Propostas e Apostas

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Medea queria se matar. Literalmente. Ela não suportava mais uma hora do que quer que estivesse acontecendo. Presa entre as terríveis habilidades de condução de Illumi e as estranhas canções de Hisoka, ela só conseguia pensar em como ela acidentalmente enfurecera alguma divindade para estar nesta situação.

À medida que as horas passavam, ela se tornara apática. A agulha de Illumi a impediu de realizar qualquer movimento, então não havia escapatória.

O caminho escuro era uma visão monótona e sem vida. Para alguém que havia passado pelo menos duas horas sendo jogada de um lado para o outro pelos movimentos bruscos do carro, olhar para frente a fazia sentir que ela vomitaria suas entranhas a qualquer momento. Ela também estava cansada. Tão, tão cansada. Seu corpo inteiro parecia muito pesado. A única coisa que ela queria fazer era deitar e dormir, mas havia dois problemas: um, ela não confiava naqueles dois juntos perto de si, e dois, ela era, no sentido mais literal da palavra, incapaz de fazer isso.

Mas ao menos ela não estava mais pensando em Kurapika nem na Ordem.

Ela suspirou.

Agora estou. Excelente.

O peso dos olhos negros que a analisavam através do espelho retrovisor a incomodava, mas ela fez o melhor para ignorá-lo. Se era porque ela não estava com disposição para lidar com seu sequestrador ou porque se sentia mal, não tinha certeza.

Para sua surpresa, Illumi soltou o volante enquanto se virava para ela, com o rosto calmo como sempre.

— Mas que porra, Illumi?! — Hisoka gritou, agarrando o volante antes que o carro se desviasse da estrada e entrasse na vegetação.

— O quê?

— Você está louco? Não faz isso!

Suas sobrancelhas se sulcaram enquanto ele estendia uma mão na direção de Medea.

— Por quê? Você pegou o volante, não pegou? — a mulher suspirou quando as costas da mão dele tocaram sua testa. Era quase como se ele tivesse sido mergulhado nas águas geladas dos mares do norte —terrível e insuportavelmente frio. Ele apalpou o lado do pescoço dela e seus músculos enrijeceram. Ela tremia, desconfortável com a sensação. — Isto não é bom. — Suspirou Illumi.

— Sim, mas você poderia ter me avisado! — ele insistiu. — Isso não foi o que combinamos!

— Eu não estava tentando matá-lo — o assassino retorquiu. Seus dedos passaram pela artéria dela até que chegaram à minúscula agulha na base de sua nuca e a retiraram lentamente. Medea grunhiu. Ela podia sentir sua pele lutando para se livrar do objeto estranho e, o mais importante, da aura dele. — E você — disse a ela com firmeza, dando um tapa para afastar a mão de Hisoka do volante —, tente não se mover ou se sentirá pior.

Vurpek. — Murmurou Medea, língua pesada e áspera após tanto tempo em silêncio.

— Hã?

Idy na bliedoer.

— Eu acho que você a quebrou, Illu.

— Vá se foder — ela traduziu, voz um pouco rouca. — Seu pedaço de merda padokeano. Vou enfiar meus saltos tão fundo no seu cu que você vai tossir glitter até o próximo mês!

— Deixa para lá, ela está bem. — Hisoka riu.

— E vá se foder você também!

— Não me ameace que eu gamo, pombinha — provocou, encarando Illumi, que nem sequer o olhou de relance.

As Crônicas da Serpente - CataclismoOnde histórias criam vida. Descubra agora