Capítulo 11

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N/A. Eu normalmente não escrevo notas iniciais ou finais a não ser sobre avisos de temas sensíveis, mas hoje senti vontade de escrever.
Enfim, eu tenho algumas fics escritas e pouco resolvi publicar. Eu escrevo como uma "terapia" e nunca foi com intenção de publicar, mas um dia resolvi  compartilhar. Não é nada que faça sucesso e eu nem mesmo divulgo muito nas redes, mas para quem estiver lendo essa é tenha lido (ou nao) Indefeso , eu gostaria muito de agradecer e pedir que compartilhem com as larrys de plantão caso gostem.

É isso. Obrigada.

🍀


Tomei um banho quente e me enrolei nas cobertas. Se passaram minutos e meu corpo não relaxou.
Desde que Johannah e Isabella saíram daqui estou em uma agitação incontrolável.

Quando ambas terminaram a história,  meu estômago começou a dar um nó e eu quase precisei correr para o banheiro vomitar. Não consegui falar nada. Foi ridículo da minha parte mas a única coisa que eu queria dizer era pedir que elas ficassem em minha casa já que se ficassem na casa de Johannah seria questão de horas para a polícia as encontrarem.

No entanto não seria nada bem visto pelo Juiz que o advogado estivesse hospedando a família do réu em sua casa. Portanto, apenas pedi o contato de Johannah e disse que ligaria.

Me levanto e ando sem propósito pela casa. Há energia demais em meu corpo. Não consigo pensar direito. Vou até a cozinha tomar um copo d’água e ao passar pela bancada vejo meu celular tocando com o nome de meu marido na tela.

Sem chances.

Ignoro e antes que eu perceba estou calçando meus tênis e saio para correr um pouco.

Londres está sedo condenada por um temporal, como sempre, mas isso não me impede. Corro pelas ruas acelerando cada vez mais. Preciso descarregar toda essa adrenalina que corre pelas minhas veias, junto com o ódio.

Me odeio por não ter ido a fundo nesse caso. Odeio Adam de forma que desejo que ele estivesse vivo para eu mesmo matá-lo. Odeio Louis por não falar a verdade. Odeio que ele esteja disposto a passar anos preso. Odeio o pensamento de que ele está acobertando Adam e pagando com a própria liberdade. Odeio tudo nesse momento.

Odeio essa chuva que bate forte contra meu rosto devido minha velocidade. Odeio o quanto minhas panturrilhas estão queimando e o quanto minha frequência cardíaca está aumentada. Odeio que meu corpo me implorei para parar e pegar um fôlego e odeio que a minha mente me diga que é impossível parar agora.

Eu continuo correndo. Apesar da dor e da fadiga. Apesar da chuva. Acho que estou chorando mas podem ser só gotas de chuva escorrendo pelo meu rosto. Eu quero gritar com alguém.

Quando já não sei mais onde estou, consigo dar meia volta e fazer o caminho contrário, ainda correndo. Chego em casa no meio da madrugada, tomo um banho. Eu queria poder falar com Anna, mas talvez eu gritasse com ela. Então já  sei meu destino.

Não me preocupo em vestir meu terno de trabalho, me cobrindo com um conjunto de moletom e saio.

Não tenho paciência e grito com o guarda do presídio que disse que a essa hora não poderia liberar minha entrada. Grito inutilmente porque não consegui nada com isso. Minha saída é esperar no carro até que amanheça o dia e minha entrada seja autorizada.

Quando finalmente me colocam para dentro eu ainda sinto uma raiva crescente dentro de mim. Não consigo me sentar, espero em pé na sala que eu insisti para que fosse uma sala mais privada.

- A porra. De novo. – Ouço Tomlinson resmungar assim que é colocado dentro da sala.

- Senta. – Digo firme e encaro seus olhos por no máximo dois segundo. Não consigo.

Percebo ele me olhar de cima a baixo com as sobrancelhas juntas e então não reluta e faz o que mandei. Pelo menos uma vez. Permaneço em pé em sua frente. Minhas mãos estão trêmulas e meus pés não param muito tempo no mesmo lugar.

- Por que você está protegendo Adam? – Tento falar baixo mas não fui feliz nisso.

- Como? – Ele me olha confuso.

- Por que você não me contou o que aquele verme fez com Isabella? – Dessa vez já nem tento controlar o tom.

Olho para Louis, percorrendo sua face sem olhar seus olhos e o vejo repuxar os músculos. Eu nao tive tempo de conhecer a versao raivosa de louis na adolescência, mas sinto que pode ser hoje.

