Prólogo

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– Você pode tirar uma foto minha, por favor? – Ela me entregou o celular antes que eu aceitasse o pedido. – Eu preciso que você me centralize na grade do meio. Abaixa o celular e dá uma inclinada, não pega tanto o chão. E pode ir apertando pra tirar foto sem parar enquanto eu vou me mexendo.

– Bem específica.

– Desculpa, ossos do ofício. – Julia deu de ombros.

– Não tem problema. – Eu sorri para ela. – Me diz quando começar.

Nós estávamos no meio da primavera italiana. A temperatura era agradável. Julia estava vestindo short jeans, camiseta preta e um quimono com estampa floral. Não haviam muitas ocasiões em que ela podia vestir aquela roupa em Londres, com certeza.

– Você quer que eu tire uma foto sua com a sua esposa? – Um senhor com sotaque pesado se aproximou de nós.

– Não somos...

– Claro! – Eu abri o maior sorriso para o homem e me juntei à mulher na minha frente.

Passei um dos meus braços pelas suas costas enquanto a minha mão agarrava a lateral do seu corpo. Ela me observou em silêncio, meu sorriso aumentando seriamente enquanto Julia não se localizava naquele espaço e tempo. Levou uns segundos até conseguir responder e sorrir também. O senhor nos devolveu o celular pouco tempo depois.

– Tirei algumas fotos, espero que estejam todas boa.

– Muito obrigado. – Eu fui mais rápido que ela em agradecer.

Julia esperou, ainda em silêncio, até que nosso ajudante saísse de perto.

– Não somos casados. – Ela terminou a frase em um sussurro. – Eu não estou bêbada o suficiente ainda pra deixar você fingir que sim.

– Depois do tanto de vinhos que nós provamos até aqui só hoje, nós estamos bêbados o suficiente pra muita coisa.

– Onde meu irmão foi com a Isabel?

– Juli, tem algo que eu queria falar com você.

– Eles devem ter acelerado o ritmo. – Ela olhou para o caminho à nossa frente como se não fosse ficar óbvio que estava fugindo do assunto, os túneis da adega conhecida como a mais linda do mundo ladeados por barris muito maiores que nós dois. – Se a gente apertar o passo, é possível que...

– Juli? – Eu peguei delicadamente no seu braço.

– Ontem foi um grande mal entendido. – Ela disse sem pensar duas vezes, checando as novas fotos no seu celular. – Uma breve confusão. Foi isso.

– Você ao menos consegue olhar nos meus olhos enquanto diz isso?

– Não. – Confessou.

– Eu não quero ignorar o que aconteceu ontem. Na verdade...

– Por favor. – Finalmente, ela levantou o olhar até o meu. – Não podemos simplesmente culpar o vinho ou qualquer coisa assim?

– É o que você quer?

Dava para ver um certo toque de tristeza em seu olhar. Eu odiei a sensação.

– Nós não podemos ficar juntos. Eu não suportaria que você quebrasse o meu coração. Ainda mais depois de ontem à noite.

– Então você sente por mim o mesmo que eu sinto por você. – Eu concluí.

– Descobri ontem que sim, e sinceramente? Eu nunca estive tão assustada na minha vida.

No momento em que Julia me deu as costas, eu decidi que ela seria minha. Eu não tinha mais que conquista-la, pelo visto. Os olhares que nós dois trocamos na noite anterior, dançando nos braços um do outro ao som de uma banda qualquer no restaurante onde estávamos, diziam tudo o que eu precisava saber. Julia me queria tanto quanto eu a queria. O que mais um homem podia pedir?

Eu ia provar que ela estava errada, que eu não quebraria o seu coração, nem que fosse a última coisa que eu fizesse na minha vida. 

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