Capítulo 2

460 39 2
                                    

Por cima do constante ronco de uma delegacia de polícia em uma noite de sexta-feira de verão, Yoongi escutou a voz do pai, tão claramente quanto se ele estivesse diante dele. Olhou ansiosamente para a porta.

- Nem consigo expressar quanto estou agradecido. Sinto muito pelo incômodo - ouviu. O tom da voz do seu pai era um que ele conhecia muito bem: humilhado. Por ele. Escutou outra voz masculina que não conseguiu identificar, e em seguida o pai de novo: - Sim, estamos tomando providências, e eu agradeço seu conselho. Nós vamos discutir isso e tomar uma decisão amanhã.

Decisão? Que tipo de decisão?

Em seguida a porta se abriu, e seus olhos de cor cinza encontraram os azuis cansados do pai. Sentiu o coração apertar um pouco no peito. Amarrotado e com a barba por fazer, parecia mais velho. E muito cansado.

Ele entregou alguns papéis à policial, que mal os olhou antes de acrescentá-los à pilha. Ele mexeu numa gaveta e retirou de lá um envelope contendo as coisas de Yoongi, e o empurrou sobre a mesa para o pai dele. Sem olhar para nenhum dos dois, disse mecanicamente:

- Você está solto, aos cuidados do seu pai. Pode ir.

Yoongi se levantou, duro, e seguiu o pai pelos corredores estreitos e iluminados até a porta da frente.

Quando estavam lá fora, sob o ar fresco de verão, ele respirou fundo. O alívio por estar fora da delegacia se misturou à ansiedade por causa da expressão do pai. Caminharam em silêncio para o carro.

Do outro lado da rua, ele destrancou a porta do Ford preto, que deu o seu apito de boas-vindas incongruentemente alegre. Quando ligou o motor, Yoongi virou-se para ele ansioso, com os olhos cheios de explicações.

- Pai...

Ele olhou para a frente, com a mandíbula tensa.

- Yoongi. Não.

- Não o quê?

- Não fala. Só... senta aí.

Depois disso o caminho foi silencioso. E ao chegarem em casa, seu pai saltou do carro sem uma palavra. Yoongi foi desajeitado atrás dele, a sensação de nervoso na boca do estômago aumentando.

Ele não parecia irritado. Parecia... vazio.

Yoongi subiu as escadas e atravessou o corredor, passou pelo quarto vazio do irmão. Na segurança do próprio aposento, examinou-se no espelho. Os cabelos tingidos de ruivo estavam emaranhados, tinta preta manchava a têmpora esquerda. Cheirava a suor rançoso e medo.

- Bom - disse para o próprio reflexo -, talvez pudesse ter sido pior.

Quando acordou na manhã seguinte, já era quase meio-dia. Saindo de baixo da coberta, vestiu jeans e uma camiseta branca. Em seguida, abriu cuidadosamente a porta.

Silêncio.

Desceu na ponta dos pés para a cozinha, onde a luz do sol entrava através das janelas grandes, iluminando as bancadas de madeira. Tinham deixado para ele pão e manteiga, que derretia no calor. Havia uma xícara perto do bule, com um sachê de chá dentro.

Apesar de tudo, estava com muita fome. Cortou um pedaço de pão e o colocou na torradeira. Ligou o rádio para preencher o silêncio, mas, passado um instante, o desligou.

Comeu rapidamente, folheando as páginas do jornal da véspera, sem prestar muita atenção. Só quando acabou foi que notou o bilhete perto da porta da cozinha.

Y-

Volto à tarde. NÃO saia de casa.

-M

Instintivamente, alcançou o telefone para ligar para Mark, mas o aparelho não estava no lugar de sempre, perto da geladeira.

Night school - YoonKookOnde histórias criam vida. Descubra agora