━━━━ DESTINADOS A DOR
O sentimento se apossava lentamente de duas almas, impregnava-se sem pretensão. Quando estavam juntos ambos se esqueciam que assim como a água não se mistura com óleo, os Naughton's jamais poderiam se envolver com os MacHung's...
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Pedalo logo cedo de encontro a cafeteria com o melhor Matcha Latte do Canadá. Não demoro para chegar ao Colle's e encontrar as meninas.
━━ Che schifo! ━━exclama Gen, seu sotaque italiano mesclado de repúdio ao ver o suor escorrer pelo meu pescoço.
Pego um guardanapo para limpar e o descarto assim que termino.
━━ Você já pedalou do seu quarteirão até aqui? ━━ sento ao seu lado.
O quarteirão onde a burguesia de North Vancouver mora - incluindo a família de Gen, os Naughton, a família do Prefeito e alguns empresários e médicos talentosos - ficava do outro lado da cidade. Gen balança à cabeça negativamente e dá um gole em seu chá gelado.
━━ Então não me chame de nojenta.
O garçom ruivo que estava servindo no velório é funcionário desta cafeteria, e é ele que atende meu pedido. Logo seguro um copo com canudo recheado por um líquido verde com branco.
━━Esse ano vamos comemorar juntas seu aniversário Ayla? ━━Luna pergunta, ela digita com avidez em seu notebook do outro lado da mesa.
Ergo o rosto em sua direção, Gemma faz o mesmo.
━━ Não vou comemorar ━━ digo.
Como poderei festejar no mesmo dia que meu pai olhou nos meus olhos pela última vez?
━━É sério que vamos passar mais um ano te vendo chorar o dia inteiro ou pintando? ━━ indaga minha melhor amiga.
Nenhum delas sabem que o fantasma do meu pai parece tão vivo que ás vezes o sinto. Que por um deslize fico o procurando nas multidões, como se ele nunca tivesse me deixado, como se ao chegar em casa eu o encontraria no seu Studio de artes particular ou no escritório solucionando problemas das academias e da loja de equipamentos.
A garota de olhos puxados e de vestido azul de alcinha, abandona a revisão de um possível roteiro só pra me encarar.
━━ Ayla, seu pai ia querer que você...
Reviro os olhos, essas palavras sempre me frustram. Como podem saber o que meu pai queria se ele está morto?
Volto a bebericar o Matcha Latte, o amargo do líquido tenta competir com palavras ácidas que quero despejar nas meninas. Agarro o pingente do meu colar.
Luna apoia o queixo na palma da mão, pensativa.
━━ Me diz. Se você pudesse escolher uma coisa. O que seria? ━━ pergunta. Ela é mestres em mudar de assunto, e tornar as coisas mais serenas.
Arqueio uma sobrancelha, intrigada.
━━ Talvez expor minhas telas. A italiana e a asiática trocam olhares travessos, e um sorriso largo se dispersa em ambas. Arregalo os olhos, não imagino as ideias toscas que estão cogitando.
