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Nunca mais tive notícias de Guilherme mas eu vivia apavorada. Na rua olhava constantemente para os lados. Em qualquer lugar eu tinha a sensação de ser observada.

O pior era quando saía com as crianças. Nunca mais as deixei sózinhas em nenhuma circunstância.
A polícia não tinha novidades. Para eles Guilherme tinha fugido para qualquer outro lugar no estrangeiro mas eu não tinha tanta certeza.

6 meses depois estava embrenhada no trabalho e escuto uma notificação de mensagem no celular.

O remetente era anónimo e vi que eram várias fotos minhas, dos gémeos, da Ana com os gémeos e de mim com os gémeos. Analisei-as e cheguei à conclusão de que eram fotos de sítios e dias diferentes.

Em pânico liguei para a polícia que me pediu para passar na esquadra.

No final do expediente passei por lá e fiz a denúncia novamente com a inclusão das fotos.

Cheguei a casa e depois de verificar que estava tudo normal conversei com a Ana.

J - Ana, estou a pensar regressar a Angola. Não aguento mais viver nesta angústia de ser perseguida. O pior são os gémeos. Sinto que aqui eles não estão em segurança.

A - Minha querida eu vou apoiar qualquer decisão que tomes. Vou sentir tanto a vossa falta.

J - Vem connosco Ana! Aqui não tens ninguém. Os gémeos vão fazer 3 anos e precisam da vó Ana.

A - Vamos conversar sobre o assunto e depois decido.

Em Nova Lisboa, Rodolffo passava por umafase difícil. Perdera o seu pai recentemente devido a um AVC e a sua mãe também passava por um momento delicado com a saúde.

Começara um relacionamento com Mara havia dois meses mas não se sentia feliz

Mara era filha de um chefe do governo do estado. Menina fútil, nunca terminara a faculdade de psicologia. Não estudava nem trabalhava.

Vivia de baladas, viagens e compras.
Quando estavam juntos os temas eram sempre as possíveis compras que ela fez ou fará. Por ser filha única o pai satisfazia-lhe todas as vontades.

M - Rodolffo, vem comigo passar uma semana a Moçâmedes!

R - Estás doida? Além de ter que trabalhar , tenho que cuidar da minha mãe. Nesta fase de luto não a posso deixar só. E ainda por cima eu já gastei os meus dias de férias.

M - Ishiiii, que saco! Eu vou na mesma. De que adianta ter um namorado se ele nunca pode estar e ir comigo.

R - É que este namorado não nasceu com pai rico. Este namorado tem responsabilidades e precisa de trabalhar para se sustentar.

M - Mas o meu pai podia sustentar os dois. Era só eu pedir.

R - Olha para a minha cara e vê se está escrito "chulo". Não está pois não? E se um dia vieres a viver comigo fica ciente de que essas mesadas do teu pai acabam. Mulher minha vive com o que eu e ela possamos pagar.

M - Nem sonhes. Não vou baixar o meu estilo de vida só porque tu queres. Vou continuar sim a gastar o dinheiro do pai.

R - Pois vai lá passear para Moçâmedes, fazer compras e o que mais quizeres. O nosso relacionamento termina agora. Nunca ia dar certo. Somos duas pessoas com pensamentos bem diferentes.

M - Tu é que perdes, pobretanas. E já vou tarde.

Rodolffo sentiu-se por um lado frustrado mas por outro bem aliviado.

A verdade é que ele só entrava nestes relacionamentos para tentar esquecer aquela noite.
Não viu a cara da moça, não sabe sequer o nome, mas o cheiro do perfume e a voz dela a chorar, pedindo-lhe para parar, nunca saíram da sua cabeça, nem a imagem da foto do escapulário que entregou na boate.

O seu amigo Luís apesar das muitas sessões de fisioterapia não recuperou o movimento das pernas mas em relação à amnésia parecia que um dia ia recuperar. Por vezes lembrava de coisas aleatórias sobre a infância.

Rodolffo foi visitá-lo duas vezes e nas duas vezes notava uma mudança na fisionomia dele como que se estivesse comprometido.
Tinha sempre a seu lado um caderno onde ia anotando tudo o que se lembrava.

Hoje eu olhei o caderno e vi o meu nome, do Sérgio, da Lisa e da Juliette.

Perguntei-lhe quem eram e ele respondeu: - Não sei. Lembrei-me destes nomes mas não sei quem são.

Eu contei-lhe que eram nossos amigos nas ele só disse - não me lembro.

Não forcei pois a médica que o acompanha deu essa indicação para o deixar lembrar sózinho..

Saí dali com a Juliette no pensamento. Por onde andará. Já deve ter casado. Lembro que no dia em que nos conhecemos a nossa conexão foi muito boa, mas só lembro até dançar com ela.
O que se passou no resto da noite não me lembro. Estou como o Luis, dessa noite são só flashes.




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