse momento que me lembro da razão dela estar em meu dedo: meu marido me ama. Zayn é a pessoa certa para minha vida.

Respiro fundo e com esse pensamento. Entro em casa.

- Amor. – encontro Zayn no sofá. – Você não avisou que voltava hoje.

- Estava com seu amante Harry? Até essa hora fora. – Zayn quebra completamente a disposição que eu estava de fazer as pases, e me impeço de me aproximar mais dele. O encaro de cenho franzido.

- A vai a merda Zayn. – Desfaço o caminho que estava fazendo até ele e ele corre atrás de mim me segurando pelo braço.

- Desculpa amor. – Ele me vira e me abraça. – Você sabe, eu só tenho medo de te perder. – Zayn me dá um selinho. – Vamos esquecer isso tudo. Me conta que história foi aquela de me mandar mensagem no meio de uma reunião dizendo que bateu pensando em mim? Você não imagina como eu fiquei. – Ele diz manhoso se esfregando em meu corpo. E a história sempre se repete. Nós vamos só fingir que nada aconteceu. – Vamos subir, precisamos resolver isso.

Confiar de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora