Capítulo 18

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🍀

Há duas semanas que eu tenho conseguido relaxar um pouco e resolver questões da minha vida que eu estava deixando pendente. Se isso tem alguma coisa a ver com o fato de Louis ter voltado para casa, eu nunca irei admitir.

Me resolvi com Gemma, apesar de não ter ideia de como vou ser seu padrinho, já que o que ela realmente quer é que eu seja uma espécie de dama de honra. De onde eu vou tirar tempo para provas de vestidos, prova de doces, e toda a ladainha que supostamente eu preciso acompanhar, eu não faço ideia.

Precisei falar com Niall também. Me encontrei com ele e antes dele começar o discurso eu já falei logo o que eu queria com relação a Isabella. Claro que ele ligou meu pedido as coisas que eu contei sobre Louis e o discurso foi triplicado. Foi difícil ouvir tudo que ele disse sem uma gota de álcool no organismo.
Ele disse que se colocaria no lugar de meu melhor amigo e não de psicólogo para termos aquela conversa. E aí é que 'ta: o esporro foi grande.

Niall acha que eu estou me deixando levar por sentimentos reprimidos e me acha um retardado por isso, já que tenho Zayn que, por mais que ele não se dê muito bem com meu marido (sei lá o por quê), tenho um compromisso com alguém. E também por Louis ter matado o próprio marido. Niall disse que esse é o cúmulo e que é o maior sinal para manter distância.

Pare e que ele não entendeu nada do que eu disse sobre o que Adam fez com Isabella. Obviamente eu reforcei. Não é que eu esteja defendendo as atitudes de Tomlinson, por quê não. Não. Mas porra, eu não posso dizer que eu não agiria da mesma forma. Louis não planejou a morte de Adam. Aconteceu. Na hora da raiva, em momento de fúria, adrenalina e tudo, sabe...

Não estou defendendo ele, mas nem tudo é preto no branco. Existem nuances .

Apesar disso, Niall topou atender Bella caso Johannah e Louis aceitem. E era só isso que importava. Não dei muita atenção para todo o resto que ele falou.
O momento mais desagradável nesses dias foi falar com Liam Payne. Soube que a promotoria tinha ido atrás dele para colher informações e resolvi conversar com ele também.

Liam é o único amigo que Louis tem em Londres, segundo ele mesmo. Os dois trabalhavam juntos no restaurante. Payne foi bastante simpático e colaborativo. Tomamos uma café juntos enquanto ele me contava o que sabia.
Sempre sou tomado por um desconforto enorme quando tenho que ouvir o que as pessoas próximas de Louis têm a dizer sobre Adam.

Estava tão na cara que ele era um crápula, como ninguém nunca fez nada antes?

Foi com essa mesma pergunta que terminei minha sessão de terapia da semana passada. Niall me convenceu que eu deveria falar sobre Louis com Anna, então criei coragem e falei.

Tudinho.

Estava ansioso para saber o que ela tinha para falar mas eu falei tanto que gastei toda a minha hora. E agora, com ela sentada de frente para mim enquanto eu penso em como responder sua pergunta, me arrependo um pouquinho de ter dado ouvidos a Niall.

Como me sinto sobre ele ter uma filha com Eleanor?

Repito a pergunta em minha mente. Anna me olha tão intensamente, aguardando pacientemente minha resposta que sinto que não poderia não ser sincero porque ela saberia.

- Quando eu soube eu senti raiva.

- Raiva? Como?

- Sei lá. Eu achei que ele tivesse ficado mesmo com ela. Imaginei eles rindo da minha cara enquanto eu estava sofrendo trancado na casa da minha avó.

- Você sentiu raiva por imaginar uma situação que pode ou não ter acontecido?

- Eu estava sofrendo. Muito.  – respondo indignado. De modo geral a sessão de hoje, desde o começo está me deixando irritado.

- Saber que eles ficaram apenas uma vez foi melhor?

- Foi ruim de qualquer jeito. Eu. Estava. Sofrendo. – Enfatizo. Céus. Que conversa desnecessária.

Tudo que Anna faz é apertar os lábios em uma linha fina e - que ódio - anotar algo.

- Certo. Você estava sofrendo. Olhando para atrás hoje, você gostaria de ter feito algo a respeito do seu sofrimento? Algo diferente do que fez?

Por alguns segundos pensa se entendi a pergunta. O foda de terapia é que a primeira resposta que passa pela sua mente, geralmente é a mais perigosa. Mas não pareço ter escolha já que minha boca parece trair meu cérebro o tempo todo ultimamente.

- Ele nem tentou me procurar. E hoje eu sei que ele estava ocupado demais “curtindo” a gravidez da Eleanor. – Faço as aspas com as mãos ironizando a palavra que é amarga demais.

- Ele te disse isso? Que curtiu?

- Não. Ele disse que eles mal se falavam porque desde o começo ela rejeitava a gravidez.

Percebo Anna fazendo mais anotações do que nas sessões anteriores e me pergunto o que tanto tem de interessante para anotar.

- Você disse que ele nem tentou te procurar. Mas minha pergunta foi o que você gostaria de ter feito?

Penso.

Encaro Anna. Encaro o vaso de flor na mesa ao lado. Encaro a janela. Penso. Penso.

- Eu... eu... – me perco.

