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Eu deveria ter ido até a casa dos Tomlinsons dar a notícia. Deveria ir para instruir Louis sobre como será no dia. Deveria ir para acalmar os nervos da família para que no dia ninguém se exalte.
Deveria.No entanto, acho que ainda não sou maduro o suficiente para lidar com as consequência dos meus atos. Eu teria que primeiramente me desculpar por ter insinuado que Louis se casou por interesse, e eu ainda não estava preparado para isso.
Eu ainda não estou preparado, mas infelizmente, faltando apenas dois dias para o julgamento, eu preciso vestir minha roupa profissional e ir até meu cliente.
Penso bastante nas últimas sessões com Anna, ela acabou me atendendo duas vezes na semana nas últimas três semanas e tem sido muito esclarecedor.
É cada tapa na cara que eu levo de mim mesmo que chega a me assustar.
A verdade é que de fato eu não superei o que o Louis fez, eu apenas esperei que o tempo se encarrega-se disso mas é óbvio que ele não me deu a mínima.
Por isso decidi que hoje colocarei um ponto final nessa história. Um ponto final no “Harry e Louis” do passado e seguirei a vida com base no presente. É tudo que nós temos: o presente.
Ninguém faz nada no passado ou no futuro. Fazemos no agora.
Encerro alguns documentos, me despeço de alguns colegas de trabalho na saída da Defensoria e sigo para o meu carro. Pedi para sair um pouco mais cedo já que Johannah que convidou para jantar na casa dela para falarmos do julgamento e eu ainda preciso passar no Fórum para pegar alguns arquivos com Frédéric.
Tem um dilúvio acontecendo, o que não é novidade em Londres, e por isso, o trânsito está pior do que já é a esse horário.
Olho no relógio e vejo que tenho pouco tempo para não me atrasar. Não quero deixar a família toda com fome me esperando, então decido pegar uma rota diferente do que eu sempre uso. Desvio o caminho, é uma rota mais longe mas pelo menos está livre. Percebo como eu nunca passo por essa parte da cidade quando preciso ligar o GPS para saber quais ruas virar.
Diminuo significativamente a velocidade quando vejo um casal entrando em o hotel luxuoso do outro lado da rua. O homem anda ao lado da mulher loira com a mãos em sua lombar.
Ouço uma buzina atrás de mim mas não tenho tempo de xingar quando o carro me ultrapassa. Decido encostar.Não pode ser.
Certamente estou enxergando mal. Pego meu celular e coloco para chamar.
Chamada rejeitada.
Ligo de novo.
Alguns toques e ele atende.
Zayn está em viagem a trabalho. França. A empresa dele tem uma filial importante lá e é para lá que ele sempre vai.
Ou deveria ir.
- Harry, amor. Aconteceu algo? Estou em uma reunião importante não posso falar agora.
Zayn me atende e eu me arrependo de imediato de ter ligado. Ele deveria estar na França. Deveria estar lá a trabalho e ele não deveria estar mentindo.
E com certeza, não deveria estar saindo de dentro do hotel que acabou de entrar, para atender o telefone na escada do lado de fora.
- Harry? – Ele chama meu nome já que eu estou mudo.
Minhas mãos tremem e meus olhos enchem de lágrimas vendo, do outro lado da rua, meu marido olhando para tela do celular, provavelmente conferindo se a chamada ainda está ativa.
- Oi. E-eu só... – Não consigo falar.
Não consigo acreditar no que estou vendo. Eu quero acreditar que estou errado. Que aquele não é Zayn. Mas eu conheço meu marido há anos o suficiente para saber até o jeito que ele anda, o jeito que segura o celular, o jeito que ele mexe no dedo da aliança, que ao que parece, nesse momento não está la.
Mas percebo que não o conheço tão bem assim quando a mulher loira sai atrás dele e ele a recebe em seus braços com um sorriso que eu não vejo há muito tempo.
- Eu só queria saber se está tudo bem. Mas não quero atrapalhar sua reunião. – Consigo dizer sem engasgar enquanto olho meu marido acariciar a cintura da loira.
Eu sinto vontade de ir até lá, fazer um escândalo, gritar com Zayn até que cada pessoa dessa cidade ouça. Mas minhas pernas estão travadas no lugar. Meu coração eu já não sinto mais, assim como minhas mãos dormentes.
- Certo. Eu te ligo quando puder. – Ele desliga.
Seco assim.
Assim que ele coloca o celular no bolso da calça jeans, puxa a mulher pela cintura e a beija antes de voltarem para dentro do hotel.
Ele a beija.
Tenho um flashback enquanto permaneço paralisado dentro do carro.
De novo não.
Levo segundos, minutos, digerindo o que acabou de acontecer, mas é impressionante como todo meu corpo está dormente. Não me desespero, não me agito, nada.
Eu não vou passar por isso de novo. Eu não vou me afundar em sofrimento novamente.
Respiro fundo recuperando os movimentos da perna e o controle das mãos. Saio com o carro decidido a fazer tudo como estava planejado. Não vou me abater.
Nem percebo o caminho até o fórum e se me perguntarem sobre o que Frédéric falou comigo ao me entregar os arquivos, eu não saberei responder.
Sinto que apenas sorri e acenei.
A chuva não dá trégua quando paro em frente a casa dos Tomlinsons e já não tenho certeza de que estar aqui seja uma boa ideia. Mas toco a companhia mesmo assim.
- Entra logo querido. – Johannah me puxa as pressas para dentro. – Meu Deus você está encharcado.
Encaro minha própria roupa e me dou conta de que eles está certa. Eu ao menos tinha percebido.
As cenas acontecem como se eu estivesse assistindo um filme. Eu não ouço nada e enxergo borrões. Primeiro Charlotte pega em meus ombros e sorri, ela fala algo mas eu não escuto nada além de um zumbido.
Depois Isabella, que joga algum jogo no chão da sala ao lado de Louis.
Ele apenas me encara sem dizer nada. E Johannah que volta não sei de onde com alguns panos nas mãos e me empurra para um lavabo no andar de baixo.
É só quando estou trancado no cômodo pequeno que parece que volto ao meu corpo.
Tenho um conjunto de moletom em mãos, que logo identifico como do Louis. É o conjunto que ele usou no primeiro dia em que voltou para casa.
Sinto vontade de vomitar e assim eu faço. Meu rosto queima de vergonha esperando que ninguém tenha ouvido.
Meus pensamentos não estão em ordem e eu não consigo entender nada do que se passa em minha mente.
Eu não sinto nada e ao mesmo tempo sinto muito.
Quero correr daqui, correr para algum lugar, mas também quero me enrolar no sofá.
Consigo tirar minha roupa que realmente está pingando no chão, a torço na pia, pego a toalha que Johannah entregou junto e me seco, para em seguida vestir o conjunto de moletom.
É quente e confortável, o tamanho é exato no meu corpo, talvez por Louis ter o hábito de usar tamanhos maiores para ele.
Encontro uma pasta de dente no armário e uso para escovar os dentes com o dedo mesmo, tirando o gosto amargo do vômito da minha boca.
Me olho no espelho e vejo Zayn beijando aquela mulher. Logo a imagem se distorce e é Louis quem aparece no lugar de meu marido, e Eleanor no lugar da mulher loira.
Meu estômago revira e eu sinto que vou vomitar novamente. Respiro fundo, lavo o rosto.
Eu não vou me entregar. Não vou retroceder. Eu posso lidar com tudo isso hoje.
Saio do lavabo e sorrio ao encontrar toda a família na sala. Agradeço pelas roupas e percebo o olhar de Louis me queimar.
Antes de mais nada, Johannah intima todos para a mesa de jantar onde a comida já está servida.
- É o conjunto favorito do papai. – Isabella diz ao passar por mim.
Me movo de vagar, me concentrando para os próximos minutos quando todo meu corpo se arrepia ao que Louis para a centímetros atrás de mim sussurrando próximo a minha nuca.
- Ficou bom em você. – Ele diz e passa a minha frente seguindo para mesa.
Antes que ele se afaste, em um impulso seguro seu braço o fazendo se virar para mim. O olhar de Louis não parece com o olhar mortífero que eu estava esperando depois do que eu lhe disse no outro dia.
Percebo que é a primeira vez que consigo sustentar o olhar, o encarando por mais de cinco segundos e engulo em seco antes de dizer:
- Preciso falar com você. – digo baixo esperando que ele entenda que tem que ser em particular.
- Depois do jantar. – Responde invertendo a posição de nossos braços, soltando seu punho da minha mão e usando a dele para passar levemente o polegar sobre o dorso da minha mão.
Jantamos no mesmo clima da outra vez. Os Tomlinsons são animados, receptivos e divertidos. Por um longo tempo me esqueço de tudo enquanto percebo que Louis está bem mais solto do que a última vez que o vi. Ele brinca o tempo todo com Isabella, troca provocações com Lottie. Está sorrindo bastante hoje e isso me faz sorrir juntos em mais momentos do que eu deveria.
Johannah como sempre é extremamente acolhedora e me trata como um dos seus filhos. É somente depois da sobremesa que ela pede para Bella ir brincar na sala e podemos falar sobre o julgamento.
Explico cada passo do que acontecerá e repasso com ele os pontos fortes de seus depoimento. Reforço que não será fácil e que talvez não termine em um dia.
