Medea não sabia onde Kaiyou havia ancorado, mas isso não fazia diferença.
A viagem fora longa, ela estimava que pouco mais de dois dias haviam se passado desde que ela partira da Ilha da Baleia — e desde que ela desligara seu telefone. Durante todo esse tempo, ela tentou ignorar a sensação amarga que ficara consigo. Obviamente, ela falhara. Nada havia conseguido fazê-la esquecer sobre a traição de Kurapika ou seus comentários a respeito da Ordem. Para falar a verdade, seu estado de espírito só ficava pior com o passar do tempo.
Tudo o que queria fazer agora era encontrar um bar e afogar as mágoas em qualquer bebida frutada, ou talvez algo ainda mais forte. Vomitar. Encontrar um cara atraente aleatório. Fodê-lo. Ela ainda não estava totalmente segura da ordem que deveria seguir.
O que tinha certeza, porém, era que ela queria se arruinar. Todos faziam isso com ela de qualquer maneira, era justo que ela ao menos tivesse a oportunidade de escolher aquilo.
O sol desaparecera no horizonte há algumas horas. A escuridão se tornava cada vez mais densa naquela cidade tumultuada, fazendo-a agarrar-se à sua bolsa enquanto passava por uma rua vazia. Talvez estar sozinha à noite em um lugar desconhecido não fosse seguro nem sábio. Na verdade, era loucura. Medea sabia que deveria estar procurando uma pousada para ficar, mas com a necessidade de se embebedar crescendo dentro dela como nunca, a melhor opção era se preocupar com isso mais tarde.
Dissociar-se de si mesma era mais urgente do que seu bem-estar físico.
Virando a esquina do quarteirão, ela suspirou em alívio quando uma avenida aglomerada apareceu à sua frente. Era a atmosfera perfeita para passar despercebida pelos outros e, com sorte, não ser assaltada. Medea nem conseguia imaginar quão gravemente ferido ficaria quem quer que cruzasse seu caminho esta noite.
As luzes das lojas e os outdoors eram cegantes, especialmente para alguém que não dormira há mais de um dia e passara por um momento extremamente emocional. Ela estava física e mentalmente exausta. Sua cabeça doía, mas ela a ignorava. Seus olhos queimaram e ela os estreitou para diminuir o desconforto enquanto lutava para encontrar um bar entre tantos restaurantes de fast-food.
Dois quarteirões depois, quando ela estava quase desistindo e indo para o mercado mais próximo, quando um pequeno sinal amarelado apareceu. Um bar. Não demorou muito para que ela se apressasse a chegar.
O estabelecimento era mal iluminado e fedia a urina, sexo e cigarros, uma combinação que definitivamente não agradou seu estômago. Medea deu uma risada seca. Era hilário que mesmo mal tendo chegado lá, a vontade de vomitar já se fazia presente.
Tudo indo conforme o planejado.
Ela sentou-se em um banco alto em frente a uma jukebox e colocou a bolsa no colo enquanto amarrava o cabelo em um rabo de cavalo. Caminhar por tanto tempo deixara seu corpo quente.
O barman se aproximou e inclinou a cabeça em uma demanda silenciosa, a boca ocupada mantendo um palito entre os dentes.
— Tequila, por favor — passando as mãos sobre seu rosto, ela suspirou.
Medea não tinha o hábito de beber. Na verdade, era algo reservado apenas para festas.
A bebida levava a uma dispersão momentânea, o que era o mesmo que uma falta de autocontrole emocional — e se havia algo que Medea odiava, era não ter controle sobre algo, especialmente ela mesma. Era algo que só pessoas estúpidas faziam. No entanto, na situação em que ela se encontrava, não havia nenhum adjetivo para descrevê-la, a não ser esse.
Confiar num estranho fora estúpido. Permitir que se tornasse parte de sua vida de repente também fora estúpido. Mas, talvez, esperar que sua vida finalmente pudesse ser normal tivesse sido o pior de tudo. Como ela poderia ter esperado resultados diferentes? As pessoas sempre a usaram para cumprir seus planos de qualquer maneira — Araeso, Lasym, Enoull, a lista parecia crescer a cada dia.
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As Crônicas da Serpente - Cataclismo
FanfictionMedea Lanfort simplesmente ama ser uma Hunter Marítima - e como não poderia? Ela tem dinheiro, é respeitada, e tem uma carreira brilhante que passou a última década construindo. Sua vida é perfeita. Quer dizer, até ela se tornar o alvo da obsessão d...