- Bom. Vamos mudar de perspectiva. Você me contou que você foi embora no dia seguinte para cidade de sua avó. – Ela fala enquanto encara suas anotações  e eu apenas assinto quando ela desvia o olhar para mim. – Louis era um adolescente na época, seria complicado viajar sozinho,  mas digamos que ele tivesse ido até você,  teria sido diferente?

Reflito por tempo demais. Tanto tempo que o silêncio na sala só é quebrado pelo breve apito do relógio sinalizando o final da consulta.

Me sinto mais frustrado do que antes. Não tenho respostas, apenas mais questionamentos. Que droga.

Antes de se levantar , Anna diz:

- Harry, vocês eram muito jovens.  Adolescentes fazem besteira o tempo todo. Eu não invalido seu sofrimento,  acredito em você  quando me diz que sofreu. Mas hoje, você é um adulto perfeitamente capaz de refletir sobre tudo de forma madura. Por  isso, peço que use essa semana para pensar sobre o que o Louis representa para você hoje. Porque afinal, a vida acontece no hoje. – Ela se levanta me deixando sem palavras. – Te vejo semana que vem.

Ela sorri. Sorri. Só pode estar sorrindo da minha desgraça. Essa mulher está me nocauteando e ela sabe disso. E está sorrindo.

Nos despedimos e eu entro no meu carro com uma certeza: eu não volto aqui nunca mais.

Nem fodendo.


***


Falho miseravelmente quando tento passar os dias seguintes sem pensar no que Anna me disse.

Eu não consigo chegar a uma conclusão e ainda assim, não deixo de pensar no que Louis representa para mim hoje.
Repito centenas de vezes que ele é apenas mais um cliente, mas para isso eu não poderia admitir que desde que assumi seu caso eu devo estar ficando careca de tanto nervoso que passo.

É justamente sobre isso que estou pensando quando meu celular toca em cima da mesa do meu escritório.

- Johannah? Aconteceu alguma coisa? – Atendo preocupado e... rápido demais. Hã.

- Harry, eu queria agradecer o que está fazendo por Bella,  ela foi na primeira consulta com o psicólogo que você indicou e disse que ele é bem engraçado.

Não foi fácil convencer Louis sobre Niall. Obviamente eles não sabem da parte que eu estou pagando pelas sessões. Inventei a maior história de que meu amigo atende em uma rede pública que nem existe. Sei que estou errado em mentir mas isso era melhor do eles desistirem da terapia de Isabella por falta de condições financeiras.

- Imagina. Não me agradeça. Bella precisa de toda assistência possível no momento.
- Sim. E sobre isso... – Johannah pigarreia antes de continuar. – Harry, eu sei que já está fazendo muito por minha família,  eu não deveria pedir, mas...

A mulher faz uma longa pausa parecendo ponderar e logo sou tomado por um temor. A voz de Anna ecoa em minha mente enquanto eu penso no que todas essas emoções significam. Hoje, o que significam hoje?

- Aconteceu algo com a Bella?

- Não. É o Louis, ele... – meu senhor, se essa mulher não falar logo eu vou surtar. – sabe, acho que só agora o peso de tudo que aconteceu caiu sobre ele.

- Como assim? – Pergunto ansiosamente, ja andando em círculo pelo escritório.

- Ele mal sai do quarto nos últimos dias Harry. A Bella acaba ficando lá com ele na maior parte do tempo. Ele não tem conversado muito, tem se alimentado mal. – Johannah fala e ao mesmo tempo que sinto uma queimação incômoda no estômago, me pergunto onde ela quer chegar com essa ligação. – Eu sei que não é sua função, mas será que você poderia falar com ele?

E aí está.

É como um balde de água fria bem na minha cabeça.

Estou convencendo meu cérebro de que Louis não passa de mais um dos meus vários clientes e Johannah me pede algo que com certeza não faz parte do meu trabalho como advogado.

Embora eu queira com todas as forças dizer que infelizmente eu não posso fazer nada, embora eu queira muito dizer apenas para buscarem ajuda psicológica para Louis,  ou só dar um tempo a ele que logo ele melhora; não é nada disse que sai da minha boca quando a respondo. Maldita boca traidora.

- Posso passar aí assim que eu sair da Defensoria.

O que?

- Sério?  Nossa Harry eu nunca vou ser capaz de retribuir tudo que você está fazendo. – A voz de Johannah parece menos tensa do que há minutos atrás.

Reitero que não precisa agradecer e nos despedimos.

Mal vejo as horas passarem por me intupir de trabalho e quando menos espero, o relógio marca a hora de ir.
O caminho até a casa de Johannah parece ter a distância da Terra até a Lua e minha ansiedade só aumenta quando a mãe de Louis abre a porta.

- Ele está no quarto. – Noto a expressão abatida da mulher e nesse momento, Isabella assiste algum filme na sala.
Sorrio contido e subo as escadas assim que ela me da a direção do quarto.
Respiro fundo duas, três ou umas dez vezes e bato na porta.

- Mãe, eu já disse, não quero jantar. - A voz de Louis ecoa do lado de dentro do quarto.

Sorrio pequeno com o quanto isso parece uma cena típica de um adolescente trancado no quarto. Mas meu sorriso some assim que penso que, eu queria que os motivos dele estar trancado fossem só dramas da idade da rebeldia.

Respeito mais uma última vez.

- Graça a Deus, porque eu nem pensei mesmo em trazer comida.

Confiar de novoOnde histórias criam vida. Descubra agora