Capítulo 10

186 28 23
                                    

O sol refletia no cabelo louro e brilhante de Jo enquanto ela corria pelo gramado, e Yoongi hesitou um mero segundo antes de ir atrás dela. Enquanto seus pés o levavam rapidamente pela grama, ele sentia uma onda de empolgação tão poderosa que riu alto ao alcançar Jo alguns segundos depois.

— Anda! — gritou ao passar por ela.

Contudo, assim que entraram na mata, o céu azul desapareceu e com ele a luz. Nas sombras, desaceleraram para um ritmo de caminhada e parte da coragem de Yoongi o abandonou.

— É sempre tão escuro aqui — observou.

Jo não parecia preocupada.

— Florestas são assim. Vocês pessoas da cidade não entendem o campo. Só tem uma coisa a se fazer numa floresta assustadora — disse. Deu um empurrão leve e brincalhão em Yoongi. — Correr.

Jo corria à frente pela trilha com Yoongi logo atrás. As samambaias que alinhavam o caminho esbarravam suavemente contra os calcanhares deles. Suas risadas ecoavam das árvores, com um som oco. Mas Yoongi ainda estava inquieto. Todos os sons da floresta — vento soprando por entre as árvores, o pio de um pássaro, um galho estalando embaixo do seu pé — faziam seus nervos fraquejarem.

Pensando melhor agora, aquela não parecia uma boa ideia.

— Talvez a gente devesse voltar — disse ele, depois de um tempo. — A gente pode só jogar algum jogo, alguma coisa assim. Ver o que os outros estão fazendo.

Jo não olhou para trás ao responder de forma reconfortante.

— A gente já tá quase chegando.

Então por que estou tão preocupado?

Alguns minutos depois, no entanto, Jo se virou para ele e sorriu.

— Viu? Já chegamos.

O muro da igreja estava bem à frente, e no pátio havia menos árvores e mais luz. Assim que entrou na clareira, Yoongi se sentiu melhor, mas Jo já estava na porta, pondo as duas mãos no anel de ferro para levantar a tranca, e em seguida empurrando-a com o ombro. A porta abriu com um rugido, e eles entraram. Na capela, o brilho desbotado do sol era filtrado por vitrais amarelos e vermelhos em cacos de luz colorida. Apesar do frio natural do piso de pedra e das paredes, o local parecia aquecido.

Parado na entrada, Yoongi não conseguia acreditar no que estava vendo.

— Cacete — sussurrou.

Jo o estudou com um olhar experiente.

— Legal, não é?

Yoongi foi na ponta dos pés até o meio da capela e girou lentamente em círculo. As paredes estavam cobertas de pinturas. Algumas eram palavras — a maioria, obviamente poemas –, outras eram imagens. A tinta tinha desbotado para um vermelho-ferrugem, amarelo-marfim e preto acinzentado, mas era clara, e era fácil imaginar quão brilhante tinha sido um dia.

— Essa aqui me dá arrepios — confessou Jo, indo até o fundo da capela, onde uma pintura de traços simples retratava um diabo com o tridente espetando almas nuas e sofredoras em uma série de sinas terríveis, com a ajuda de alegres demônios de aparência troglodita.

Yoongi franziu o nariz.

— Eeeca.

— Exatamente. Essa é melhor — falou Jo ao apontar para uma pintura próxima de uma árvore nodosa cheia de frutos e pássaros. As raízes se enrolavam formando as palavras “árvore da vida”.

Ao redor das imagens pintadas, havia palavras em línguas arcaicas. Yoongi examinou as letras cirílicas de uma delas.

— Você entende alguma coisa? — perguntou ele a Jo.

Night school - YoonKookOnde histórias criam vida. Descubra agora