Capítulo 24

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⚖️

Louis Tomlinson



  O silêncio é sufocante quando o juiz caminha até sua posição. Seguro minha respiração o máximo que posso e nem ao menos sei explicar como isso me ajudaria nesse momento. É apenas que, até respirar parece difícil.

  Nos pouco segundos que levam até o juiz iniciar sua fala, Harry se aproxima do meu ouvido para sussurrar que “sua camisa está me apertando”. Ele tentou esconder um sorriso pela sua própria fala, mas logo reconheci o movimento de seus lábios se repuxando. Olho breve e disfarçadamente para dentro do blazer que visto e vejo que de fato, a camisa que visto é de Harry. Na presa para colocarmos nossas roupas que se espalhavam pelo chão da pequena sala, trocamos as camisas, se Harry não mencionasse, eu nem ao menos perceberia.

  Me sinto culpado por me permitir sorrir pela troca que decorreu de um momento tão bom, apesar das circunstâncias. Mas o faço ainda assim.

  Volto minha atenção para o Juiz que lê novamente o motivo de estarmos aqui hoje. Como se qualquer um aqui pudesse esquecer. Não há mais tempo para reiterar nada que já foi dito, mudar nenhuma palavra,  tentar convencer ninguém de que eu fiz o que a maioria faria em meu lugar.

  Eu nunca me esquecerei do maldito dia em que aceitei fazer horas extras. Bella havia me pedido para iniciar nas aulas de ballet, e eu teria que comprar as roupas e a sapatilha, além de pagar a matrícula da escola de dança. Claro que se eu tivesse pedido para Adam, ele teria feito por mim, no entanto eu já havia notado que quanto mais eu pedia em prol da minha filha, mais Adam se sentia no direito de me controlar.

  No entanto, nunca me arrependi tanto de algo em minha vida. Nem mesmo o dia em que Harry me flagrou com Eleanor em meu colo, me quebrou da forma como aquela cena me quebrou: minha filhinha aterrorizada, com o rosto molhado pelas lágrimas, frágil e completamente indefesa, e aquele porco nojento com as patas sobre ela. Se o arrependimento que mencionei foi ter matado Adam? Não. Meu arrependimento foi ter deixado que um dia ele chegasse perto de Isabella.

  Eu sei que eu disse perante ao juiz e em juramento que havia me arrependimento.  Como eu mencionei antes, Harry gritas suas palavras pelas suas duas esmeraldas. Eu de fato não tinha intenção alguma de alegar arrependimento,  seria estupidez e eu sei, isso me levaria direto para o corredor da prisão que eu conheci tão bem. Mas me parecia errado dizer que me arrependo de ter defendido minha maior preciosidade,  minha filha.

  No entanto, foi no momento em que Harry me encarou, no segundo em que a pergunta me foi feita, que seus olhos me imploraram para mentir. Só dessa vez. Então pensei em Isabella,  que é a razão disso tudo,  a razão pela qual eu contei a verdade, lembrei dos seus olhinhos pidonhos assim como estavam os de Harry naquele momento. Lembrei dos seus bracinhos miúdos em volta do meu pescoço.  Eu não poderia arriscar tudo e nunca mais sentir minha pequena em meus braços. Pois, mesmo que eu saia da cadeia em alguns anos, Isabella mal se lembrará de mim, e com certeza não será mais tão pequena ao ponto de caber perfeitamente aninhada em meu colo.

  Percebo uma lágrima escapar de meus olhos pelos meus pensamentos  viajarem até Isabella, tento secá-la, mas seguida dela, outras lágrimas escorrem. Bem no instante em que o juiz nos pede para ficar de pé para que seja lido a conclusão do julgamento.

  Harry, ao se levantar me olha de soslaio, tento esconder minha face abaixando a cabeça. Meu coração se aperta em meu peito e eu me sinto indescritivelmente pequeno. Pequeno e impotente. Apenas uma brisa quase inexistente de alívio me atinge quando Harry retira do bolso de seu paletó um lenço branco e abaixa a mão para roçar levemente na minha, passando para meus dedos o tecido pequeno. 

Confiar de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora