Capítulo 3

414 29 1
                                    

A viagem de carro foi uma tortura. Normalmente Yoongi ficaria feliz em sair da cidade em um dia ensolarado de verão, mas enquanto as ruas lotadas de Londres davam lugar a campos verdes marcados por ovelhas brancas cochilando no calor, ele sentiu uma onda de solidão. A atmosfera no carro não ajudou. Os pais mal tomaram conhecimento de sua presença. A mãe estava com o mapa e ocasionalmente apontava o caminho.

Encolhido no banco de trás, Yoongi encarou rancoroso as cabeças deles. Por que não podiam comprar um GPS como todo mundo?

Já tinha feito essa pergunta a eles diversas vezes, mas o pai só dizia que eram felizes sendo “luditas” e que “todo mundo deveria saber ler um mapa”.

Que se dane.

Sem acesso ao mapa, Yoongi ficou tentando entender exatamente para onde estava indo.

Não tinham dito onde era a escola, e os nomes das cidades passavam por ele (Guilford, Camberley, Farnham...). Em seguida deixaram as estradas principais em direção ao norte e começaram a percorrer caminhos curvos subindo e descendo colinas em pistas minúsculas ladeadas por cercas vivas altas que bloqueavam qualquer visibilidade. Atravessaram vilas (Crondall, Dippenhall, Frensham...). Finalmente, após duas horas, viraram em uma pista de terra estreita. O pai diminuiu bastante a velocidade. A estrada passava por uma floresta espessa onde era mais frio e quieto. Após alguns minutos de impactos e solavancos enquanto ele desviava para evitar buracos fundos na estrada, chegaram a um portão alto de ferro.

Pararam. O ronco do motor do carro era o único ruído.

Por um longo minuto nada aconteceu.

— Precisa buzinar, apertar uma campainha ou algo assim? — sussurrou Yoongi, tomando ciência da grade preta ameaçadora, que se estendia pelas árvores, até onde ele podia enxergar.

— Não — disse o pai, sua voz também soava sussurrante. — Devem ter circuito fechado de TV ou algo assim. Sabem quando alguém chega. Da última vez esperamos só...

Os portões estremeceram e em seguida, com um ruído metálico estalado, se abriram. Lá dentro a floresta continuava, e o sol mal penetrava através dos galhos espessos.

Yoongi olhou fixamente para as sombras à frente.

Bem-vindo ao seu novo colégio, Yoongi. Bem-vindo à sua nova vida.

Enquanto os portões se abriam, ele contou as batidas do coração. Boom-boom-boom... Treze batidas e pôde ver a estrada diante dele. Agora seu coração estava tão alto que Yoongi verificou furtivamente se os pais tinham notado. Eles estavam aguardando pacientemente. O pai tamborilava os dedos no volante.

Vinte e cinco batidas e os portões se fecharam com um tremor.

O pai passou a primeira marcha.

Estavam avançando.

Sentindo a garganta fechando, Yoongi se concentrou em respirar. Não queria ter outro ataque de pânico agora de jeito nenhum. Mas não conseguia afastar uma sensação opressora de pavor.

Para de pirar, disse a si mesmo. É só mais uma escola, Yoongi. Mantenha o foco.

Funcionou; a respiração acalmou um pouco.

O pai conduziu o carro por uma estrada de cascalho que passava pelas árvores espessas. Depois da estrada esburacada de terra até chegar ao portão, esta era tão lisa e bem conservada que o carro parecia flutuar.

Yoongi continuou contando as batidas do coração; ao longo de 123 delas, nada além de árvores e sombras; e então um rufar de tambores coronário quando eles saíram para a luz e ele viu uma construção à frente.

Night school - YoonKookOnde histórias criam vida. Descubra agora