Os três parecem um tanto tensos durante a conversa mas ao final, Charlotte se levanta de seu lugar e caminha até Louis. Ela senta no colo dele o abraçando e diz que vai ficar tudo bem. Louis retribui com um sorriso pequeno, passa os braços ao redor da cintura da irmã e afunda o rosto no pescoço dela.
Os dois permanecem abraçados por um tempo e minha mente traiçoeira começa a atacar.
Não consigo desviar meu olhar dos dois mas logo, Louis não é mais ele. É Zayn e Lottie é só uma mulher loira. Depois é Louis de novo com a mulher loira. Zayn e Charlotte. Louis e Eleanor.
Levo as mãos até minha cabeça fechando os olhos com força. Acho que solto um resmungo e me envergonho ao que ouço Johannah perguntar se está tudo bem.
Assinto dizendo que é apenas uma dor de cabeça e preciso negar quando ela oferece um comprimido.
Volto meu olhar para os irmãos a minha frente e noto Louis me olhando com as sobrancelhas quase unidas.
- Podemos conversar? – Ele diz para mim tirando sutilmente Charlotte do seu colo.
As duas mulheres me olham em expectativa e eu apenas me levanto e o sigo sem dar nenhuma resposta.
No quarto, Louis fecha a porta e me pede para sentar na cama. Relutante, eu sento o mais longe possível dele, o que considerando a cama de solteiro, ainda é pouco.
Não entendo nada do que estou sentindo mas parece ser uma força que me faz querer estar perto dele por alguma razão.
- Você está bem? – É Louis quem começa.
- Eu queria me desculpar pelo que eu disse o outro dia. – Consigo por fim dizer.
- Tudo bem. Você não estava errado. – Ele levanta os ombros e esboça a ideia de um sorriso.
Ele realmente está diferente hoje.
- Não Louis. Eu não estava. Eu não tenho o direito de achar que sei sobre a sua vida.
- Harry. – Ele me enterrompe antes que eu termine. – O Adam sempre esteve ao meu redor. Eu devia ter percebido isso antes. – Louis se ajeita na cama e chega mais perto de mim. Não posso me afastar mais senão caio no chão, o que resulta nele próximo o suficiente e segurando minhas mãos, que ele coloca sobre seus joelhos. Abaixo a cabeça para não encará-lo e ouço ele continuar. – Ele nunca gostou muito de você, eu percebia mas ele dizia que eu estava errado. Naquele dia da festa ele me convenceu a ir porque disse que os meninos queriam me substituir como capitão.
Louis faz uma pausa, ouço sua respiração pesada mas não tenho coragem de erguer os olhos. Minhas mãos suam frio enquanto ele ainda as segura e eu posso apostar que o aquecedor da casa está funcionando no máximo de tão quente o ar está.
- Eu fui um idiota burro Harry. Eu sou um idiota burro. – Louis suspira e aumenta sutilmente o aperto em minhas mãos. Percebo que estamos tento a conversa que eu sempre esperei ter inconscientemente. – Eu não queria perder o título, não queria perder meu time, meus amigos, mas eu juro Harry, juro que nada era mais importante que você, e foi justamente você que eu perdi.
Meu coração, que eu não estava sentindo desde que vi Zayn no hotel, volta a bater descompassado. Dói. Não sei por que mas dói. Cada batida é como um soco no peito e eu torço para não vomitar bem agora de novo, já que meu estômago se retorce dentro de mim.
Tento falar algo mas abro a boca e nada sai. Louis percebe minha falha tentativa e balança a cabeça me indicando que eu não preciso falar.
- Aí ele me deu bebida, me deu droga, e eu sei que foi ele que fez os meninos me pressionarem a ficar com a Eleanor. – ergo levemente meu olhar e suspeito ter visto os olhos de Louis avermelhados. Nesse momento sou eu que tenho a atitude de entrelaçar nossos dedos. Eu não sei mais o que está acontecendo. – Eu fui um imbecil Harry, eu nunca vou me perdoar por aquele dia. E nem você deve.
Olho para ele e ele me encara de volta. Estamos tão perto que sinto o calor da pele de Louis me aquecer. Seus olhos azuis parecem a pintura mais linda e dolorida de se admirar e sua expressão está toda contorcia em pura dor.
Não duvido que meu rosto também esteja entregando toda minha agonia do momento, e isso aumenta quando ele solta uma das minhas mãos apenas para acariciar meu rosto.
O toque é sutil, gentil, E apesar de sentir as pontas dos dedos de Louis frias, é aquecedor.
Ele escorrega delicadamente o polegar por minha bochecha e para em meu queixo. Eu quero afastar, eu quero me aproximar, quero falar alguma coisa. Eu planejei falar tanta coisa. Mas parece que hoje é dia dele de falar. Eu simplesmente não tenho forças para nada.
- Você não deve me perdoar Harry, mas mesmo assim, eu passei todos esses anos desejando poder um dia te pedir perdão. – Louis ergue meu queixo com os dedos e olha fundo nos meus olhos, só percebo que estou chorando quando ele usa o polegar para limpar as lágrimas que escorrem por minhas bochechas. – Me perdoa?
- Louis eu... - Tento falar mas um soluço alto escapa pela minha garganta fazendo o choro sair sem nenhum controle. Eu não deveria estar aqui nessa situação mas nesse momento, eu já perdi tudo. – Meu marido está me traindo nesse exato momento. – Não era o que eu queria dizer mas é o que sai.
Desabo em um choro sufocante e Louis não diz nada. Ele apenas me puxa para mais perto e encosta minha cabeça em seu peito. Choro incontrolavelmente. Não sei se choro por Zayn, por Louis ou se choro por mim.
Choro ouvindo as batidas do coração de Louis que estão aceleradas dento do peito. Tento respirar e me acalmar mas sinto um peso de anos caindo por meus ombros e me afundo mais nos braços de Louis.
A essa altura eu já me esqueci do meu trabalho, da minha função aqui, me esqueci de tudo.
Louis se ajeita na cama e encosta na parede, me puxando para seu colo enquanto tudo que faço é molhar sua roupa com minhas lágrimas e soluçar. Me encolho como uma criança em seu peito e Louis me envolve em seus braços com segurança. Ficamos em silêncio, por minutos.Louis ouvindo apenas meu choro e eu ouvindo seu coração.
Aos poucos consigo me acalmar enquanto Louis acaricia meus cabelos pacientemente.
- Por que isso acontece comigo? – resmungo ainda aninhado contra o peito de Louis. – O que tem de errado comigo que não sou suficiente para ninguém?
- Não tem nada de errado com você baby. – Louis responde e em seguida deixa um beijo casto no topo da minha cabeça. Não sei o que mais me desestabiliza, o beijo ou o apelido que ele usava anos atrás. – Errados são as pessoas que machucam alguém como você.
- Desculpa falar disso com você. – Me sinto mal. Louis estava desabafando comigo sobre o passado e tudo que eu falo é sobre Zayn. Não é proposital, apenas já estava me corroendo desde o momento que descobri a infidelidade de meu companheiro. – Você estava falando de você. Eu sou um egoísta.
- Xiiiu. – Ele sussurra me abraçando com mais força. – Não se preocupe comigo.
- Eu acho que eu esperei por todos esses anos você bater na minha porta e me pedir desculpas.
- Não fala isso Harry. Você construiu uma vida ótima sem mim. E eu só tenho a Bella de bom.
- Eu vi meu marido beijando uma mulher no caminho para cá. Não acho que é uma vida ótima.
- Sinto muito. – Louis não me solta em nenhum momento.
Eu luto contra meu corpo que quer permanecer enrolado no corpo dele, repito em minha mente que Louis é meu cliente, tentando convencer meu cérebro mas a falta que o contato me faz é imediata quando eu me afasto. Enxugo o que resta de lágrimas e tento me recompor.
- É melhor eu ir. – Digo me levantando. – Eu sinto muito por tudo que você passou com Adam e... eu já te perdoei Louis.
Me viro lentamente para deixar o quarto mas Louis é rápido ao se levantar e me segurar.
- Você tem certeza?
- Que eu te perdoei? Tenho. – respondo um pouco confuso.
- Não. Que você está bem. Bem para ir embora dirigindo, bem para ficar sozinho.
- Eu acho que preciso ficar sozinho um pouco. – respondo desolado.
- Claro. – Ele concorda.
Assinto e sem saber como agir, apenas me viro e saio.
Me despeço do restante da família e dirijo para casa com os pensamentos completamente bagunçado. Ainda visto o moletom de Louis e o seu cheiro está empregnado em tudo. Minhas digitais parecem ainda sentir a textura da sua pele.
Eu nunca estive uma bagunça tão imensa quanto agora.
É quando paro em um farol, com a chuva ainda castigando Londres, que uma luz se acende na confusão da minha mente: eu nunca estive uma bagunça tão grande, mas eu também nunca estive tão tranquilo quanto a toda a bagunça. Eu posso arrumar tudo isso.
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Confiar de novo
FanfictionDepois de anos, Harry reencontra sua maior decepção adolescente. Como advogado, ele terá que assumir o caso de um antigo amor. Lidar com os sentimentos que há muito jurava não existir mais e separar passado e presente pode ser mais difícil do que pa...