A Queda

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A única coisa que Medea podia ouvir era o seu coração batendo.

Alto.

Frenético.

O vento soprava em seu cabelo, ao redor de seu rosto, e os carros buzinavam enquanto ela se afastava deles em meio às ruas estreitas e perpetuamente cheias do porto. Uma parte dela queria gritar com eles, mas a mulher sabia que isso não teria nenhuma utilidade. Não era como se eles a estivessem atrapalhando de qualquer forma.

Sua mente estava muito focada para ser facilmente balançada.

Enquanto suas pernas a guiavam para o caminho que percorrera há apenas algumas horas, Medea mal conseguia respirar. Ela não tinha controle sobre seu corpo ou sobre suas ações, embora estivesse ciente de todas elas. Caminhando. Estava caminhando.

Não. Ela estava acelerando.

Correndo.

Disparando.

Não havia limitações físicas para Medea naquele momento. Seu corpo ficaria bastante dolorido depois, mas ela não se importava nem um pouco. Vigor não era um problema. A resistência também não. Muito menos adrenalina.

Seu problema tinha um nome que ela conhecia muito bem.

Quando alcançou o topo da colina, Medea curvou o corpo para frente, mãos sobre os joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego e controlar os espasmos intensos em suas coxas. Suor escorria por seu pescoço e testa, e suas bochechas estavam coradas, tanto pelo esforço como pela raiva. Seus olhos se concentraram nos envelopes brancos e amarelos.

Medea enxergava vermelho.

Como não suspeitara?

Mas ela o fizera. Algo dentro dela havia dado-lhe indícios de que algo não estava certo, e ainda assim ela o tomara como sendo mais um pensamento estranho de sua mente paranoica porque ela era idiota. Estúpida. Nada além de uma vadia burra. Isso era o que ela era.

Uma garotinha tola com pequenos objetivos tolos.

Suas pernas estavam trêmulas enquanto se dirigia à casa de Gon.

A porta de madeira se abriu com um estrondo e assim que ela se chocou contra a parede bege, Medea entrou com passos ágeis e pesados sem se importar em fechá-la novamente. Em vez disso, ela se sentou em uma das poltronas, olhando confortavelmente para a janela.

Calma. Fique calma. Não perca o controle, disse a si mesma, embora cada centímetro de seu ser estivesse implorando para gritar, surtar e esmurrar alguma coisa. Alguém.

Não demorou muito para aparecer uma figura esbelta, descendo apressadamente as escadas e olhando ao redor da sala de estar para descobrir a fonte do barulho.

Medea estalou os dedos, ainda olhando para o céu azul-acinzentado do lado de fora.

Ele suspirou e se aproximou.

— Dhea? Você está bem?

— Estou. — sussurrou, mas, por dentro, ela estava fervendo com raiva.

— Por que você está toda suada e vermelha? — seus dedos foram em direção aos fios de cabelo que caíam do rabo de cavalo sobre o rosto de Medea, colocando-os atrás da orelha dela com carinho.

Ela respirou fundo, finalmente trocando olhares com ele.

— Onde estão todos os outros?

— Uh, bem, Mito, Alluka, Gon e Killua ainda estão fazendo compras — disse-lhe Kurapika, —, Leorio está assistindo a uma nova novela pelo celular, e Kite está tirando uma soneca. — ele olhou fixamente para ela e arqueou uma sobrancelha. — De quem é esse casaco?

As Crônicas da Serpente - CataclismoOnde histórias criam vida. Descubra agora