Ele praticamente rosna como um cão quando responde.

- Como você sabe?

- Isso é importante? – Grito e começo a andar pela sala. Minhas mãos vão para meu rosto, cabelos, param em minha cintura e voltam ao meu rosto. – Porque você não falou o que ele fez? Porque está acobertando um pedófilo nojento?

- Você não tem o direito...

- Eu tenho sim! – Não posso mais me conter. Nesse momento sou uma bomba que pode explodir a qualquer momento e eu espero mesmo que exploda. – Se você tivesse dito o que ele fez tudo estaria sendo diferente. Talvez você não estivesse aqui.

- É a minha filha Harry. – Pela primeira vez ele também eleva o tom.

- EXATAMENTE! Você deveria ter levado ela à um médico, ela passaria por exames. Comprovariam o que aconteceu, teriam interrogado ela...

- Por isso porra! - vejo quando ele bate as maos algemadas contra a mesa. - Ela já passou por muito. Não precisava de mais pessoas invadindo sua intimidade. – Ele tenta falar calmamente mas posso ver que está se controlando muito.Enquanto eu,  não consigo ficar parado e ando em volta da sala. – Eu não pude protegê-la do Adam, mas podia protegê-la de mais constrangimentos.

- Você não seria condenado. – Retruco.

- A troco de expor minha própria filha? 

- A troco de fazer justiça por ela! – Estamos os dois gritando.

- Eu fiz justiça! Eu matei o Adam. Ou você acha que ele seria preso e nunca mais sairia?

- Louis você não está entendo. Se você falar a história toda para polícia, você ainda pode mudar seu depoimento, vão investigar isso e você não será condenado.

- Eu não me arrependo Harry. Você quer que eu exponha minha filha e depois fale pro juiz que me arrependo? – Ele me olha e eu assinto ironicamente concordando com o que ele sugeriu. – Eu não me arrependo. Eu faria de novo. – Ele fala estridente, com o maxilar travado. – Eu não vou dizer que me arrependi porque eu sabia o que estava fazendo. No começo ele revidou mas eu sempre fui mais forte que ele, apenas nunca usava a força por achar que deveria ser grato ao que ele fez por nós, por mim. Mas naquele dia eu não cedi. Mesmo depois que ele desmaiou eu continuei batendo. Ele ainda respirava e ainda tinha pulso, e eu queria bater até não sobrar nada. Eu bati nele até ter certeza de que ele estava morto. Eu quis isso Harry. E eu posso passar o resto da vida preso por isso, não me importo. Mas não posso deixar que minha filha seja envolvida ainda mais.

- O que você quer dizer com nunca ter usado sua força? – Pareceu estúpido que essa frase ficou na minha cabeça e eu só foquei nela.

- O Adam destruiu a minha vida, ele me tirou tudo de bom. Mas eu não enxergava dessa forma porque na mesma medida que ele destruiu ele cuidou de mim. Mas não satisfeito em me machucar, ele resolveu machucar a Bella...a Harry...foi aí que eu senti cada osso se quebrar e cada músculo ranger sob meus punhos com o maior prazer. Eu não sou inocente Harry, a morte do Adam não foi um acidente, eu apenas deixei anos da minha vida dominarem minhas mãos naquela noite. Por isso eu não vou mudar meu testemunho.

Louis fala e fala e para mim ainda é a mesma merda. Ele vai se entregar e ser o monstro que a população vai condenar enquanto um porco como Adam vai receber a simpatia de todos.

Tudo bem que eu sou só o advogado. Essa história não é minha, o problema não é meu. Mas eu não consigo entender. Eu não espero que ele se arrependa, por pior que isso seja, eu não sei se agiria diferente de Louis nessa situação. Pensar assim deveria ser suficiente para me tirarem a carteirinha de advogado, mas a verdade é que alguns crimes são sim, piores que outros. E para mim, pedofilia está no topo da lista com certeza. E agora, Louis está simplesmente me dizendo que vai trocar sua liberdade para manter a imagem de Adam imaculada.

- Eu odeio você. – As palavras escapam da minha boca antes que eu perceba. Eu preciso sair daqui antes que eu também deixe minha raiva me controlar.

- Eu sei. – Ouço a voz baixa e sufocada de Tomlinson atrás de mim quando bato a porta e aviso o guarda do lado de fora que acabamos.

Confiar de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora