Ashley Bianchi é uma terapeuta do sono que está lidando com a perda de seu pai. Após sua morte, ela ficou com uma terrível insônia. Ela tenta ajudar seus pacientes da melhor maneira possível, enquanto mantém uma vida normal. Mas será que ela consegu...
Depois do banho, levo o café da manhã para o escritório, pronta para começar a registrar cada sombra, sentimento e experiência que passei. Quando coloco tudo no papel e finalmente leio, largo o livro na mesa, tremendo. Dante mascarado vermelho deve fazer parte do próprio Dante.
Eu pensei que isso fosse uma possibilidade, mas não queria acreditar. Lembro-me de tocar em Dante e sentir algo tentando se aproximar de mim. Ele realmente matou sua própria sombra ou eu? As palavras que ele gritou para mim enchem minha cabeça novamente e eu enterro meu rosto em meus braços tentando empurrá-lo para fora da minha cabeça.
-- É realmente assim que você se sente? - pergunto ao escritório vazio.
Claro que nunca recebo uma resposta. Mais uma vez tento encontrar uma distração para tudo que passei. Desta vez é meu laptop, tenho que verificar o trabalho. Como esperado, houve uma carta oficial de demissão do médico-chefe do consultório. Derrotada, fecho o laptop e afundo a cabeça na mesa. Por que eles iriam querer continuar comigo quando outra coisa consumiu minha vida tão plenamente?
Porra, eu nunca fui demitida antes. Na semana seguinte deixei passar, fiquei entorpecida com tudo o que aconteceu. O sono me escapou, os círculos sob meus olhos agora pareciam maquiagem adicional para combinar com minhas mãos. Meu peito dói por Dante, mas me recuso a ceder. Há tanta coisa que preciso processar que começo a me sentir sobrecarregada. Antes que eu derreta, entro no carro e dirijo, para onde ainda não decidi.
O som das gaivotas enche o carro enquanto fico sentado no estacionamento observando as ondas quebrando na praia. Finalmente, depois de pensar um pouco, pego minha jaqueta do banco de trás e começo a caminhar em direção à areia. Estranhamente não há ninguém por perto, nem mesmo outro carro no estacionamento. As marés tinham subido bastante na praia e sentei-me na areia seca, a água não muito longe dos dedos dos pés. As palavras de Dante começam a vir à tona a partir daquele momento na praia. Sua mão segurando a minha sob a areia.
Tudo virou de cabeça para baixo, tudo que sei agora, questiono. Nem tudo necessariamente de uma forma ruim, parece mais um despertar. Embora o fluxo de informações e realizações seja suficiente para fazer minha cabeça girar. Ainda assim, consegui passar. Mesmo depois de superar o que aconteceu naquela casa e na floresta, devo eliminar essas sombras de mim.
Se não o fizer, quem sabe o quanto as coisas podem piorar. Papai começa a preencher minha mente, seu sorriso, aquele cabelo desgrenhado e grisalho. É uma pena não termos compartilhado essa experiência, talvez pudéssemos ter salvado um ao outro. Puxando minha mão debaixo da areia, vejo-a cair das pontas dos dedos enegrecidos. O sol se pôs abaixo do horizonte, me lembrando que estou realmente de volta, sem paisagens ou reinos de sonhos estranhos.
Pouco antes de chegar ao carro, sinto algo tomar conta do meu corpo. Eu bati meus joelhos na frente do meu carro sabendo que Sleep deveria estar aqui para se mostrar.
-- Você deveria estar expurgando essas sombras, Ashley, você não é um recipiente para ficar sentada e não fazer nada. Você é inútil para mim nesse caso.
-- Senhor eu
-- Não quero explicações nem desculpas! Faça o que se espera de você! Chega dessa bobagem!
O peso da presença do Sono se dissipa e eu recupero o controle do meu corpo. Além da morte ou de outras circunstâncias, Sleep é alguém que também pode tirar Dante de mim. Ele não se importa com sentimentos sentimentais, especialmente sentimentos que interferem no seu propósito
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