Capítulo 14

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🍀

Acho que estou doente.

Infelizmente tenho muito trabalho no escritório e não posso me dar ao luxo de faltar, por isso tenho me arrastado até aqui nos últimos dois dias.
Não tenho comido, dormido, e meu corpo dói em todas as partes. Deve ser um resfriado.

Amanhã provavelmente serão encerradas as investigações sobre o caso de Louis e o processo para o julgamento andará de vez.

Sinto náuseas só de pensar nisso. Pensar que ele vai se entregar e ser condenado por ter defendido uma criança das mãos de um estuprador nojento.

Eu odeio Louis por isso. Odeio que ele deixe Adam sair como vítima. Odeio que eu esteja nesse caso. Odeio que Eleanor seja mãe de Isabella. Me odeio por estar pensando  essas bobagens. Louis não tem mais nenhum papel em minha vida há muitos anos.

Odeio que eu tenha ignorado todas as ligações de Zayn essa manhã porque não sei lidar com nada do que está acontecendo e, para não descontar nele, tenho o evitado, até mesmo em casa.

Os investigadores conversaram com Johannah,  ela contou tudo. Conversaram com Bella que confirmou a história, assim como Charlotte. Eles querem apurar melhor os fatos mas de nada vai adiantar se Louis não confirmar a mesma história,  afinal, ele confessou o crime. Ele quem será julgado e se ele próprio negar o que aconteceu, não haverá o que fazer.

Passo as dezenas de páginas de um outro processo mas as palavras não fazem sentido nenhum em minha mente. Meu corpo pesa e tudo que eu queria era me enfiar debaixo das minhas cobertas e só acordar quando tudo isso acabar.

Parece até piada que dentre todas as cidades do mundo Louis tenha vindo para Londres e que dentre todos os advogados daqui, eu tenha sido o que teve o desprazer de ser designado ao caso dele. O quão azarado eu sou?

Ouço batidas na porta e digo para quem quer que seja entrar. Quase resmungo em frustração quando Johannah entra junto com Isabella. Tudo que eu não precisava era ver qualquer Tomlinson em minha frente.

- Olá Styles. Desculpe vir assim sem avisar mas eu preciso te pedir algo. – Johannah diz timidamente. Permaneço encarando a espera de que ela continue, mas é Bella quem fala.

- Eu quero ver meu pai.

A voz decidida da garota é como um baque em meu peito. Qual a merda do meu problema e porque eu estou tão envolvido nesse caso? É só a porra de mais um caso. Eu já defendi vários assim.

- Eu não acho que seja possível. – Respondo com cuidado para não frustrar a garotinha. – Você é criança  Bella, não permitirão sua entrada no presídio.

- Harry. Por favor. A vovó disse que logo será o julgamento e que meu papai não vai mais voltar para casa.

O olhar de Isabella me deixa apavorado. Os mesmos olhos azuis de Louis. A mesma intensidade, e ela me olha em súplica. Eu não sou capaz de negar qualquer coisa para essa garota, algo dentro de mim me dá essa certeza e isso me faz estremecer.

Balanço minha cabeça em negação repetidas vezes passo as mãos pelo cabelo tentando pensar. Eu não sei o que fazer e receio que minha única opção pode acabar com a minha carreira.

A única forma de entrar com Bella no presídio é subornando aquele mesmo guarda, e além desse dinheiro estar saindo da minha poupança - e eu sei que Zayn em algum momento vai me questionar sobre isso - eu também posso perder minha carteirinha de advogado se algum promotor ou juiz descobrir sobre isso.

Mas como eu bem disse: aparentemente eu sou incapaz de negar qualquer coisa para a filha do homem que um dia destruiu meu coração.

Coloco Johannah e Bella no meu carro e sigo para o presídio, no caminho ligo para o guarda e já combino o que vai ser. Ou seja: quanto vai ser.

Entramos por uma porta lateral e dessa vez somos conduzidos à uma sala sem paredes de vidro, Isabella não pode ser vista aqui. Johannah novamente está tremendo, creio que pela expectativa em ver seu filho, já a menina segue tranquila sentada a espera do pai.

Quando Louis entra seus olhos imediatamente vão para Isabella. Sinto um nó apertar meu estômago ao que ele deixa escapar um soluço e as lágrimas escorrem por seus olhos no mesmo instante em que Bella corre e se agarra a sua cintura.

O guarda tenta separá-los mas eu direciono um olhar furioso para ele e acredito que ele entendeu que se ele ousar interromper esse abraço eu mesmo acabo com ele.

Quando finalmente os dois se separam Louis passa por mim e o ouço sussurrar próximo ao meu ouvido:

- Eu vou matar você. – ele diz entredentes mas eu não me sinto ameaçado ou ofendido, apenas sorrio pequeno em resposta, me virando de costas para que ninguém veja.

Eu posso perder meu emprego e até estou arriscando meu casamento tirando dinheiro da conta conjunta com meu marido, mas esse abraço me faz acreditar que tudo valeria a pena.

Por Isabella,  apenas. É claro.

Sem falar nada, saio da sala e deixo os três sozinhos. Esse é um momento que dificilmente irá se repetir e não acho que eu deva estar presente. Daqui alguns meses quando Louis for condenado ele pode até receber visitas de sua mãe se aceitar, mas não de Isabella. A garotinha voltará a ver o pai apenas quando completar dezoito anos.

- Esse caso é mesmo importante para você advogado. – ouço a voz do guarda ao meu lado e o olho sem entender sua colocação. – Já é a segunda vez que você pede por alguns “privilégios ” com esse detento. Tudo porque ele é uma delicinha?

- É só mais um caso. E não fique falando sobre isso por aí. Da mesma forma que eu estou errado em te pagar, você está errado em aceitar. – digo ríspido incomodado com o atrevimento do rapaz.

- Não nega que ele é um pedaço de mal caminho né? Acho que os outros detentos só não tentaram comer ele ainda porque ele matou o próprio marido, imagina o que faria com esses bandidinhos daqui. – O guarda diz debochado.

O olho com os olhos arregalados. Indignado. Todas as palavras dele me causam um desconforto desconhecido.
Será mesmo que ninguém tentou nada com Louis? Talvez os guardas só não ficaram sabendo. Ele teria contado se tivesse acontecido.  Teria contado para alguém para pedir ajuda. Teria né?
Jesus porque estou me questionando essas coisas?

Mas eu quero acreditar que nada aconteceu. Ninguém tocou nele com más intenções.

Assim que a porta se abre e Johannah sai com Isabella, eu impulsiono meu corpo para dentro sem pensar e sem falar com elas. As vezes me assusto com a forma que tenho agido ultimamente.

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